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As paletes de empregos do Capitão Kombusha e os nomes de escritores que tanta rua enfeitam

Inspirado Serafim das Neves

Para cair nas boas graças dos poucos eleitores que ainda votam, o presidente da câmara do Entroncamento anunciou há dias que, graças à sua habilidade para atracção de coisas boas, os fabricantes de uns sumos com o fantástico nome Captain Kombusha, estão com vontade de construir uma fábrica lá na terra.
Para impressionar sublinhou que a fábrica vai custar 53 milhões de euros e que pode vir a precisar de duzentas e tal pessoas para funcionar. A mim os milhões não me impressionam porque há anos que chovem milhões e, recentemente até se fala numa enxurrada de biliões que será disparada a partir de Bruxelas.
O que me desperta a curiosidade é saber onde é que o tal Capitão Kombusha vai recrutar aquele batalhão de ganhadores do salário mínimo nacional. Arranjar duzentas pessoas dispostas a fazer sumos probióticos, numa terra onde já quase toda a gente tem um curso superior e numa altura em que o Estado, impulsionado pelos partidos que apoiam o Governo, contrata que se farta e cada vez tem mais falta de pessoal, não vai ser tarefa fácil.
Claro que há sempre os imigrantes nepaleses, indianos e paquistaneses dispostos a trocar a apanha do abacate no Alqueva por um lugar de motorista de empilhadores, mas é preciso ver que o Capitão Kombusha já tem uma fábrica mais perto deles, em Évora.
Enfim, talvez o presidente do Entroncamento também consiga convencer trabalhadores a instalarem-se na cidade com elogios ao clima, à intensa vida cultural e à vasta oferta gastronómica.
A história de duas ruas com o nome do escritor Almeida Garrett, na cidade da Póvoa de Santa Iria, já se passou em muitas outras localidades. Basta usar o Google para verificar que, em todo o país, há dezenas e dezenas de ruas Camilo Castelo Branco, Almeida Garrett, Eça de Queirós, José Saramago, etc, etc...só aqui à volta há mais ruas com nomes de escritores do que melgas e mosquitos numa noite de Verão.
E compreende-se que assim seja. Somos um país culto e gostamos de demonstrar isso, seja através de grandes manifestações de indignação pelo encerramento das livrarias durante o estado de emergência, ou da atribuição de nomes de escritores a ruas, praças, becos e azinhagas.
E fazemos o mesmo com as escolas. Há mais escolas Florbela Espanca, Fernando Pessoa ou António Gedeão, do que poemas que eles todos juntos tenham escrito. E tu, com aqueles versos do enterro do Entrudo do e-mail da semana passada, também te arriscas a ter escolas com o teu nome, um dia destes.
O bastonário da Ordem dos Médicos, anda indignado, por o Governo não contratar todos os médicos reformados que se ofereceram para voltar ao activo. Eu não sei o que diga, mas tenho a certeza de uma coisa: quanto mais médicos e enfermeiros o Estado contrata mais sindicatos e ordens dizem que eles faltam, o que me leva a pensar que, se calhar, o Serviço Nacional de Saúde é um buraco sem fundo. O Serviço Nacional de Saúde e todos os outros serviços públicos que paralisaram por... excesso de pessoal.
Saudações contratadoras
Manuel Serra d’Aire

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