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Luta das juntas contra a pandemia e os subsídiodependentes
Jorge Ribeiro, Álvaro Gonçalves, Armando Calixto, Ezequiel Estrada e Lígia Santos

Luta das juntas contra a pandemia e os subsídiodependentes

As juntas de freguesia ribatejanas têm desempenhado um papel fundamental na gestão da pandemia e dos casos sociais que aumentaram, sobretudo devido ao desemprego. Outra das preocupações dos autarcas prende-se com o número de pessoas a receber subsídios sem se preocuparem, em alguns casos, com a procura de novas oportunidades de trabalho. A propósito do Dia Mundial da Segurança Social, que se celebra a 8 de Maio, O MIRANTE falou com cinco presidentes de junta da região que confessaram preocupação pelos efeitos catastróficos da pandemia.

Jorge Ribeiro

Cruzamento de informação acabou com profissionais da mão estendida

Em 2020 houve um aumento dos pedidos de ajuda na União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa, a maior do concelho de Vila Franca de Xira, e o presidente, Jorge Ribeiro (PS), orgulha-se de toda a equipa por não ter deixado ninguém sem resposta. A junta de freguesia, pela sua proximidade, continua a ser a primeira porta onde quem precisa vai pedir ajuda, seja ao nível da habitação, emprego ou, sobretudo, alimentação.

Só entre 20 de Março e 31 de Maio de 2020, data do primeiro confinamento, 185 pessoas pediram ajuda à junta de freguesia. Em todo o ano foram contabilizados outros 148 atendimentos agendados pelos técnicos da junta, incluindo 15 atendimentos de emergência e 6 visitas domiciliárias. Destas, 13 pessoas precisaram de casa por não conseguirem pagar a renda, 19 precisaram de uma habitação social e 57 foram encaminhadas para os centros de emprego para procurar trabalho.

Seis pessoas foram integradas em apoio alimentar de emergência, 20 agregados familiares começaram a receber cabazes alimentares e outros 5 foram encaminhados para cantinas sociais. Os dados disponibilizados a O MIRANTE pela junta mostram também que em 2020 foram sete pessoas encaminhadas para o Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes.

“Temos sempre dedicado muita atenção ao apoio social para ir ao encontro das dificuldades que as famílias passam. Acredito que no pós-pandemia a situação se vai agravar e vamos ser muito mais solicitados”, conta Jorge Ribeiro.

Actualmente o apoio social é feito de forma integrada e em rede, entre juntas, câmara e parceiros da comunidade como o movimento associativo. “Há 20 anos cada junta tinha a sua realidade e funcionava de forma hermética, hoje em dia é diferente. Fazemos o atendimento de primeira linha e encaminhamos. Conseguimos com isso eliminar o duplo, triplo e muitas vezes quádruplo apoio. Havia pessoas que eram profissionais disto e tentavam contornar o sistema para serem apoiadas várias vezes, retirando apoios a quem realmente precisava”, explica.
Jorge Ribeiro afirma que o principal objectivo é dotar as pessoas de meios que lhes permitam ter o apoio que precisam para que depois possam caminhar autonomamente. “Felizmente há casos de sucesso em que a vida das pessoas melhorou e elas conseguem libertar-se dos apoios para permitir que se apoie outras pessoas”, conclui.

Álvaro Gonçalves

Pandemia aumentou pedidos de ajuda em Moitas Venda

A pandemia na freguesia de Moitas Venda, concelho de Alcanena, não tem dado tréguas e os pedidos de ajuda, sobretudo de pessoas idosas e desempregados, aumentaram. A informação foi dada a O MIRANTE pelo presidente da junta, Álvaro Gonçalves (PS), que acrescenta existirem ainda muitos casos de pobreza envergonhada na aldeia. “Há pessoas que tinham uma vida estável e, de repente, ficaram sem dinheiro para pagar as contas; nota-se que têm dificuldade em pedir ajuda, talvez por uma questão de orgulho”, refere.

Grande parte dos pedidos de ajuda é de idosos, pois recebem reformas muito baixas e a maior parte do que recebem vai para despesas de farmácia. O autarca explica que, nesses casos, a junta sinaliza e encaminha para os serviços de Acção Social. “Os idosos pedem também ajuda para serem transportados ao local de vacinação da Covid-19 porque não têm como ir. Nós tratamos disso”, garante.
Álvaro Gonçalves defende que as pessoas que vivem do Rendimento Social de Inserção (RSI) deveriam ser avaliadas por um médico que dissesse se estão ou não aptas a trabalhar. “Infelizmente há pessoas que podem trabalhar mas não querem porque preferem receber subsídios a estar a puxar pela cabeça e pelo corpo”, lamenta.

