O bombeiro de Torres Novas em missão pelo mundo
Nelson Abreu tinha apenas 14 anos quando entrou pela primeira vez num quartel como bombeiro voluntário.
Hoje, aos 38 anos, faz parte da Força Especial de Protecção Civil. Já esteve em acção no Chile e em Moçambique e está sempre pronto para partir novamente, mesmo sabendo que deixa a família com o coração nas mãos.
Foi em 1993 que Nelson Abreu decidiu entrar no mundo do voluntariado e passar a integrar a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários Torrejanos, onde actualmente, com 38 anos, é sub-chefe. Quando vestiu a farda pela primeira vez nunca imaginou que ia ser bombeiro de profissão. “Ir para os bombeiros era quase uma forma de conviver, na altura. Não tínhamos o que os jovens de hoje têm por isso juntávamo-nos no quartel para jogar às cartas ou bilhar”, relembra Nelson Abreu.
Com o passar do tempo a paixão pelo que fazia foi crescendo e com a evolução que os bombeiros tiveram, principalmente a nível de formação, Nelson foi-se deslumbrando a cada nova aprendizagem. Em 2005, quando surgiu a oportunidade de integrar um projecto piloto para o que se chamava, na altura, as brigadas helitransportadas, Nelson não hesitou. Assim chegou à Força Especial de Protecção Civil.
Com preferência pela área dos incêndios florestais, desencarceramentos e condução fora de estrada, o bombeiro garante que, nos dias de hoje, com toda a formação que teve ao longo da carreira está pronto para qualquer situação para que seja chamado.
Missões no Chile e Moçambique
São já duas as missões que Nelson Abreu realizou fora do país. A primeira foi no Chile, em 2017, onde combateu aquele que ficou registado, à época, como o maior incêndio do mundo. “O Chile pediu ajuda internacional e Portugal respondeu ao apelo. Quando me ligaram a perguntar se estava disponível nem pensei duas vezes, disse automaticamente que sim”, confessa o bombeiro, acrescentando que “para quem gosta do que faz ir para uma missão assim, onde o desafio é enorme, só aumenta a vontade de ajudar e combater”.
Com uma filha, com quatro anos, Nelson Abreu nem teve tempo de pensar muito no quanto ia custar estar longe. “Quando os dias começaram a passar é que tive noção e a saudade começou a apertar”, conta. Ainda assim, as novas tecnologias permitiam-lhe ver a família, sempre que possível, o que ajudava a controlar as saudades quando nem sabia o dia de voltar a casa.
A previsão era ficar 10 dias no Chile a combater as chamas, mas quando se parte numa responsabilidade destas nunca se tem a certeza da data de regresso. Ficou 18 dias em missão. Ainda assim esta foi uma missão mais curta e com mais “conforto” do que aquela que enfrentou em Moçambique, após o ciclone Idai.
“Quando vamos numa missão destas temos de ser autossuficientes, ou seja, não podemos estar a pedir comida, água ou dormida aos locais. O que levamos connosco no avião é tudo o que temos. Se no Chile houve a possibilidade de nos darem cama em Moçambique foi completamente diferente”, explica. À chegada montaram tendas e passou 14 dias, dos cerca de 30 que durou a missão, a comer apenas ração de combate. Nelson partiu com a noção de que ia encontrar um país completamente destruído. “Mas nada nos prepara, verdadeiramente, para o que vi por lá”, diz.
Miséria cheia de gratidão
Moçambique é, um país com muitos problemas por isso Nelson sabia que o que ia encontrar não seria fácil. “Talvez se o ciclone Idai tivesse sido em Portugal o grau de destruição não fosse o mesmo, lá as construções são todas muito frágeis”, começa por dizer.
Aceitou ir nesta missão mais uma vez sem questionar. No entanto, se na primeira sabia o que ia fazer nesta não tinha a mínima noção. “Íamos para ajudar no que fosse preciso”. Foi isso mesmo que acabou por acontecer. A destruição era tanta, a fome estava por todo o lado. O objectivo principal era tentarem pôr as cidades mais afectadas a funcionar minimamente.
“Cortámos árvores, desimpedimos estradas, limpámos escolas, arranjámos máquinas. Colocámos em prática o que cada um de nós sabia para podermos ajudar, mas o que mais via era a carência de comida e água”, salienta.
A coisa que mais marcou este bombeiro foi ver de perto as necessidades daquelas pessoas. “Gostava de ter feito mais por eles, mas também não tinha como fazê-lo. Muitas das vezes dava-lhes água e comida que supostamente era para mim”. Era nestes gestos que Nelson via a gratidão no rosto das gentes locais, fazendo-o ter a certeza que, apesar de estar longe da sua família, partir tinha sido a decisão correcta.
Nelson garante que partiria hoje novamente se fosse necessário. “A mala está sempre pronta de cada vez que entro ao serviço. Se for chamado vou”. E acrescenta: “Não tenho dúvidas de que quem cá fica, fica de coração nas mãos. Principalmente quando tenho de partir sem ter muito tempo para despedidas. De certa forma já se habituaram e sabem que saio sempre com um objectivo: o de regressar a casa”.