uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Internet ainda é uma miragem em algumas aldeias do Ribatejo
No café Costa, situado no Chouto, concelho da Chamusca. Hugo Sampaio vive na aldeia de Quebradas, concelho de Azambuja. Em Lameirinha, freguesia de Seiça, Ourém, as famílias vão para o café de Sílvia Pereira para poderem aceder à internet

Internet ainda é uma miragem em algumas aldeias do Ribatejo

As dificuldades no acesso à Internet e rede móvel em algumas das aldeias mais isoladas da região são motivo de preocupação. Esta reportagem de O MIRANTE traduz a frustração de habitantes de três aldeias por não conseguirem trabalhar, estudar ou simplesmente ligar aos filhos que vivem a milhares de quilómetros de distância. Um trabalho a propósito do Dia Mundial da Internet que se celebra a 17 de Maio.

No café Costa, situado no Chouto, concelho da Chamusca, os clientes queixamse que o confinamento agravou os problemas com o sinal de internet

O confinamento agravou os problemas no Chouto

No café do Costa, na aldeia do Chouto, concelho da Chamusca, todos se queixam da falta de Internet e rede móvel. José, que se senta no banco à porta do café, diz que tem de andar às voltas em casa para conseguir ligar por videochamada à filha que vive na sede do concelho, a cerca de três dezenas de quilómetros. Mário, que tem o filho na escola, diz que durante o confinamento era uma sorte conseguir que o filho chegasse a horas às aulas online. Segundo os moradores, o confinamento e o teletrabalho agravaram os problemas do acesso à Internet e redes móveis na aldeia. O facto de as pessoas passarem mais tempo em casa implicou um aumento significativo no tráfego, retirando ainda mais força a um sinal que já era muito fraco.

O senhor Costa, proprietário do café, confessa que gostava de dar aos seus clientes acesso à Internet, mas o sinal é demasiado fraco para tornar isso possível. “Como é que querem fixar pessoas nestas aldeias isoladas do centro urbano, se não lhes dão condições para viverem”, questiona ao repórter de O MIRANTE.

Bruno Oliveira, presidente da União de Freguesias da Parreira e Chouto, acompanhou a reportagem e confessa sentir receio de perder população devido à falta de infra-estruturas e condições de vida adaptadas ao mundo moderno. “Estou a participar nos Censos e durmo mal só de pensar que vamos notar a perda de população”, afirma. A união de freguesias tem no seu conjunto cerca de 1500 habitantes, sendo que a nível territorial é uma das maiores do distrito de Santarém. O autarca diz sentir-se frustrado por andar há vários anos a bater às mesmas portas sem nunca conseguir arranjar soluções para a população porque, diz, as operadoras e as entidades que regulam querem realizar lucro a todo o custo. “A única operadora que funciona mais ou menos na Parreira pediu-nos cerca de 17 mil euros para colocar fibra óptica apenas no edifício da junta. Como é que as juntas, que têm orçamentos baixos, conseguem combater com armas tão desiguais”, questiona acrescentando que não tem dúvidas de que o serviço é três vezes mais caro nas aldeias isoladas do que nos centros urbanos. “Claro que as empresas sabem que o investimento em território desertificado é um risco, mas ainda acredito que vivemos num mundo onde todos devíamos ter as mesmas oportunidades”, salienta o autarca.

Hugo Sampaio vive na aldeia de Quebradas, concelho de Azambuja, e lançou uma petição para que seja instalada fibra óptica na localidade

Petição para instalar fibra óptica em Quebradas

Em Alcoentre, freguesia do concelho de Azambuja, conseguir enviar ou receber ficheiros através da Internet é uma tarefa difícil. Contudo, se na sede de freguesia já está prevista para Setembro a instalação da fibra óptica, os moradores das localidades vizinhas não vão ter a mesma sorte.

Hugo Sampaio, residente na aldeia de Quebradas, conta a O MIRANTE que tem de andar de um lado para o outro com o computador na mão para conseguir captar sinal, que naquela zona só chega através de satélite ou ADSL e é muito fraco. O professor, que lecciona na Escola Secundária de Azambuja, explica que chega a demorar mais de uma hora para descarregar os ficheiros necessários para dar as aulas.

O docente diz que para conseguir dar aulas à distância tem recorrido regularmente aos dados móveis, o que implica uma elevada factura no final do mês. O mesmo problema tem o seu filho, que frequenta o 7º ano. “Nos meses de confinamento houve alturas em que não conseguia estar presente nas aulas. Mesmo o acesso aos dados móveis é feito através de uma rede 3G, sendo que o 4G, que já cobre quase todo o país, não está acessível em Quebradas”, lamenta, acrescentando que uma das soluções é esperar que os habitantes da aldeia vão dormir para conseguir captar melhor o sinal.

