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Pedro Ribeiro diz que quando sair da câmara de Almeirim  já não volta; candidatura em Santarém está fora de causa
Pedro Ribeiro vai candidatar-se ao terceiro e último mandato na presidência da Câmara de Almeirim

Pedro Ribeiro diz que quando sair da câmara de Almeirim  já não volta; candidatura em Santarém está fora de causa

Pedro Miguel Ribeiro, presidente da Câmara de Almeirim, só pode fazer mais um mandato.

Pedro Miguel Ribeiro conseguiu o maior resultado para o PS na região nas últimas autárquicas. Esteve a poucos votos de ficar com um executivo só de socialistas, mas a CDU conseguiu segurar o seu lugar. O autarca, presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo, dos bombeiros voluntários da cidade e de mais uma série de organismos vai recandidatar-se a um terceiro e último mandato. Quando sair da câmara já não vai voltar, mas regressar para a sua profissão nas Finanças não é o que mais gostaria. Uma candidatura à capital de distrito é coisa que diz nunca ter sido uma questão em cima da mesa. Nesta entrevista, o autarca de 47 anos, recusa-se a falar das opções dos seus colegas, mesmo em situações prementes para a região como a construção do IC3 entre a Chamusca e Almeirim para desviar os camiões de transporte de resíduos de dentro das localidades. Mas é crítico em relação ao Governo e não se coíbe de dar umas ferroadas no seu partido. Defensor do poder local e do mundo rural diz que há gente em Lisboa que não sabe o que é o país e que tenta impor as suas vontades e os seus gostos. Chega mesmo a falar em idiotas quando um dia disseram que tinham de desviar a adega de Benfica do Ribatejo porque alguém com um programa informático fez um cenário em que as instalações podem ser atingidas pelas cheias no Tejo.

Tem vindo a fazer vários investimentos, mas há muita gente chateada com o mau estado de muitas estradas. O asfaltamento não é uma prioridade?

Vai sair um concurso para asfaltamentos no valor de 200 mil euros. Fazemos muitas obras por administração directa e isso implica termos recursos humanos e materiais, mas não conseguimos chegar a todo o lado. Vamos tentando priorizar as situações de acordo com o que a cada momento nos parecem as melhores opções e, muitas vezes, usando o custo de oportunidade.

Algumas das mais esburacadas são na zona dos restaurantes onde passam milhares de visitantes e onde o presidente passa todos os dias. Não tem vergonha?

Em condições normais essas ruas estariam alcatroadas. Temos um projecto de cerca de quatro milhões de euros para requalificar toda a zona e a ligação até ao IVV. É uma grande mudança no local, preparando o Parque das Tílias para várias valências, para eventos, estacionamento e zona sem circulação de carros. Por muito que critiquem, não faz sentido estar a fazer asfaltamentos num local que daqui por um tempo pode ser intervencionado. Passo lá por razões pessoais e percebo que é chato.

Qual é a necessidade de acumular tantos cargos?

As coisas acabam por ser fruto de um conjunto de situações. Já deixei o cargo na associação de futebol. Antes de ser presidente fazia um conjunto de coisas que continuo a fazer porque sinto que tenho disponibilidade para isso. Não deixo de estar todos os dias na câmara e de fazer muitas horas de trabalho.

Chega a ter vida pessoal com tanta coisa em que se envolve?

A vida pessoal é sempre difícil para quem está neste meio. A pandemia fez-me olhar para a vida e repensá-la. Reconheço que olho para a minha vida de forma diferente. Passei a fazer algumas coisas que não fazia, como ler um livro ou caminhar. Recentemente fui dar um passeio, coisa que não fazia há muito tempo. Agora tenho uma disponibilidade mental diferente de olhar para as coisas e faço actividades com o meu filho que não fazia antes.

É presidente dos bombeiros há anos. Não há mais ninguém com capacidade para ocupar esse cargo?

Com certeza haverá muita gente capaz. Já era presidente dos bombeiros antes de ser presidente de câmara e é algo que considero como um escape para o que é o meu dia-a-dia normal.

Conseguiu nas últimas eleições um resultado histórico para o PS. Tem um grupo de seguidores que o defende em todo o lado. Com quem é que aprendeu a técnica de controlar o eleitorado?

Não há qualquer controlo do eleitorado. Mantenho a mesma forma de estar na vida e nas redes sociais, onde respondo a toda a gente, mesmo quando são críticas. Nunca bloqueei uma pessoa. Só há dois tipos de comentários que não permito: os com palavrões e notícias falsas.

