Fecho da central a carvão do Pego deixa 150 pessoas sem trabalho
Governo diz que a medida não vai ter impacto social nos trabalhadores e que estes vão ser integrados em novos projectos, que ainda não se sabe quais serão. Unidade antecipou desactivação, prevista para 30 de Novembro, e Portugal deixou definitivamente de usar essa matéria-prima para produzir electricidade.
A Central Termoelétrica do Pego, em Abrantes, deixou de usar carvão na produção de electricidade na sexta-feira, 19 de Novembro, o que significa que Portugal deixou, nessa data, de utilizar essa matéria-prima como fonte de energia eléctrica. A informação foi divulgada pela associação ambientalista Zero, que espera que o futuro da Central do Pego não passe agora por queimar biomassa.
Sábado foi o primeiro dia de produção de electricidade sem recurso à queima de carvão depois de a Central do Pego ter esgotado o stock de carvão que tinha apesar de estar licenciada para funcionar até 30 de Novembro. Para os ambientalistas é fundamental agora garantir o enquadramento dos 150 trabalhadores directa e indirectamente afectados e promover soluções que não ponham em causa os ganhos ambientais conseguidos.
Ministro diz que o Governo está a “cuidar” dos trabalhadores
O ministro do Ambiente já assegurou que não vai haver problemas sociais para os trabalhadores com o fim da central a carvão do Pego e mostrou-se confiante de que estes serão integrados em novos projectos. Em entrevista à RTP3, João Pedro Matos Fernandes considerou “muito relevante” o dia que marca o fim da utilização de carvão para produção de electricidade em Portugal e destacou que o Governo está a “cuidar” dos trabalhadores e dos projectos alternativos que se perspectivam para este ponto de ligação à rede eléctrica.
“Não vai haver nenhum problema social porque soubemos com tempo o que ia acontecer e estamos mais do que preparados. Percebo a preocupação dos trabalhadores, mas vai mesmo correr bem. E vai correr em três dimensões: no apoio social; no concurso para aquele local, que é um ponto de ligação com uma dimensão enorme e em que até 17 de Janeiro as propostas serão conhecidas; (…) e o fundo para a transição justa”, explicou.
Nesse sentido, o ministro do Ambiente e da Ação Climática notou que “as pessoas não foram ainda despedidas” e assinalou que o concurso em curso tem como factor de preferência a manutenção do maior número de postos de trabalho. “É um estímulo”, disse, continuando: “Os trabalhadores fazem parte do requisito primeiro, que é o de atribuição daquele ponto de ligação à rede. Quem tiver a melhor proposta vai ganhar, vai ficar com uma parcela muito significativa destes trabalhadores, mas vai também, muito provavelmente, criar novos postos de trabalho”.
PCP diz que cartas de despedimento já começaram a chegar
No entanto, em pergunta enviada ao Governo na passada semana, o deputado do PCP António Filipe garante que há “já dezenas de trabalhadores que receberam cartas de despedimento”. E reforça que este encerramento terá lugar num quadro de enorme incerteza para todos os trabalhadores.
“Não se sabe qual será o futuro da Central, não se sabe quando e em que termos poderá reabrir, não se sabe qual o futuro profissional dos trabalhadores envolvidos, não se sabe em concreto que medidas serão tomadas para apoiar socialmente estes trabalhadores e as suas famílias”, sublinhou António Filipe, que questionou o Governo sobre a possibilidade de suspender o encerramento da central a carvão do Pego, pelo menos até que estejam definidos, em concreto, os termos da reconversão futura daquela unidade.
Ambientalistas contra queima de biomassa
O fim da actividade desta central suscita agora a questão das alternativas sendo o recurso à queima de biomassa uma das soluções preconizadas, mas que a ZERO alerta não ser “sustentável”.
A associação defende que a concessão do ponto de ligação da Central do Pego deverá ter em consideração apenas projectos que resultem da “utilização de fontes de energia verdadeiramente renováveis e que de forma alguma se coloque a possibilidade de recurso a biomassa tendo em consideração que esta não é, nem será de forma alguma renovável”.
Os ambientalistas alertam ainda para a escassez de biomassa residual florestal em território nacional, atendendo a que num raio de intervenção de 80 quilómetros são já inúmeras as centrais de biomassa e indústrias florestais que competem pela matéria florestal residual.