Ao final da tarde de domingo, 28 de Fevereiro, José Ideias, de 70 anos, foi encontrado sem vida, com sinais de violência, no interior do quarto da própria habitação, no Vale de Santarém. Tinha o rosto desfigurado e estava coberto de sangue, quase irreconhecível. A Polícia Judiciária foi chamada a investigar, por suspeitas de crime.
Maria do Céu Falagueiro e o filho, que moram na casa em frente, foram os primeiros a entrar na habitação, depois de estranharem a ausência do idoso. A O MIRANTE, a vizinha, ainda em choque, conta que a vítima estava deitada na cama, com um “enorme buraco na cara como se tivesse levado um tiro ou uma forte pancada”. Em cima do corpo estava a cadela, “a sua companheira”, a lamber-lhe o sangue do rosto. “Quando o vi naquele estado saí a correr, aos gritos. Tenho estado à base de calmantes porque assim que fecho os olhos só me vem aquela imagem à cabeça”, conta em lágrimas.
Os bombeiros foram chamados, mas já não havia nada a fazer. José, ou Zé, como era tratado pelos vizinhos, já estava morto há várias horas. A GNR também esteve no local, mas por haver indícios de crime, o caso passou para a alçada da Polícia Judiciária.
Era Maria do Céu quem auxiliava o idoso nas lides domésticas e alimentação. Nessa mesma manhã, conta, tinha estado lá em casa a preparar-lhe o pequeno almoço. “Saí de lá e deixei-o bem, ele estava bem”, assegura a vizinha, que diz ter estado fora de casa o resto do dia.
Quem por ali passou a tarde garante que não viu, nem ouviu nada de estranho. “Nem um barulhinho suspeito. Se fosse um tiro, certamente teria ouvido”, atira a vizinha do lado, Maria Isabel Silveira, que diz estar em choque com o cenário de violência, nunca antes visto no pacato bairro, na Rua Casal Mimoso. “Estranhei não o ver. Todos os dias vinha cá para fora apanhar sol com a cadela. Era um bom homem”, recorda a vizinha.

Viveu meses de violência doméstica
Apesar de não haver detenções ou de estar confirmado que se tratou de um crime de homicídio, no bairro vive-se um ambiente de desconfiança. Contam entre janelas e varandas que José Ideias tinha sido durante meses vítima de violência doméstica. A GNR foi várias vezes chamada ao local pelos vizinhos que ouviam gritos e objectos a partir.
O alegado agressor, ao que indicam, era um antigo inquilino, na casa dos 20 anos. Deixou a casa do idoso em Outubro passado, tendo entregue as chaves a um vizinho. Ali todos sabem que “batia no Zé”. Na quinta-feira, 25 de Fevereiro, ou seja, três dias antes do crime, foi visto pela vizinhança “a rondar” a casa de José Ideias. “Depois sentou-se num muro e foi-se embora”. Que se saiba não chegou a ter qualquer contacto com o idoso.

Idoso não estava sinalizado
José Ideias, residia no Vale de Santarém há cerca de um ano. Chegou sozinho e assim morreu, na companhia da cadela. Era natural das Fontainhas, Santarém. Deixou três filhos, que raramente eram vistos pelos vizinhos. O último Natal foi passado com a família da vizinha, Maria do Céu Falagueiro.
O presidente da Junta do Vale de Santarém, Manuel Custódio conta a O MIRANTE que era habitual o homem, de 70 anos, deslocar-se a pé pela localidade, sempre sozinho. “Era um homem de poucas falas”, diz. O autarca refere que a junta de freguesia, em articulação com a GNR, tem estado a identificar e sinalizar os idosos que moram sozinhos e isolados. “Não era o caso. Penso que o senhor não estaria cá recenseado”, refere.