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Arte é um exercício de liberdade e criatividade que faz bem à alma
Graça Martins. Carlos Moisés. Rui Cardoso. António Forte

Arte é um exercício de liberdade e criatividade que faz bem à alma

Praticar uma arte, não importa se com muita ou pouca projecção, é uma maneira de fazer a alma crescer. A frase é inspirada no escritor Kurt Vonnegut e serviu de pretexto para falarmos com quatro artistas da região ligados à pintura, arquitectura, música e desenho, a propósito do Dia da Arte, que se comemora a 15 de Abril.

Graça Martins prefere a pintura a acrílico sobre tela, porque o óleo exige ponderação e tempo de que não dispõe

“Muito tempo sem pintar é como estar muito tempo sem fazer ginástica”

Graça Martins, natural de Torres Novas, conta que em criança fazia muitos desenhos e era nessa área que era elogiada. Nas restantes, confessa, era muito trapalhona, salvando-se, além das artes, o português. Talvez por isso as suas obras como artista plástica integram, normalmente, uma parte escrita. “Quando criei a série ‘Tolentinas’, que esteve exposta no centro histórico de Torres Novas, estava a ler José Tolentino de Mendonça e retirei frases que incorporei nas várias telas com rostos. Para não ser considerado plágio decidi baptizar o trabalho em homenagem ao autor”, explica numa conversa descontraída numa esplanada torrejana, dias depois de se iniciar o desconfinamento.


Outra das séries que destaca foi inspirada no livro “As 44 cartas do Mundo Moderno”, do sociólogo Zygmunt Bauman. “São pequenos textos com pensamentos sobre a actualidade e um dos pontos chama-se ‘fazer como fazem os pássaros (twitar)’, seguindo a máxima ‘twito logo existo’. É uma reflexão sobre a existência na vida actual dos jovens, quando sentem que só existem se tiverem ‘gostos’ nas redes sociais”, explica a pintora, que também dá aulas de Artes Visuais numa escola de Ourém.


O ensino à distância, a participação na vida associativa no Centro de Bem Estar Social da Zona Alta e na vida autárquica, substituindo nas reuniões de Câmara de Torres Novas a vereadora Helena Pinto (BE), têm-lhe quebrado o ritmo da pintura. “Estar muito tempo sem pintar é como estar muito tempo sem fazer ginástica, depois custa mais a recomeçar”, graceja. “No primeiro confinamento consegui pintar, mas enquanto tiver outras responsabilidades é difícil dedicar-me à pintura”, afirma, lembrando os tempos em que se levantava às três da manhã para pintar, só porque tinha acordado a meio da noite com uma ideia.


Como ribatejana diz que enfrenta de caras tudo o que mais receia, como a dificuldade de se expor. “Cresci numa família em que a perfeição era exigida. Há uma expressão de Gonçalo M. Tavares que gosto muito: ‘a criatividade começa com o erro’. Com as redes sociais estamos todos um bocadinho cheios de nós próprios”, sublinha, acrescentando que a arte pode ser a salvação, pois é com ela que se desenha um mundo novo. Graça Martins reforça que é importante que se discuta mais o papel dos artistas na criação da liberdade. “Tanto músicos como pintores de murais tiveram um papel importantíssimo na conquista da democracia. A liberdade também nos entrou pelos ouvidos, pela pele e pelos olhos”, remata.

Rui Cardoso é o autor do fenómeno televisivo “Os Patinhos” (foto DR)

Rui Cardoso é o criador de “Os Patinhos”

Rui Cardoso, 52 anos, natural de Azambuja, é ilustrador e realizador de filmes de animação. O seu curriculum é vasto mas destaca-se a autoria do pequeno, e muito conhecido filme de animação “Os Patinhos”, que servia de mote para as crianças irem para a cama dormir. Não encontrar uma definição concreta para a arte, mas não tem dúvidas ao afirmar que “o artista deve saber transmitir aos outros algo que lhe é particular”.


Rui Cardoso é fundador da produtora Toonelada e acredita que ilustrar um livro traz mais responsabilidade do que criar um filme de animação, pois “o desenho tem que sustentar o olhar minucioso do leitor e tem de conseguir plantar no seu espírito as ideias do autor”.


Licenciado em Pintura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, Rui Cardoso tem mais de 30 anos de carreira. Já desenhou centenas de personagens mas não consegue escolher uma preferida. “Tenho um carinho especial pelo Patinho, pela dimensão e mediatismo que teve, e ainda tem. Teve mais de uma dezena de anos em antena aberta”, assinala.


