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Médico infectado duas vezes luta agora contra as sequelas 
Luís Marçal

Médico infectado duas vezes luta agora contra as sequelas 

Luís Marçal está em casa de baixa sem poder trabalhar, porque passou a sofrer de um cansaço extremo após ter ultrapassado a segunda infecção pelo vírus da Covid-19. Filho de médico que lutou contra a tuberculose, o clínico diz que em quatro décadas de carreira nunca viu nada tão grave.

É médico. Não trabalha em hospitais públicos. Não está na linha da frente do tratamento da Covid-19. Mas já ficou infectado com o coronavírus por duas vezes e está agora a tentar ultrapassar as agressivas sequelas, que ainda o vão fatigar bastante tempo. Luís Marçal, clínico há 40 anos, nunca viu uma situação tão grave para a saúde das pessoas e as outras saúdes, da economia, da vida em sociedade… Mesmo lembrando-se dos tempos dos surtos de tuberculose, há meio século, como filho de médico que lutava contra esta doença na zona de Benavente.
Luís Marçal, médico de ambulatório, daqueles à moda antiga que vão consultar as pessoas a casa, está sem trabalhar há mais de três semanas, debatendo-se com um cansaço extremo. Para ficar quase sem forças basta dar 15 passos. Por isso ainda não voltou ao trabalho depois de ter recebido o teste negativo, encontrando-se de baixa médica. O médico de Salvaterra de Magos, que deixou de trabalhar para o Estado em 2008, descobriu que estava infectado pela segunda vez quando sentiu um pico febril, menos de dois meses após ter recuperado da primeira infecção em Novembro. É difícil saber como voltou a contrair o vírus, até porque, apesar de não estar na linha da frente, usa protecção como se estivesse.
“Felizmente não tive necessidade de ser internado”, desabafa o profissional de saúde, que se espanta com a leviandade com que muita gente está a lidar com a pandemia, que considera a pior situação de saúde pública de que se lembra, em que o risco de morte pode ocorrer em qualquer idade. Para a forma como as pessoas por vezes facilitam no modo de lidar com a doença, contribui, critica, o que considera ser a “brincadeira” das conferências de imprensa da ministra da Saúde e da diretora-geral da Saúde, que passam o tempo a debitarem números em vez de explicarem de forma clara e concisa a gravidade da doença e a forma de a enfrentar.
Quando se sentir melhor, quer voltar ao terreno onde os seus doentes esperam pelo seu acompanhamento. Porque não é só quem está no hospital, nas urgências ou nas áreas de tratamento da Covid-19, que ajuda a combater a doença. Enquanto houver médicos próximos dos doentes fora dos hospitais está-se a evitar o aumento da pressão hospitalar. Enquanto pôde trabalhar a situação mais grave que teve entre os seus pacientes foi a de um conhecido de longa data com perto de 80 anos de idade, que transportou o vírus para casa desde o hospital, onde esteve internado devido a uma fractura do colo do fêmur, já de si uma situação grave. “Mas felizmente venceu a luta contra o vírus”.
Além das duas vezes em que testou positivo, Luís Marçal, 64 anos, que presta apoio também ao lar da Misericórdia de Pernes, esteve duas vezes de quarentena por precaução. Diz que não teve medo, nem de andar a contactar com doentes nem de se reinfectar e ter sintomas mais agressivos e sequelas mais complicadas, porque “é preciso agir e quando tiramos o curso sabemos a que estamos sujeitos”. Tal como já acontecia no tempo do pai, o médico que dirigiu o instituto de combate à tuberculose em Benavente, numa altura em que não havia plano nacional de vacinação e os doentes eram internados num pavilhão onde hoje está a fisioterapia da Santa Casa da Misericórdia de Benavente.

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