Armando Calixto

Não trabalhar para viver de subsídios

Armando Calixto é o presidente da Junta de Freguesia de Vale do Paraíso, a mais pequena do concelho de Azambuja, o que faz com que existam poucos casos de pessoas a depender de rendimentos sociais, tais como o subsídio de desemprego ou o Rendimento Social de Inserção (RSI).

Ainda assim, o autarca socialista recorda um caso em particular de um casal em que a mulher não teve direito ao subsídio de desemprego e o ordenado do marido não chegava para as despesas. “Como não tinham a quem recorrer pediram ajuda à junta de freguesia e nós tratámos de os ajudar sobretudo com alimentação”, lembra a O MIRANTE Armando Calixto, salientando que a Associação Nossa Senhora do Paraíso (ANSP) também faz doação de alimentos às famílias mais carenciadas.
Armando Calixto não sabe dizer ao certo quantos habitantes recebem subsídios, mas dos casos que conhece sabe que se tratam de pessoas jovens, provenientes de famílias desestruturadas e que, em casos pontuais, não têm condições psicológicas para trabalhar. Sobre o facto de o RSI poder ser acumulável com outro tipo de rendimentos, o autarca lamenta que existam pessoas que se aproveitam da situação para viverem de forma desafogada. “Já aconteceu a junta de freguesia oferecer trabalho e não aceitarem porque estão a ser subsidiados”, refere.

Ezequiel Estrada

Freguesia de Nossa Senhora de Fátima reforça planos de apoio

O número de pedidos de auxílio na freguesia de Nossa Senhora de Fátima, no Entroncamento, tem aumentado bastante desde a pandemia do novo coronavírus. Outro facto curioso é que o número de imigrantes também tem aumentado exponencialmente: nos últimos quatro meses regista-se a chegada de cerca de meia centena de imigrantes. O presidente da junta, Ezequiel Estrada, explica que a maioria vem do continente asiático, contrariamente ao que acontecia há alguns anos, com a chegada de muitos brasileiros e africanos.

Com a população e as necessidades a aumentarem, devido ao acréscimo do número de desempregados, a junta reforçou os planos de apoio social. É o caso do apoio à medicamentação que actualmente envolve cerca de 50 famílias num investimento a rondar os 500 euros por mês.

Para chegar a todos os pedidos de apoio a junta disponibilizou uma zona onde, duas vezes por semana, uma técnica dos Serviços de Acção Social faz atendimento presencial. O espaço tem recebido cerca de meia centena de pessoas por mês.

Numa freguesia com cerca de 13 mil habitantes, Ezequiel Estrada (PS) confessa que actualmente muitos dependem de subsídios, nomeadamente do Rendimento Social de Inserção (RSI). O apoio, na opinião do presidente, deveria servir de incentivo à procura de emprego, algo que não está a acontecer. “Infelizmente há muitos beneficiários que vêem nos subsídios uma boa fonte de rendimento sem precisarem de se esforçar e encostam-se à sombra da bananeira”, lamenta.

Lígia Santos

Meia Via não aumentou número de casos sociais

A freguesia da Meia Via, concelho de Torres Novas, parece estar a conseguir escapar aos impactos negativos da pandemia não registando aumento nos pedidos de auxílio ou mesmo no desemprego. Lígia Santos (PS), presidente da junta de freguesia, afirma que os serviços de Acção Social do município não têm reportado novos casos para além dos que já acompanham há vários anos. A presidente não esconde, no entanto, que há algumas famílias carenciadas, mas que, na maioria dos casos, “são as próprias famílias que não querem ser ajudadas”.

Sobre o facto de não haver desemprego na freguesia a autarca explica que a pandemia atingiu com mais força o ramo da restauração e do turismo e a população activa da Meia Via trabalha noutros sectores de actividade sobretudo ligados à indústria. O Rendimento Social de Inserção (RSI) também é um tema sensível para Lígia Santos: “Temos cerca de 10 pessoas a receberem o subsídio. Se por um lado é importante que as pessoas recebam o apoio, por outro há situações em que quem usufrui do rendimento não quer mesmo é trabalhar; por isso é necessário repensar bem este rendimento”, defende a O MIRANTE Lígia Santos.

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