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Começa a dar frutos a moda de viver nas aldeias mais isoladas
Rui Conceição e a mulher constituíram família em Loja Nova e dizemse muito felizes com a opção. A família de Nelson Abreu trocou a azáfama da cidade de Torres Novas pela natureza da aldeia de A-do-Freire. A família Varela reside na Parreira e é um bom exemplo de como as famílias podem viver e trabalhar sem se desentenderem

Começa a dar frutos a moda de viver nas aldeias mais isoladas

As aldeias isoladas da região estão a ser cada vez mais procuradas pelas famílias que querem construir um lar longe dos centros urbanos à procura de melhor qualidade de vida. O MIRANTE foi a três aldeias do Ribatejo falar com famílias que já sabem há muitos anos o bom que é viver no campo, onde se respira ar puro e a vida corre mais devagar.

A família Varela reside na Parreira e é um bom exemplo de como as famílias podem viver e trabalhar sem se desentenderem

A família Varela não se larga nem no trabalho

A proximidade dos elementos da família Varela, residente na aldeia da Parreira, concelho da Chamusca, é inquestionável: no trabalho ou em casa, estão sempre juntos. Manuel e Esmeralda são casados há 35 anos e trabalham juntos há 25. Em conjunto, deram continuidade ao negócio dos pais de Esmeralda, uma empresa situada a poucas centenas de metros de casa, que fabrica e vende carvão e madeira.

Confessam a O MIRANTE que fazer a gestão familiar com a profissional não é tarefa fácil, mas ao longo do tempo aprenderam a ser tolerantes e a deixar cada vez mais o ofício fora das quatro paredes em que habitam. “Às vezes damos algumas turras, mas mantemos sempre o respeito um pelo outro. O que importa é fazer bem o nosso trabalho para ajudar no sustento da família”, afirmam.

A família Varela é composta por mais duas filhas, as jovens Catarina e Mariana. Se os 16 anos de Mariana ainda são insuficientes para se estrear no mercado de trabalho, Catarina assume as funções de administrativa numa empresa de silvicultura, sediada também na aldeia.

A reportagem de O MIRANTE com a família decorre numa manhã de domingo junto à futura casa de Catarina e do marido, Tiago, cujos tijolos estão a ser levantados em frente à casa dos pais. O facto de o marido também trabalhar com a família ajudou na decisão de não se afastarem. “Para que uma empresa familiar funcione e tenha bons resultados temos de dormir com ela todos os dias. O nosso produto é distribuído por toda a região e isso exige muitos sacrifícios”, explica.

Embora a tendência dos casais jovens seja a de abandonar as aldeias mais isoladas, Catarina diz que isso nunca lhe passou pela cabeça. Afirma que uma das coisas que mais gosta de fazer é caminhar na aldeia e ir metendo conversa com os vizinhos. “Na verdade, considero que a Parreira é toda uma grande família. A tranquilidade de viver no campo dá-nos muita qualidade de vida. O sossego não se paga e aqui na Parreira o que temos mais é sossego”, sublinha.

Rui Conceição e a mulher constituíram família em Loja Nova e dizemse muito felizes com a opção

A falta de transportes é a maior dificuldade de viver isolado

Rui Conceição e a mulher, Helena Félix, constituíram família na Loja Nova, pequena localidade fora do rebuliço da cidade de Vila Franca de Xira. A falta de transportes públicos foi, e ainda é, o maior problema, mas Rui garante que continua a ser melhor constituir família no campo do que na cidade, principalmente quando se tem duas filhas para criar. As filhas, entretanto, já cresceram e uma delas já lhe deu um neto com quem tem uma relação “indescritível”.

Rui tem 62 anos, nasceu em Vila Franca de Xira, mas as voltas da vida levaram-no para a pequena localidade situada a 10 minutos do centro da cidade. A diferença de cenário, diz, mudou da noite para o dia; saiu do trânsito e do pára-arranca da Estrada Nacional (EN) 10 para estradas vazias, que percorre com satisfação ao som do chilrear dos pássaros.

Rui vive na Loja Nova com a mulher desde 1982. Tirou o curso de electricista na antiga escola industrial e comercial de Vila Franca de Xira e esteve sempre ligado ao ramo da electricidade. Actualmente trabalha numa fábrica de produção de baterias na Castanheira do Ribatejo. “Ter criado a família aqui foi muito bom e não nos arrependemos. Gostamos do sossego e da relação que existe entre todos”, conta a O MIRANTE.

Rui e Helena escolheram viver fora da cidade por mero acaso. A chegada da primeira filha obrigou-os a procurar casa rapidamente. Ainda procuraram apartamentos em Vila Franca de Xira, mas acabaram por escolher uma pequena casa que o pai de Helena já estava a construir na Loja Nova. “Na altura nem nos lembrámos das questões dos transportes. Teve coisas boas mas também algumas coisas más”, recorda.

Nos primeiros anos teve de pedir boleias a vizinhos e familiares quando ainda não tinha carro e os transportes públicos eram inexistentes. Hoje as coisas estão melhores, mas os transportes públicos ainda não são tão frequentes como deveriam ser.

Rui Conceição sugere aos jovens casais, que ponderam constituir família, que o primeiro passo é avaliar as vantagens e desvantagens da vida no campo. “Conheço muitos jovens que estão a começar a escolher as zonas rurais para se instalarem. As pessoas estão fartas do barulho das cidades e das quezílias dos prédios, dos condóminos que pagam ou não pagam”, defende.

A família de Nelson Abreu trocou a azáfama da cidade de Torres Novas pela natureza da aldeia de A-do-Freire

O sonho de viver em A-do-Freire

A natureza, o campo, os animais e a tranquilidade sempre fascinaram Nelson Abreu, que actualmente vive em A-do-Freire, uma localidade da freguesia de Pedrógão, no concelho de Torres Novas.

Aos 43 anos, o bombeiro na corporação de Torres Novas, realizou aquele que sempre foi o seu sonho: sair da cidade e viver no campo. “Queria ir viver para uma localidade mais tranquila, sair da cidade, mas não queria uma qualquer. Escolhi vir para A-do-Freire com a minha família porque já tinha ligações à terra. A minha mãe é de cá, já tínhamos aqui alguns terrenos e até um lagar de azeite”, conta, com entusiasmo, Nelson Abreu.

Nelson está a acabar de restaurar a casa que comprou e onde já vive com a sua esposa e as duas filhas, de um e oito anos, que assistiram à conversa com a reportagem de O MIRANTE. A família não se sente isolada apesar de admitir que tem poucas coisas de fácil acesso. Ainda assim, conseguem “chegar mais rápido à escola das filhas, em Torres Novas, do que se tivessem de atravessar a cidade em hora de ponta”, explica.

A procura por habitações fora dos centros urbanos continua a aumentar e Nelson Abreu confessa que teve algumas dificuldades em encontrar casa, mas o resultado não poderia ter sido melhor. “Ainda não encontrei pontos negativos em ter vindo para aqui viver. Por muito que me digam que estou isolado, só vejo coisas boas nisso. As minhas filhas podem jogar à bola, ter uma piscina no quintal, brincar e reconhecer os animais e as plantas que encontram à volta. Só por esta paisagem verde e o ar que respiramos aqui já vale a pena”, exclama com um sorriso no rosto.

Começa a dar frutos a moda de viver nas aldeias mais isoladas

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