As críticas tiram-lhe noites de sono?

Prefiro ouvir falar bem do que mal. Há críticas em que as pessoas chamam à atenção e têm razão. E muitas vezes fazemos as coisas porque nos alertam. Há outras críticas que deixam de o ser porque explicando as situações, às vezes várias vezes, as pessoas continuam a criticar por criticar. Tenho que viver com isso, é a vida.

O FUTURO. VOLTAR ÀS FINANÇAS NÃO É O QUE MAIS GOSTARIA

Só pode fazer mais um mandato. Já está a pensar no futuro fora da câmara?

Gosto muito do que faço. Sou funcionário da autoridade tributária e estou colocado no serviço de finanças de Rio Maior. Daqui a quatro anos, se fizer mais um mandato, voltarei à minha profissão. Tenho consciência do que é o mundo da política. Não há ninguém insubstituível e o que hoje é amanhã já não é.

Está a ver-se a trabalhar nas finanças?

Não tenho problemas em dizer que não é o que adoraria fazer.

Ser candidato à Câmara de Santarém, está nos seus horizontes?

Isso nunca foi uma questão abordada. Gosto do que faço e sempre fui contra à limitação de mandatos porque, a existir, deve ser para todos, não só para deputados, mas para membros do Governo, assessores, chefes de gabinete… toda a gente. O que gostaria mesmo era de poder estar na Câmara de Almeirim. Gosto de cargos executivos e não me vejo como deputado, por exemplo.

Pode também parar quatro anos e depois voltar a candidatar-se a mais três.

Não coloco esse cenário, não faz sentido. Teriam que acontecer circunstâncias muito extraordinárias. Não faço ideias de voltar a ser presidente da Câmara de Almeirim após cumprir os meus três mandatos.

Se não gostaria de ir para as finanças, o que gostaria de fazer?

Para a minha sanidade mental não tenho pensado muito no que vai ser o futuro. Provavelmente quando estiver quase a sair é possível que comece a pensar nisso.

A ANSIEDADE DA FALTA DE ACTIVIDADES

Passava os dias a correr de um lado para o outro para estar em todas as actividades que se faziam no concelho. Agora, com a pandemia, deve estar desesperado.

Houve uma altura, neste segundo confinamento, que foi pior que a redução do ritmo que tinha causou-me ansiedade. O ser humano é sempre insatisfeito. Se é verdade que havia alturas em que ficava cansado de tanta iniciativa, agora há momentos em que estou cansado de não ter actividades.

Isso é próprio de um presidente que centraliza tudo, que quer controlar tudo…

Não. Efectivamente o presidente vai a todas, mas por norma os vereadores também vão.

Isso parece uma obsessão pelo culto da imagem. Se estão os vereadores a representar a câmara o que é que o presidente lá vai fazer?

O presidente acha que tem um cargo a 100 por cento. Vai às iniciativas porque é uma forma de perceber como as coisas estão, de contactar com as pessoas.

Os vereadores não conseguem perceber como estão as coisas?

Conseguem, por isso é que também estão nas iniciativas. Já quando era vereador eu ia a todas.

Quem acha que é o seu sucessor natural?

Isso está razoavelmente à vista das pessoas. É evidente. Não quero falar sobre o assunto e na altura que tiver de ser direi a minha opinião.

Ainda tem alguma coisa para apresentar no programa eleitoral?

Ainda há. Terminar a circular urbana é um objectivo. As requalificações da zona dos restaurantes e praça de toiros, do mercado municipal, da escola secundária. A criação dos parques urbanos em Fazendas de Almeirim e Benfica do Ribatejo. Ainda há coisas por fazer.

Os idiotas, os projectos falhados para a Lezíria e uma comunidade intermunicipal pouco interventiva

A comunidade intermunicipal, às vezes, parece um grupo de almoçaristas que se junta e está sempre tudo bem…

Somos mesmo amigos e damo-nos todos bem. E isso é bom!

Nos últimos seis anos tomou posição sobre dois assuntos: o hospital e, já depois de muito se falar, sobre a não inclusão de qualquer projecto para a região no plano de investimentos do Governo. Estamos perante uma espécie de ATL de autarcas.

Somos a comunidade intermunicipal que mais tem usado os fundos comunitários. Isto resulta do trabalho que não se vê. Temos duas formas de olhar para o sistema: ou gritamos ou fazemos. Vejo gente a gritar muito, até vejo comunidades onde não se conseguem entender para escolher o presidente. Isto nunca aconteceu na Lezíria, que é vista como um exemplo no país. Raras são as vezes em que entramos para uma discussão em que estamos todos de acordo. Mas temos a percepção que, no final, juntos seremos mais fortes.

