Abusos sexuais a crianças estão a aumentar em VFX
Tendência de subida tem sido registada nos últimos três anos. Comissão de Protecção de Crianças e Jovens diz-se atenta ao fenómeno. Estatísticas revelam que uma em cada cinco crianças é abusada e fica em silêncio por vergonha ou medo.
O abuso sexual de crianças está a aumentar no concelho de Vila Franca de Xira e por isso é preciso uma nova consciencialização da comunidade para os perigos deste inimigo silencioso. Segundo as contas da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Vila Franca de Xira, o abuso de menores no concelho tem registado um aumento constante: 22% em 2019 e 27% em 2020, com as contas de 2021 ainda por fechar.
Apesar de ser dos crimes que mais tem subido o abuso sexual sobre menores representa apenas 2,67% do total de casos acompanhados pela CPCJ. A maioria diz respeito a violência física. “Actualmente temos 600 processos activos e desses 28 são relativos a abuso sexual. Os casos têm aumentado e temos de olhar com muito cuidado e atenção para esta problemática e tendência”, explica a O MIRANTE Ana Luísa Matos, presidente da CPCJ vilafranquense.
Ao todo foram sinalizados e comunicados à CPCJ 1.160 processos de crianças em perigo no último ano. Segundo os últimos Censos existem 37 mil crianças e jovens no concelho de Vila Franca de Xira.
Para discutir a importância e os riscos envolvendo os abusos sexuais a CPCJ promoveu na quinta-feira, 18 de Novembro, no auditório do Ateneu Vilafranquense, com o apoio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, um seminário dedicado ao tema. O objectivo foi despertar a consciência pública para a necessidade de prevenir e proteger as vítimas destes crimes e facilitar a discussão aberta sobre a protecção de crianças ajudando a prevenir e eliminar a estigmatização das vítimas.
“Queremos alertar toda a gente dizendo que não estão sozinhos neste drama que a qualquer momento pode sair detrás de uma esquina e acontece em qualquer contexto. Temos de ter um olhar crítico sobre o que vemos do comportamento das crianças e não ter medo de actuar e pedir ajuda”, explica Ana Luísa Matos.
“Infelizmente não podemos dizer que há um perfil para o maltratante, se é rico ou pobre. A natureza humana é única e imprevisível e em qualquer contexto isto pode acontecer”, lamenta a responsável.
As estatísticas mostram que uma em cada cinco crianças é vítima de abuso sexual e, dessas, uma em cada três é rapariga. “Estarmos desconfiados é meio caminho para actuarmos. Em caso de dúvida é sempre melhor proteger. Nenhuma criança fica para trás”, explica.
O seminário, em que participaram escolas, agentes de saúde, forças policiais, associações, segurança social e autarcas, contou com 165 participantes de todo o país.
Abusado pelo vizinho no chuveiro
Lembrar, reagir, responsabilizar, partilhar e alertar são as palavras-chave na luta contra este crime que não tem dado mãos a medir às autoridades policiais, notaram José Matos e Rodrigo Carreira, inspectores da Polícia Judiciária que estão no piquete dedicado ao abuso sexual de menores.
A proximidade dos agressores com as vítimas é o principal risco. Até 72 horas é possível recolher vestígios corporais dos abusos pelo que a rapidez de intervenção é fundamental. Só o ano passado a PJ foi accionada 431 vezes para este tipo de situações e realizou 70 detenções, que resultaram em 57 prisões preventivas, muitas delas concretizadas em penas de prisão efectiva.
Rodrigo Carreira lembrou um caso de 2020, resolvido pela justiça em apenas seis meses, de um homem, vizinho da vítima, que abusou sexualmente da criança que vivia no seu prédio e que hoje está preso. “Aliciou-a para entrar em sua casa, ver o Rei Leão e depois levou-a para o chuveiro. A criança descreveu-nos os pormenores mais íntimos do que acontecem mas que não podia contar por ser segredo”, revelou. Em pleno acto o homem foi surpreendido pela mulher que entrava em casa. “Disse que estava a limpar os piolhos da criança”, notou. As perícias da Judiciária e as inquirições da PJ comprovaram os abusos.