Os melhores do Mundo a roçar o cu pelas esquinas e a arranjar médicos de família aos berros
Sadio Serafim das Neves
Já percebi que o tal empoderamento feminino de que falas no último e-mail a propósito das caixas de supermercado, se abateu sobre nós de forma diferente. A mim, numa altura em que não havia ninguém na fila para pagar, a empoderada, digamos assim, que me atendeu, fez-me andar a toque de caixa. A ti, numa hora de ponta, calhou-te uma empoderada mais dada ao atendimento Zen na vertente lesma lenta.
Tendo meditado sobre o assunto a única explicação que encontro para esses dois comportamentos tão diferentes está no tradicional espírito de contradição que tanto usamos como forma de afirmar a nossa santa liberdade. É uma variante do: ‘se queres que me vacine, eu recuso, mas se não me dás a vacina, eu protesto!’.
No caso das caixas de supermercado empoderadas será qualquer coisa como: ‘Ai, estás com pressa?! Então aguenta!!’ e, se não houver ninguém na fila: ‘Ai, estás na sorna?! Então toma lá, que até vais a nove!!’.
É claro que há excepções a esta saudável regra. Eu, por exemplo, se me apressam faço questão de abrandar, mas se não me apressam, em vez de acelerar, como seria de esperar, ainda fico mais lento.
Só esta semana é que fiquei a saber que há uma modalidade chamada Footgolf, uma espécie de golf ao pontapé com buracos em vez de balizas. A minha ignorância é vastíssima, mas a capacidade de alguns para criarem modalidades onde possamos ser campeões, ainda é maior. E não é de agora.
Quantas acaloradas discussões eu ouvi, quando era novo, sobre a injustiça que era o hóquei em patins não ser modalidade olímpica, por exemplo. Na altura éramos campeões do Mundo e pensávamos que o ouro olímpico estava no papo.
O hóquei acabou por ser modalidade de demonstração em 1992, nos Jogos de Barcelona, mas nem à final, em que a Argentina ganhou à Espanha, conseguimos ir passando a partir daí a lutar pelo bilhar de bolso olímpico uma vez que é praticado em todo o mundo, tanto na vertente masculina e feminina. Infelizmente, a moda das calças sem bolsos ou com bolsos onde não cabe uma mão tem dificultado a coisa. A coisa e o coiso, digo eu, para cumprir a regra da não discriminação de género.
Lembrei-me agora do pessoal que anda por aí a roçar o cu pelas esquinas. Será que aquilo já é modalidade reconhecida? Praticantes há por aí às resmas e todos me parecem capazes de fazer os mínimos. Queres ver que um dia destes vamos ter mais medalhas de ouro que a China, os Estados Unidos da América e a Rússia todos juntos. E o Presidente Marcelo vai andar eufórico a condecorar campeões e campeonas.
Vi umas fotos de uma manifestação em Azambuja por causa da falta de médicos. O assunto é grave e cada uma das pessoas entrevistadas pelos jornalistas deu a sua sentença. Pelo que ouvi, ministros da Saúde para o próximo Governo não vão faltar, ganhe quem ganhar as eleições de 30 de Janeiro. Médicos é que não sei.
E se algum viu as caras zangadas do povo que andou na mánife não me admirava nada que se tenha assustado, até porque as agressões a profissionais de saúde continuam em alta. E quem é que quer ganhar o que ganha um médico e ainda por cima sem subsídio de risco??
Um abraço olímpico
Manuel Serra d’Aire