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Miguel Martinho: “Espero que as touradas nunca acabem”
Miguel Martinho é consultor imobiliário na Remax, Grupo Vantagem, e é vice-presidente do Centro de Bem-Estar Social de Vale Figueira, concelho de Santarém

Miguel Martinho: “Espero que as touradas nunca acabem”

Miguel Martinho tem 46 anos e duas filhas, uma com 16 anos e outra que celebrou o primeiro aniversário a 1 de Outubro. Diz que a vida muda totalmente quando nasce um filho mas que é a melhor experiência e aventura da vida. O consultor imobiliário é também vice-presidente do Centro de Bem-Estar Social de Vale Figueira, concelho de Santarém, onde viveu até aos 22 anos. É um defensor das tradições e acredita que as touradas são um espectáculo que não vai acabar.

O meu primeiro trabalho foi ligado à agricultura. Era responsável pelas cargas e descargas e pesagem de tractores agrícolas e camiões num secador de milho em Vale Figueira. Eram trabalhos de Verão que se prolongavam, muitas vezes, até Novembro. Saía da escola e ia para lá trabalhar. O dinheiro que recebia era para as minhas coisas e sair com os amigos. Aprendi desde cedo a valorizar o dinheiro.

Gosto de comunicar com as pessoas e queria um emprego que me permitisse andar na rua. Trabalhei durante muitos anos no CNEMA (Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas) e foi aí que comecei a ganhar o bichinho pela área comercial. Nessa altura trabalhava na parte administrativa, contabilística, financeira e também tinha que encontrar expositores para os vários certames que lá decorriam. Percebi que queria comunicar com as pessoas de forma mais próxima. Ainda trabalhei alguns anos num banco e, em 2008, surgiram alguns negócios que me levaram para o ramo imobiliário.

Em 2013 desafiaram-me para trabalhar no Remax Grupo Vantagem, em Santarém. O meu objectivo é solucionar o problema das pessoas. É em casa que se chora, ri e passamos os momentos mais importantes e privados da nossa vida. Por vezes não é fácil vender o nosso bem mais precioso. Há muita gente que se ilude com a possibilidade de conseguir vender a casa sozinho mas, por experiência própria, sei que é muito mais difícil concretizar o negócio.

O mercado imobiliário tem crescido mesmo com a pandemia. Existem muitas pessoas que vivem nos grandes centros urbanos, como Lisboa, e querem voltar a viver no campo. Santarém é a cidade ideal porque tem qualidade de vida e está perto de Lisboa. Temos uma boa rede de transportes, quer de autocarro quer de comboios. Há muita gente que opta por viver em Santarém e vai todos os dias de transportes públicos para Lisboa.

Existem casas para venda em Santarém, pode é não haver no local onde querem. Normalmente as pessoas querem casa no centro de Santarém mas no centro existem apartamentos. Se sairmos um bocadinho do centro encontramos muitas moradias com muito sossego e uma vida de campo maravilhosa, com mais privacidade. Existem casas no centro histórico mas os negócios são mais complicados. Ou porque os donos são idosos ou porque os herdeiros não chegam a acordo. Além disso, há investidores para o centro histórico de Santarém mas a burocracia na câmara municipal é muita, o que dificulta todo o processo.

Devemos olhar para as nossas tradições e ver o que o meio rural tem para oferecer. Sou vice-presidente do Centro de Bem-Estar Social de Vale Figueira e pertenço à colectividade desde a fundação, em 1997. A aldeia precisava de um espaço destes e entretanto construímos também um lar que tem capacidade para 40 pessoas e está lotado. Além disso, existe o centro de dia e apoio domiciliário que dá apoio ao dobro de pessoas que estão no lar. Temos que cuidar dos mais velhos e criar-lhes condições para que possam viver a última fase da vida o melhor possível.

Durante a pandemia andei a distribuir bens alimentares e refeições aos idosos de Vale de Figueira. Nasci em Santarém mas vivi até aos 22 anos nessa aldeia do concelho, onde ainda tenho casa. Éramos o único meio de contacto com o exterior que os idosos tinham. Estavam fechados em casa e o medo era tanto que desinfectavam tudo o que nós deixávamos. Lembro-me que passava muitas vezes por um viaduto por cima da A1 e a auto-estrada estava deserta. Nunca pensei ver aquele cenário.

Não acredito que as touradas acabem. Sou aficionado e tem que haver respeito entre todos. Se eu me considero tolerante, os anti-taurinos deveriam fazer o mesmo. Há muita gente que gosta deste espectáculo. Nos últimos tempos, mesmo com a lotação das praças reduzida por causa da pandemia, as praças de toiros têm esgotado, o que significa que as pessoas querem ver. Há tradições que são para manter.

A elevada abstenção nas eleições em Portugal deve-se ao descrédito da classe política. Há o fenómeno dos partidos populistas que dizem o que as pessoas gostam de ouvir, mesmo que saibamos que se fossem Governo nunca implementariam nada do que dizem. A verdade é que existem pessoas que vão votar nesses partidos como forma de ‘castigar’ os principais partidos que não se têm preocupado com os reais problemas dos cidadãos.

Gostava de conhecer África. Talvez porque nunca tenha ido. Tenho amigos que foram viver para Angola e Moçambique e as imagens que vejo do que me enviam é de paisagens paradisíacas. Já fui duas vezes ao Brasil, mas se fosse agora talvez trocasse uma dessas viagens por São Tomé e Príncipe, Moçambique, Guiné ou Angola. A última viagem que fiz foi a Barcelona, uns dias antes do primeiro confinamento, e tive a percepção de que não poderíamos viajar tão cedo. Viajar é das melhores coisas para o enriquecimento da cultura de uma pessoa.

Miguel Martinho: “Espero que as touradas nunca acabem”

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