Em relação ao hospital, com críticas a crescerem contra a administração, as obras no bloco operatório bloqueadas, a comunidade andou calada muito tempo.

Fizemos uma dezena de reuniões duríssimas nos organismos da saúde, com uma linguagem a roçar o inadmissível. Isso não saiu para o conhecimento público porque não tinha que sair. Quando falámos publicamente foi porque chegámos a um ponto em que já não havia forma de conseguirmos resolver a situação.

A estratégia da CIMLT é ser uma espécie de escritório de gestão de fundos comunitários e tentar passar despercebida.

Posso ser Dom Quixote e querer lutar contra moinhos de vento ou posso aproveitar o vento e navegar como entendo. Temos de viver com as linhas orientadoras do Governo e não vale a pena pensar que eu presidente de câmara, ou presidente da comunidade, ou a Associação Nacional de Municípios, ou os autarcas todos do país conseguem mudar o que é apresentado pelo Governo em Bruxelas. Foi definida como estratégia a eficiência energética. Nós podíamos dar mais ou menos gás. Fomos a comunidade que mais investiu na área.

A Lezíria do Tejo tem uma grande frente ribeirinha. Não vos incomoda a imagem de abandono de um recurso importante?

Estamos numa articulação estreita com os promotores do Projecto Tejo a fazer um trabalho que não se vê, mas que está a ser feito com pés e cabeça para o aproveitamento da água.

Mas a pergunta é sobre a requalificação das zonas ribeirinhas.

É preciso percebermos que as entidades que superintendem estas questões também não dão abertura. O meu colega do Cartaxo que tenta dinamizar a zona de Valada tem problemas sérios para fazer intervenções nessa zona.

Isso parece desculpa. Vila Franca de Xira tem conseguido fazer obras nas margens do Tejo.

Temos um problema com a Adega Cooperativa de Benfica do Ribatejo. Porque há um idiota qualquer que tem um computador e um programa informático que diz que se houver uma cheia com determinada dimensão ela pode chegar à adega. E vieram propor que desviássemos a adega 500 metros mais para cima. Perguntei se estavam a gozar comigo. Em Lisboa o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia está dentro do Tejo. Dizem que a zona do museu é zona portuária e não se aplicam as regras urbanísticas. Isto assim não é nada.

Lançaram há uns tempos um projecto para a eliminação dos pontos negros rodoviários. Até agora nada foi feito.

Tivemos um protocolo com a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Nunca houve vontade nem da autoridade nem do Governo.

Já disse várias vezes que o Governo não cumpre, que há protocolos que não têm seguimento. E se em vez de se queixarem recorressem aos tribunais?

Prefiro ir resolvendo as coisas a bem porque metemos uma acção no tribunal administrativo e talvez daqui a dez anos temos a primeira decisão.

O projecto das ciclovias entre Caneiras e Valada também não se concretizou por causa dos protocolos?

O projecto foi feito, mas não foi aprovado. A ideia era ligar por ciclovias os concelhos da Lezíria, mas não houve financiamento.

Touradas: “Sou contra fundamentalismos e há pessoas no meu partido que têm essa tentação”

Foi o autarca que mais se insurgiu contra acabarem com a transmissão das corridas de toiros na RTP. A sociedade e o seu partido em particular estão a ceder à pressão da tentativa de impor a opinião única?

Há algumas pessoas em Lisboa que vivem numa bolha entre a Assembleia da República e personalidades que pensam que aquela bolha é o país. O que se passa na assembleia não é o país. Quando se tomam posições sobre a tauromaquia, a caça, a vivência do mundo rural isso tem implicações para muita gente, para o modo de vida de muitas pessoas. Há muitos que vão a Vila Franca de Xira, a Cascais ou a Sintra e pensam que esse é o país… Sou contra os fundamentalismos e há algumas pessoas no meu partido que têm essa tentação.

Há uma tentativa de tirar as opções de escolha às pessoas e do politicamente correcto?

