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Avós que levam netos ao baloiço e a brincar às bonecas
João e Lurdes Gonçalves defendem que, apesar da base da educação ser dada pelos pais, os avós são fundamentais na formação dos netos. Francisco Bentes defende que os netos rejuvenescem os avós

Avós que levam netos ao baloiço e a brincar às bonecas

Francisco e Fernanda Bentes vivem na Bemposta, Abrantes, e gostam de fazer todas as vontades aos seus dois netos. João e Lurdes Gonçalves vivem em A-dos-Loucos, Vila Franca de Xira, e têm três netos; Lurdes nunca teve filhos por isso é avó de coração e diz que é uma experiência incomparável. Uma reportagem de O MIRANTE a propósito do Dia Mundial dos Avós.

Francisco Bentes defende que os netos rejuvenescem os avós

Avós que fazem todas as vontades aos netos

Sentada numa cadeira, Maria Clara, de cinco anos, assiste atentamente aos desenhos animados que passam no computador colocado em cima da secretária. A seu lado está o avô, Francisco Bentes, 66 anos, a organizar papéis enquanto toma conta da neta. Maria Clara, que vive com os pais em Marvão, distrito de Portalegre, está a passar uns dias de férias na casa dos avós, na Bemposta, freguesia do concelho de Abrantes.

Francisco e Fernanda Bentes são casados há 45 anos e dividem o seu tempo entre a Bemposta e Marvão. É lá que vive a única filha do casal, de 44 anos, onde tem um negócio de turismo rural e um restaurante. O pai de Francisco Bentes tem 91 anos e o filho toma conta dele de 15 em 15 dias. “Durante duas semanas sou eu que cuido do meu pai e nas outras duas semanas é a minha irmã. Quando tenho que cuidar do meu pai estou na Bemposta, onde nasci e vivi sempre. Nos outros dias vamos até Marvão e ajudamos a cuidar dos netos”, explica Francisco Bentes a O MIRANTE.

O casal tem ainda outro neto, Francisco, de 14 anos, que aproveita os tempos livres para estar com os amigos e jogar playstation. A idade é outra e Francisco já aprecia passar tempo sozinho embora não abdique da companhia dos avós. Maria Clara gosta de dormir com a avó porque, confessa, tem medo do escuro.

Francisco Bentes não tem dúvidas que os netos rejuvenescem os avós. “Sentimo-nos com mais vida e com vontade de viver para acompanharmos o seu crescimento”, afirma, acrescentando que criar netos é diferente de criar filhos. “Com os filhos temos a responsabilidade de os educar e não facilitamos. Também educamos os netos, mas cedemos mais e fazemos-lhes quase todas as vontades”, realça.

Fernanda Bentes não esteve presente na conversa com O MIRANTE por motivos de saúde, mas é habitual cozinhar os pratos preferidos dos netos apesar de não serem esquisitos. Tanto o avô como a avó passam tardes a brincar com a neta e, algumas vezes, Francisco leva Maria Clara ao parque para andar nos baloiços. Muitas vezes Fernanda brinca às bonecas com a neta mais nova.

A pandemia afastou muitas famílias e esta não foi diferente. Entre Setembro e Dezembro de 2020 estiveram sem contacto presencial. “Foi complicado porque nada supera a presença e o contacto físico. As novas tecnologias ajudam e falávamos todos os dias, mas não há melhor do que o conforto de um abraço. Só nos encontramos no Natal mas foi tudo muito restrito, com poucas pessoas”, lamenta Francisco Bentes, que foi contabilista e presidente da Junta de Bemposta durante três mandatos.

João e Lurdes Gonçalves defendem que, apesar da base da educação ser dada pelos pais, os avós são fundamentais na formação dos netos

A importância de dar aos netos estímulos sem ser o computador

É mais fácil cuidar dos netos quando já se está reformado, confessam João e Lurdes Gonçalves, para quem ser avô é uma experiência única, irrepetível e que deve ser vivida e apreciada ao máximo. O casal vive há duas décadas em A-dos-Loucos, Alhandra, e diz que o concelho de Vila Franca de Xira é muito bom para viver e criar os netos. João Gonçalves é de Alfama, Lisboa, e trabalhava na indústria química. Lurdes Gonçalves é de Tomar e trabalhava num laboratório farmacêutico. Têm três netos que dizem ser o seu maior orgulho: Miguel Alpendre, Beatriz Gonçalves e Leonor Gonçalves, de 7, 14 e 19 anos.

Para Lurdes Gonçalves a experiência de ser avó é diferente do habitual, pois é “avó de coração”, por nunca ter tido filhos. “Nunca tive filhos mas vivi sempre com crianças, tinha três sobrinhos e um afilhado e ser avó sem ser mãe é um espectáculo. É das melhores coisas da vida e amo-os muito a todos”, conta a O MIRANTE, com emoção.

Lurdes Gonçalves confessa ser mais agarrada às raparigas e admite ter ganho um “amor incondicional” às netas por terem passado muito tempo com ela. “Cada um dos netos sabe que tem os avós todos por igual e que todos gostam muito deles”, refere.

João Gonçalves ainda hoje se emociona a recordar o dia em que soube que ia ser avô pela primeira vez. Estava de férias com a família quando estranhou ver a filha enjoada. Foi à farmácia comprar um teste rápido de gravidez e soube do resultado pouco depois. Desde então a vida tem sido uma emoção e uma aprendizagem permanente. “Fazemos este percurso juntos. As minhas netas nasceram no mesmo dia com uma diferença de 20 minutos entre si, no mesmo hospital, no mesmo quarto mas com cinco anos de diferença. É uma curiosidade muito gira”, partilha.

Na sua opinião, os avós têm a tarefa, para além de cuidar dos mais pequenos quando os pais não podem, de ajudar na sua educação e levá-los a conhecer novas experiências. “Gostamos de levar o Miguel a conhecer outros sítios e experiências para perceber que a vida não é só computadores e que os frangos não nascem no supermercado”, afirma.

O casal diz que o seu maior receio é a velocidade com que passa a vida. “Temos de aproveitar todo o tempo com os nossos netos enquanto são pequenos porque depois crescem, ganham a sua própria vida e fogem-nos. É o percurso normal”, vincam.

João e Lurdes Gonçalves são optimistas e acreditam que a geração dos netos terá um futuro positivo. “Aquando da troika chegámos a dizer a uma das netas para sair do país e trabalhar no estrangeiro. Hoje, felizmente, as coisas estão melhores. Mas ainda vemos que os jovens são os mais prejudicados a arranjar emprego neste país e vemos muitos licenciados a ser explorados. Acreditamos que as coisas vão melhorar”, contam.

Para os avós a idade é sinónimo de experiência, permitindo-lhes compreender melhor algumas atitudes dos netos que na altura não compreendiam nos filhos. “Os avós são fundamentais na formação dos miúdos porque temos mais tempo para eles, mas a base da educação tem de ser dada pelos pais. A primeira palavra é sempre deles, a nós cabe ajudar e amá-los muito”, concluem.

Avós que levam netos ao baloiço e a brincar às bonecas

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