Família que perdeu tudo num incêndio tenta recomeçar do zero
As chamas consumiram a habitação da família Vilelas, do Porto Alto, que agora vive em casa de amigos. Por meio de doações já conseguiram algum recheio para a casa, mas falta material de construção.
Já passava das três da madrugada quando Daniela Vilelas acordou no meio das chamas. Tudo o que a rodeava naquele quarto estava a arder. Sabia que precisava de agir rápido mas o fumo atrapalhava-lhe o pensamento. “A minha perna ardia. A porta queimava, mas com uma camisola nas mãos consegui abri-la. Saí aos gritos pela minha mãe”. Saíram todos para a rua e sem nada nas mãos agarraram-se à vida. “Agora estamos a tentar começar do zero”, diz quase em sussurro a jovem de 20 anos que ainda não recuperou a voz devido à inalação de fumo.
Daniela Vilelas esteve seis dias em coma por causa das queimaduras de terceiro grau e os pulmões, “já avisaram os médicos”, vão ficar com sequelas para toda a vida. Desde a noite do incêndio que destruiu a casa a esta família do Porto Alto, concelho de Benavente, que Eulália Vilelas, mãe de Daniela, só consegue ver duas imagens quando tenta adormecer agora na casa que uns amigos lhes emprestaram. “Fecho os olhos e só vejo a minha casa a arder e a minha filha no hospital toda entubada. Estou sem forças e não sei onde as ir buscar”.
Todo o recheio da casa, desde móveis a electrodomésticos, roupas e loiças perderam-se. Uma semana depois da noite do incêndio, que teve origem num aquecedor, só as paredes estão de pé. “Esta imagem é miserável. Ver o meu lar, a única casa onde morei assim”, lamenta Daniela Vilelas enquanto olha do lado de fora pela janela para um interior negro e vazio. Lá dentro António e João Vilelas, o seu pai e irmão, fazem uso de um martelo para deitar abaixo o reboco queimado. “Isto está um perigo, vai ter que ir tudo ao chão. É como construir uma casa de raiz”, diz António Vilelas, que trabalha como bate-chapas.
A vida nunca foi fácil para esta família. O dinheiro nunca deu para luxos ou algum extra. Sempre foi contado. “Chegamos a fazer só uma refeição por dia para conseguirmos pagar as despesas. E agora acontece-nos isto”, diz Eulália Vilelas que abriu há quatro meses na localidade um café que “não tem dado lucro”.
Enquanto aprendem a recomeçar do zero porque, como diz António com um sorriso, “a vida não acabou”, a população tem sido um aliado de peso. “Têm-nos ajudado muito com refeições e já nos deram alguns móveis e electrodomésticos para a casa”, conta. Mas o que esta família precisa neste momento é de materiais de construção para que possam regressar ao seu lar.
Numa lista improvisada os empresários do sector da construção civil, Hélio Cruz e Cristiana Bento, que nessa manhã de domingo ofereceram as suas mãos para trabalhar, vão enumerando: tijolos, cimento, areia, azulejo para o chão e paredes, tintas, massas de acabamento, materiais de canalização e electricidade, portas, armários de cozinha e louças sanitárias. As doações, que podem ser monetárias ou em material, podem ser entregues a Eulália Vilelas.
O incêndio deflagrou na madrugada de quinta-feira, 11 de Novembro, e mobilizou os Bombeiros de Benavente e Samora Correia. Dois dias depois os serviços da Câmara de Benavente estiveram no local para informar que vai abrir um concurso de apoio social ao qual a família, como qualquer outro munícipe, pode concorrer para beneficiar de materiais de construção civil para a reparação da habitação.