uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

A latente tentação da censura e o estranho caso das perseguições a autocarros cheios de jogadores da bola

Resistente Manuel Serra d’Aire

Anda uma borrasca das grandes no meio taurino por causa de umas touradas que foram adiadas em Santarém devido às restrições colocadas pelas autoridades de saúde. Os aficionados estão em pé de guerra porque acham que estão a discriminar os espectáculos taurinos em relação a outros, como a recente final da Liga dos Campeões em futebol, disputada no Porto.
Os entusiastas da festa brava até são capazes de ter razão e devem mentalizar-se que têm de deixar de ser anjinhos. Se começarem a gritar vocábulos britânicos como ‘iésse’ e ‘camóne’ em vez dos tradicionais olés, se forem para as praças em tronco nu, cambaleantes e de caneca de cerveja na mão talvez a tolerância das autoridades seja menos rigorosa e as praças de toiros possam voltar a receber multidões. Já deviam saber que este país não é para tugas e, muito menos, para tugas que gostam de toiros, por isso adaptem-se...
Em Azambuja também houve caso metendo touradas. Neste caso, foi a presidente da junta eleita pelo PS mas agora candidata à câmara pelo Chega, que deixou um recado nas redes sociais a avisar que nos eventos que ainda vier a organizar “terá em consideração na escolha dos artistas o facto de se terem ou não manifestado contra as tradições”. O recado era dirigido aos artistas que assinaram uma carta aberta contra a transmissão de touradas na RTP.
A presidente da Junta de Azambuja explicou depois que a publicação foi motivada pela “defesa das tradições”. E se há tradições que por cá estiveram durante muitos anos na moda foram a censura e o índex. Das fogueiras ao lápis azul, diversas foram as formas de alimentar essas tradições que, visto o caso de Azambuja, parecem ainda pujantes. Primeiro, foram os artistas a querer impor uma ditadura do gosto e a querer censurar a emissão de um tipo de espectáculo (legal e ancestral) na televisão pública; depois, na resposta, a impetuosa autarca quis censurar os artistas e pôs-se a jeito para levar umas bordoadas nas redes sociais. É impressão minha ou, de parte a parte, isto foi só mesmo vontade de dar nas vistas?
Manel sou um fã do lema do Maio de 68 “É proibido proibir!”, mas também reconheço que todos temos (pelo menos) uma costela de ditador dentro de nós e que há sempre aquela tentação latente de querer a vida pintada das cores de que mais gostamos. Se pudesse censurar algumas coisas de que não gosto também o fazia, nomeadamente a bem da sanidade mental do colectivo e da reputação nacional.
Uma delas era as transmissões em directo das perseguições aos autocarros da selecção nacional e dos principais clubes de futebol, sempre que deixam o hotel ou o centro de estágios rumo ao estádio ou ao aeroporto. Há qualquer coisa de estranho num país quando todas as estações de TV, públicas ou privadas, consideram de relevante interesse noticioso mostrar em directo um autocarro em andamento durante quilómetros e quilómetros...
Saudações lusitanas do
Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...

    Capas

    Assine O MIRANTE e receba o Jornal em casa
    Clique para fazer o pedido