Perante as limitações, Hugo Sampaio criou uma petição para a instalação da fibra óptica em Quebradas, mas até ao momento só teve 86 assinaturas. A justificação para a pouca adesão deve-se ao facto de a maioria dos habitantes da aldeia ser idosa e utilizar pouco o serviço. “Já contactei por diversas vezes as operadoras de telecomunicações, mas a minha indignação nunca é tida em conta”, afirma.

O professor, que também é músico nos tempos livres, diz que paga cerca de 100 euros mensais por um serviço que inclui Internet por satélite, telefone fixo e televisão, mas que raramente funciona como seria expectável. “Por enquanto ainda me mantenho a residir na aldeia, mas alguns dos meus vizinhos tiveram de mudar de casa temporariamente para poderem trabalhar à distância”, sublinha.

Em Lameirinha, freguesia de Seiça, Ourém, as famílias vão para o café de Sílvia Pereira para poderem aceder à internet

Longe da família e sem conseguir ver o neto

Garcia Vieira, de 72 anos, e a sua esposa Maria Neiva Vieira, de 58, vivem na localidade de Lameirinha, na freguesia Seiça, concelho de Ourém, e afirmam não saber o que é aceder à Internet, ou até mesmo conseguir fazer uma simples chamada telefónica, sem esforço. O casal diz mesmo que para falar ao telefone ou fazer uma videochamada com a família têm de ir para a rua porque dentro de casa não conseguem. “Pagamos uma factura exorbitante por um serviço miserável. Então quando está mau tempo é impossível conseguir fazer alguma coisa”, contam a O MIRANTE.

Embora não utilizem a Internet para trabalhar, o serviço tornou-se num bem essencial desde que os filhos emigraram. “Sem Internet não conseguimos matar as saudades e ver que estão bem. Tenho um neto com dois anos que ainda só conheço pelo ecrã do telemóvel. Se não fosse pelas poucas vezes que consigo falar com eles, já tínhamos desistido de tudo”, assegura Maria Vieira.

Sílvia Pereira, proprietária do único café/restaurante de Lameirinha, tem sido uma das mais prejudicadas pelo mau serviço que as operadoras de telecomunicações fazem nas localidades mais isoladas. “É horrível porque muitos clientes ligam a encomendar e grande parte das vezes não consigo receber chamadas nem mensagens. Sei que já perdi clientes por não estar contactável”, reforça. Em relação à Internet, Sílvia diz que lhe colocaram fibra óptica logo a seguir a ter aderido aos jogos de apostas. “Só vieram aqui instalar o serviço porque aderi aos jogos da Santa Casa, caso contrário, era mais do que certo continuar tudo na mesma”, vinca.

O espaço de Sílvia Pereira é o ponto de encontro para as pessoas que moram em Lameirinha, por isso muitas lhe pedem agora para aceder à sua Internet. “Cheguei a ter uma mãe que veio para aqui com o filho para assistir às aulas online. Nos tempos em que vivemos, em que a Internet é fundamental, é muito triste ver a realidade em que localidades como esta vivem”, sublinha.

O MIRANTE é lider na informação online

O MIRANTE utiliza a internet há quase duas décadas e tem cada vez mais visualizações das muitas dezenas de conteúdos que publica diariamente. O site diário e semanal de O MIRANTE tiveram mais de 4 milhões de páginas vistas desde Janeiro. No ano passado os sites tiveram cerca de 15 milhões de visualizações num aumento de 25 por cento em relação a 2019. Em 2021 O MIRANTE já editou cerca de quatro mil publicações nas redes sociais, com um alcance de aproximadamente 14 milhões de utilizadores e perto de 100 mil reacções entre comentários, partilhas e gostos.

A internet é também a forma de levar as notícias, reportagens e entrevistas, além de vídeos informativos, a quem está no estrangeiro ou em outros pontos de Portugal. Fora do território nacional o maior número de acessos é a partir de países como o Brasil, EUA, França, Suíça, Reino Unido, Espanha, Alemanha, Noruega, Luxemburgo, Angola e Holanda. Em Portugal, fora da região, a maior parte dos acessos são a partir de Lisboa, Porto, Montijo e Amadora.
A maioria dos leitores online de O MIRANTE são homens e em termos de idades 77% situam-se entre os 18 e os 44 anos. Já nas redes sociais os principais leitores são do sexo feminino, sendo que no Facebook 55% são mulheres entre os 18 e os 44 anos.

Internet ainda é uma miragem em algumas aldeias do Ribatejo

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido