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“Vivemos no mundo do imediato e tudo o que fazemos tem escrutínio instantâneo”
Miguel Dinis é sócio fundador e director criativo na DialReset, em Abrantes

“Vivemos no mundo do imediato e tudo o que fazemos tem escrutínio instantâneo”

Miguel Dinis, 42 anos, sócio fundador e director criativo na DialReset

Há dez anos aventurou-se a fundar, em Abrantes, uma empresa de comunicação e multimédia em tempo de crise. Teve que picar muita pedra até chegar ao caminho do sucesso. Vive agarrado aos ecrãs e reconhece no avanço tecnológico um lado perverso. É pai de dois filhos, marido há 15 anos e já está farto de ter que dar abraços ao ar.

A informação entra-nos pelo telemóvel adentro, sem que tenhamos que ir à procura dela. Chega a ser assustador. Toda a publicidade que nos aparece é uma reacção à nossa pesquisa.
O avanço tecnológico tem os dois lados da moeda: o bom e o perverso, que nos faz sentir controlados. Quando navegamos na Internet é como se houvesse um Big Brother a anotar todos os nossos registos. E na verdade há.
No meu trabalho tenho de estar sempre em cima da novidade, para que a minha acção não seja reactiva. Uma pequena distração pode ser fatal. A culpa? Vivemos no mundo do imediato e tudo o que fazemos tem um escrutínio instantâneo.
Hoje as crianças vivem num mundo de tablets e computadores. No meu tempo tinha que inventar brincadeiras para me entreter e isso obrigava-me a ser mais criativo. Nestes tempos de pandemia estou a descobrir capacidades de paciência que desconhecia. Ter que trabalhar em casa com o meu filho Diogo, de nove anos, e a minha filha, Mariana, de cinco, é um desafio enorme.
Só tenho um vício: o dos amigos. Sinto falta do contacto humano, de cumprimentar como deve ser. Somos um povo caloroso. Já estamos todos fartos de andar a dar abraços ao ar.
Há quem diga que ficar sem bateria no telemóvel é uma bênção. Não é. Entramos em pânico passado pouco tempo e temos que o ir carregar, porque nos sentimos desligados do mundo. Mesmo depois do trabalho é impossível desligar dos ecrãs. Adormeço no sofá com o computador ao colo. Não gosto de acordar e nunca saio de casa sem pôr perfume.
Quando abri a minha empresa tive de picar muita pedra para conseguir fazer caminho. A DialReset opera no ramo da multimédia, comunicação e webdesign, um tipo de mercado que não existia em Abrantes. Além disso o país vivia tempos de crise. Uma década depois, eu e a minha sócia, Andreia Almeida, somos uma marca no território, mas com muita vontade de continuar a crescer.
Há muitas vantagens em escolher trabalhar com uma empresa externa que forneça serviços nesta área. Estamos muito mais actualizados, temos os meios tecnológicos e acompanhamos ao minuto as evoluções e tendências do mercado.
A música foi algo que me acompanhou desde pequeno. Toco piano desde os quatro anos. Fiz parte da fundação da extinta Orquestra Ligeira de Abrantes e pelo meio tive uma aventura na tuna da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, onde me licenciei em Cinema Documental.
Nasci na antiga casa de saúde no Alto de Santo António, em Abrantes. O centro histórico da cidade, onde sempre vivi, já teve muito mais vida. Sou um optimista por natureza, gosto sempre de ver o copo meio cheio. Gosto muito da minha cidade. E as pessoas de Abrantes que dizem que não, também gostam, só que se focam no copo meio vazio.
Se pudesse tirava de Abrantes a poluição no rio Tejo e trazia mais pessoas. E se me pudesse meter numa máquina do tempo não tinha ido estudar dois anos para Lisboa. É uma cidade bonita, mas não me identifico.
Não sou de fazer inimigos nem de guardar rancor. Rejo-me pela velha máxima de que não devemos empurrar os problemas com a barriga. Gosto de resolver tudo na hora. Considero-me um homem romântico, mas o pedido de casamento foi tão banal como perguntar à minha mulher se queria ir tomar café. Namorava com a Elisabete há 10 anos, hoje estamos casados há 15.
Perdi o hábito de ter livros na mesa de cabeceira. Tudo o que leio é em formato digital. Interesso-me pela arte, fotografia e política sobretudo a local que é a que me afecta mais directamente.
A rádio foi um período bonito da minha vida. Entrei para fazer sonoplastia e produção áudio, na rádio Antena Livre e acabei como locutor. O mais chato era que tinha de acordar para fazer o programa da manhã às horas a que estava habituado a deitar-me. Ainda me falta fazer muita coisa antes dos 50 anos. Quero voltar a viajar. Cresci com os livros de banda desenhada da Marvel e não quero morrer sem ir a Nova Iorque.
Quando tinha 19 anos recebi uma carta a fazer promoção a um lar de idosos. Foi surreal. Aos 42 imagino-me a chegar à idade da reforma e mudar-me para perto do mar. Espero dedicar-me a escrever. Já plantei uma árvore, já tive filhos, só me falta escrever um livro.

“Vivemos no mundo do imediato e tudo o que fazemos tem escrutínio instantâneo”

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