Vale a pena perguntar se as opções culturais que o ministério ajuda com centenas de milhares de euros e que têm 50 pessoas se devem manter. Quando começam a querer que façamos mudanças nos gostos então vamos fazer mudanças nos gostos todos. A RTP está numa lógica de que temos de mudar. Porque não questionar pro-gramas que não têm espectadores, que são para elites? A ministra da Cultura ou o secretário de Estado não po-dem impor os seus gostos. Em Almeirim não tenho que ter a programação cultural que gosto, mas a que deve ser para todos. Sempre tivemos más elites e há uma determinada elite que quer impor a sua vontade. Eles viram a luz e os outros vivem na escuridão e se não viram a luz deviam ter visto.

Se não houvesse um problema de indemnizações já tinha impedido a passagem de camiões para o Ecoparque

Almeirim está quase a concluir a circular urbana. Os seus colegas de Alpiarça e Chamusca, por onde passam também os camiões de resíduos para o Ecoparque, não deviam fazer o mesmo em vez de se lamuriarem com a não construção do IC3?

O IC3 é importante para a região. A circular urbana não resolve porque precisamos daquela ligação.

Mas as circulares retiravam os camiões de dentro das localidades.

Não comento as opções dos meus colegas. Na Lezíria há muitos anos que temos o princípio de não comentar as decisões dos outros. Não conheço o território dos meus colegas para emitir opinião.

Como presidente da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo dizer que não conhece o território deixa-o mal.

(Risos). Não falo sobre as opções estratégicas dos meus colegas.

Ou seja, cada um vive por si e não há uma estratégia global.

Não é isso. Definimos em conjunto estratégias globais, agora não sou eu que tenho de dizer que, por exemplo, uma estrada deve passar num local ou noutro. O IC3 tem de ser feito e é de uma grande desonestidade da administração central ainda não ter feito a obra. Sou a favor da descentralização e da regionalização, agora o que não posso é ter um Estado que abdica de um conjunto de competências e que não cumpre o que promete. O Estado não cumpre a sua palavra. É a negação da confiança que deve haver entre administração central e local.

A administração central sabe bem que tem as câmaras nas mãos.

A Chamusca resolveu um problema ao país ao permitir a instalação dos centros de tratamento de resíduos e o Estado só tinha de resolver o problema da construção do IC3. Se fosse possível eu já tinha fechado o trânsito aos camiões que transportam resíduos, mas juridicamente não o conseguimos. Se fecharmos a estrada depois estamos sujeitos a pagar indemnizações incomportáveis. Mas no dia que estivessem impedidos de circular o dinheiro aparecia para fazer a obra.

As câmaras deviam juntar-se e fazerem um itinerário complementar ou auto-estrada?

Já propus fazermos a auto-estrada por administração directa com a engenharia militar. Estamos disponíveis para fazer um estudo para serem as câmaras a construirem a auto-estrada e ficarmos com o recebimento das porta-gens. A falta de cumprimento das promessas só acontece aqui porque em Lisboa ou nos grandes centros isso não se passa. O distrito de Santarém vale nove deputados e Lisboa vale 57 deputados. É aqui que está o problema.

As comunidades intermunicipais nunca deviam ter sido autoridades de transportes

Como é que vão ultrapassar o imbróglio da gestão dos transportes públicos de passageiros cujo concurso não teve concorrentes e a Rodoviária do Tejo ainda avançou com uma acção em tribunal?

Não sabemos. Nós, comunidades urbanas, nunca devíamos ter sido autoridades de transportes. O Estado, mais uma vez, resolveu livrar-se de uma coisa que não controlava e na qual não tinha interesse. Mais uma vez se notam as diferenças entre a realidade dos grandes centros e a realidade dos outros.

Em que é que a administração central é culpada?

Alguns membros do Governo que não conseguem ver mais que Lisboa e Porto não conseguem perceber que as questões da mobilidade são fundamentais. Se tiver boas mobilidades posso movimentar pessoas das áreas metropolitanas para outros territórios. Foram impostas várias regras para os concursos e entretanto veio a pandemia. Os operadores que podem concorrer entendem que não há condições.

E agora qual vai ser a solução?

Há vários cenários em estudo. Ou mantemos o mesmo caderno de encargos que achámos que era sustentável ou fazemos um sistema de prestação de serviço pago ao quilómetro ao operador e a comunidade intermunicipal fica com o valor dos bilhetes ou podemos sermos nós a criar uma empresa de transportes.

Se a CIMLT faz uma empresa acaba com a Rodoviária do Tejo.

Não sei o que é que acontece. A nós cabe-nos estudar as situações e optar pelas soluções que mais nos interessam.

Pedro Ribeiro diz que quando sair da câmara de Almeirim  já não volta; candidatura em Santarém está fora de causa

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