Os jovens têm de ganhar capacidade de enfrentar situações adversas e o primeiro passo é começar a mostrar-lhes que nem tudo o que vêem online é tão fácil como parece. A ideia é defendida por Cláudia Mendes, 41 anos, psicóloga de profissão e directora técnica da Creche e Jardim Infantil de Benavente, uma Instituição Particular de Solidariedade Social criada em 1975 para dar resposta às necessidades educativas da comunidade.

“Muitas vezes criam-se expectativas irrealistas nos jovens e o confronto com a realidade acaba por desiludi-los porque vivem iludidos com a Era digital onde tudo parece um sonho, mágico, superficial e fácil. Mas têm de criar estratégias para situações com as quais se vão deparar no futuro e que nem sempre é como vêem nas redes sociais”, explica a responsável a O MIRANTE.

Cláudia Mendes é natural de Vila Franca de Xira e depois de se licenciar em psicologia clínica começou a trabalhar e pediu um estágio profissional na creche de Benavente. Começou a desenvolver trabalho na instituição ao nível da psicologia e por lá ficou, notando que Benavente é uma localidade com muita qualidade de vida e onde é bom residir e trabalhar.

A instituição tem, no seu edifício mais antigo, 80 crianças em actividades de tempos livres, 58 em creche e 125 crianças em jardim-de-infância. Em 2015 inaugurou novas instalações na zona de São Vicente, na entrada sul da vila, onde estão outras 84 crianças em creche. “Lidamos com dois tipos de pais, os que não sentem problemas e aqueles que ficam, naturalmente, mais apreensivos quando a criança não começa logo a caminhar ou a falar. Mas isso é natural, temos de esperar que cada criança tenha os seus ritmos de desenvolvimento. Fazemos parte de um padrão mas não somos o padrão”, explica a responsável, para quem lidar com os divórcios é a pior parte do seu trabalho.

Muita inteligência cognitiva

Para Cláudia Mendes o feedback dos pais é absolutamente fundamental para melhorar o serviço prestado à comunidade e elege a dedicação de toda a equipa como o factor essencial para o sucesso. “Uma pessoa sozinha não consegue fazer nada, é preciso acreditar na equipa que nos rodeia e está ao nosso lado”, refere.

Sempre gostou de ver séries policiais e tira-a do sério a má educação, falta de empatia e a intransigência. A maior virtude de trabalhar com crianças é perceber a sua inocência espontânea e ver que tem à frente futuros adultos. “A inteligência emocional é muito importante. Às vezes há muita inteligência cognitiva mas pouca inteligência emocional nas crianças”, afirma a profissional, que destaca o papel importante das creches no futuro cognitivo das crianças. “Fico satisfeita por, neste universo, as pessoas estarem atentas e terem consciência da educação dos seus filhos”, afirma.

A maior preocupação é a necessidade de dar respostas à comunidade. Na ocupação de tempos livres, por exemplo, já há filas de espera na instituição. “Temos uma lista de espera enorme no ATL e não conseguimos dar vazão. Temos mais candidatos que vagas, o que nos deixa tristes porque essas famílias precisam de ajuda. Benavente precisa de repensar a estratégia da educação e começar a criar estas ofertas”, conclui.