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O amigo que tem um primo, que tem um tio, que desenrasca umas vacinas

Fulmínio Serafim das Neves

No teu último e-mail falas da caça ao violador do confinamento, uma modalidade desportiva em que, como diria o Presidente Marcelo, já somos os melhores do mundo.
Eu também andava a seguir esse campeonato que saltou das redes sociais para as primeiras páginas dos jornais de referência dada a importância informativa relevante que representava. Andava, mas já não ando.
Essa variante atlética, digamos assim, foi ofuscada por uma outra que também disputa a classificação de olímpica, que é a caça ao penetra da vacinação. Aquele que, graças a um amigo que tem um primo que tem um tio que está bem colocado, conseguiu ser vacinado contra a Covid-19, antes de qualquer prioritário, fosse ele profissional de saúde ou velhinho internado em lar.
A avaliar pelas notícias, já somos campeões europeus de vacinação por cunha e isso não me surpreende porque muito antes da vacina já tínhamos cunhado um palmarés invejável na história da pátria e produzido um número imbatível de praticantes.
Quem é o bom português que nunca meteu uma cunha para um emprego; para furar uma lista de espera de uma consulta ou cirurgia; para ser chamado à selecção; para conseguir um bom negócio; para conseguir a aprovação de uma projecto na câmara, etc, etc? Não era agora com o raio da vacina contra a Covid-19 que iríamos quebrar tão linda tradição, pois não?!
Como também somos muito bons no Euromilhões, chegam-me notícias de alguns jackpots vacineiros. Um dos mais badalados foi o do pessoal de uma pastelaria do Porto, que viu entrar porta dentro uma equipa de vacinação, com vacinas a cinco minutos de perderem a validade. Aquilo foi a eito. Foram todos vacinados. Funcionários, clientes e, muito provavelmente, até pastéis de nata e bolas de Berlim. Não se desperdiçou um mililitro do tão precioso líquido da Pfizer.
Eu agora, quando calha ter de ir à rua, ando sempre atento, não me vá sair ao caminho alguém com uma seringa na mão, para me vacinar. É um olho no passeio para não pisar nenhum presente de cão, que são cada vez mais e maiores e o outro atento a movimentações suspeitas de equipas de vacinação antiCovid-19. Eu quero ser vacinado, mas sem ter uma fotografia minha, com ar de criminoso, escarrapachada em todas as redes sociais e jornais de referência, com uma setinha a apontar para o local da picada no braço e uma legenda a dizer: Foi aqui!!!
Serafim, as câmaras municipais só estão autorizadas a fazer reuniões pela Internet até ao final de Junho. Eu sei que há possibilidade de o prazo vir a ser alargado, mas se isso não acontecer vai ser uma tristeza, pelo menos para mim. Logo agora que estou viciado.
Não sei se te disse mas até costumo ter várias transmissões activas ao mesmo tempo no ecrã do computador para ir mudando de umas para outras. É fantástico e recomendo. E tenho gravações de algumas cenas num ficheiro chamado: “Rir é o melhor remédio!”, para os dias em que caio na tentação de começar a dar importância a políticos locais. Funciona como uma espécie de vacina. E basta uma dose!
Saudações bem-humoradas
Manuel Serra d’Aire

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