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Lojas de bricolage e construção roubaram mercado às carpintarias tradicionais 
Celeste Oliveira trata da papelada relacionada com a carpintaria, é ela quem organiza encomendas, contas e pagamentos

Lojas de bricolage e construção roubaram mercado às carpintarias tradicionais 

Celeste Oliveira, 69 anos, nasceu e vive em Riachos onde trabalha com o marido na carpintaria João Pereira Mendes.


Celeste é o braço-direito de João Pereira Mendes, marido e proprietário da carpintaria com o mesmo nome, em Riachos, Torres Novas. A carpintaria faz parte do rol de actividades que puderam manter portas abertas apesar do confinamento, mas a crise económica e o número crescente de lojas de bricolage e construção têm contribuído para a diminuição da procura.
Nasceu e sempre viveu em Riachos, filha de um empregado fabril e de uma dona de casa. A infância foi feliz, com três irmãos, todos rapazes, dois deles nascidos no mesmo ano que Celeste. Saltava como eles e trepava às árvores. Era uma autêntica maria-rapaz. Quando terminou a quarta classe começou a trabalhar no campo.
Conheceu o marido quando era aprendiz de carpinteiro. Ofício que aproveitou para lhe esculpir o amor no coração. Namorou dois anos e meio e casou quando ainda não tinha completado vinte anos. Entretanto João Mendes, o marido, ainda foi para a tropa e esteve em Angola. Quando regressou construíram uma casa no bairro de São João. Foi aí que João começou a fazer uns biscates de carpinteiro enquanto trabalhava, também como carpinteiro, nas oficinas da CP no Entroncamento. Naquela altura as carruagens tinham o chão e os tectos em madeira e era preciso fazer reparações e montagens.
A carpintaria João Pereira Mendes abriu em 1993. Mesmo trabalhando na CP, João continuava a fazer uns biscates à noite e aos fins-de-semana. Celeste ajudava o marido. Não sabia o ofício de carpinteiro, mas auxiliava no corte da fórmica, muito em voga nessa época, aplicava verniz e tapa poros, lixava e tratava de tudo o que era papelada. Função que ainda hoje mantém. Papéis, encomendas, voltas e pagamentos são com ela, a secretária de serviço hoje também dedicada à empresa de gás, representante da Oz Energia que, entretanto, abriram junto à carpintaria e que está a cargo do genro.
O marido e um funcionário dedicam-se à carpintaria onde continuam a fazer sobretudo cozinhas e roupeiros por medida. As madeiras mais utilizadas são o pinho, o mogno e a faia.
A carpintaria manteve-se aberta apesar do confinamento, mas a procura tem sido pouca. Celeste atira as culpas para a crise. Muita gente perdeu o emprego e não pode investir em melhorar as suas habitações. Outro motivo, adianta, são as lojas de bricolage e construção que proliferam um pouco por toda a região e que vieram “roubar” mercado. Noutros tempos a carpintaria chegou a fazer trabalhos em Lisboa, mas actualmente cinge-se à região.
Celeste, 69 anos, já teve horta mas agora o tempo é todo dedicado ao trabalho. Trabalha todo o dia e quando acaba o trabalho vai dormir. “Não há tempo para passatempos”, afirma resignada mas bem-disposta. Dos tempos antes da pandemia tem saudades de sair sem ter que dar satisfações a ninguém. Não é que saísse muito, mas quando lhe apetecia ia a Lisboa assistir a uma revista ou fazia uma excursão. Também não dispensava as férias no sul de Espanha.

Lojas de bricolage e construção roubaram mercado às carpintarias tradicionais 

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