O autor não tem memória do primeiro desenho que fez, mas lembra-se de que a paixão pelo desenho começou muito cedo. “A minha primeira banda desenhada foi feita com nove anos e acabou publicada num fanzine, uma publicação não oficial”, conta.


Rui Cardoso vai buscar inspiração, sobretudo, aos livros e filmes que vê. Em jeito de conclusão, diz que não consegue trabalhar na mesma personagem muito tempo porque gosta de experimentar novos estímulos e sente necessidade de renovar constantemente o seu processo de criação.

Carlos Moisés, vocalista da banda Quinta do Bill, diz que a arte é sinónimo de felicidade

Carlos Moisés e a música que lhe enche a alma

A arte é imprescindível na vida de qualquer pessoa; é urgente continuar a apostar na arte como meio para a felicidade das pessoas. A opinião é do músico Carlos Moisés, vocalista da banda Quinta do Bill, de Tomar. “O desenvolvimento, sobretudo dos mais jovens, depende muito da sua ligação às artes; é um mecanismo fundamental para tornar a vida mais agradável e estimulante”, afirma.


Carlos Moisés lamenta o abalo que a cultura está a sofrer devido à pandemia provocada pela Covid-19. “Os artistas estão privados de exercer a sua actividade profissional há mais de um ano e as incertezas são muitas. São pessoas que têm famílias para sustentar”, defende, acrescentando que os portugueses percebem bem a situação dramática que os trabalhadores ligados à área da cultura estão a passar, com muitos deles a serem obrigados a procurar outros empregos para fazerem face às despesas mensais.


Músico há cerca de 40 anos, Carlos Moisés defende que a música alimenta a sua alma. Embora a pandemia não esteja a dar tréguas, acredita e tem esperança na comunidade científica para ultrapassar a crise. “Se não fosse músico gostava de ser cientista, porque admiro o trabalho que têm para melhorar o mundo em que vivemos. Os seus esforços dão-me esperanças de, em breve, subir ao palco e cantar para o meu público”, confessa.
Nos longos e duros meses de paragem obrigatória, Carlos Moisés tem aproveitado para compor novas canções e estar com a família, o seu porto seguro. “Ainda tenho muito para conquistar, mas sinto-me um homem feliz; tenho um filho que amo, já escrevi um livro, e já plantei uma árvore”, afirma.

António Forte é arquitecto na Câmara de Almeirim e considera que a arquitectura é essencial para o equilíbrio da sociedade

Arquitectura: uma arte guiada pela emoção e criatividade

António Forte, 59 anos, afirma que a arquitectura, profissão que exerce na Câmara Municipal de Almeirim, é uma arte que se constrói pela emoção e criatividade; é a arte de satisfazer todas as necessidades práticas e estéticas da sociedade. “Para além da componente criativa, a arquitectura depende muito da sua funcionalidade, tornando-se complexa. O sucesso de um projecto é conseguir manter uma eficiência técnica juntando, ao mesmo tempo, uma beleza que seja admirada por quem o observa”, explica, a O MIRANTE.

António Forte tirou o curso de arquitectura em 1986, na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Numa época em que a arquitectura era realizada, principalmente, por engenheiros e desenhadores, optou por seguir o caminho do ensino, tendo sido professor numa escola em Santarém. Um ano depois, surgiu o convite para trabalhar na Câmara de Almeirim, onde ainda permanece, desempenhando o cargo de responsável pelo urbanismo.

No seu ponto de vista, a arquitectura é essencial como forma de melhorar condições ambientais e sociais; é uma linguagem que também vive de modas. António Forte afirma que vive numa região onde é muito difícil desenvolver um projecto que marque a sua carreira como arquitecto. “As minhas funções baseiam-se no planeamento e desenho urbano da cidade de Almeirim. Costumo dizer que sou pau para toda a obra. Uma cidade bem organizada é fundamental para fixar famílias e desenvolver o concelho”, sublinha.

António Forte tem sido um elemento fundamental no processo de revisão do Plano Director Municipal (PDM) de Almeirim, e lamenta que os PDM sejam, actualmente, apenas regulamentos do que se pode ou não construir nos concelhos. “Andamos com a revisão do PDM há mais de vinte anos porque andamos sempre a correr atrás do prejuízo. As leis estão constantemente em mudança e dependem dos governos que estão em funções, e isso limita muito o trabalho das autarquias”, reitera.

Arte é um exercício de liberdade e criatividade que faz bem à alma

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