Primeiro centro comercial da Póvoa de Santa Iria reduzido a meia duzia de lojas
O Centro Comercial Nacional 10 é uma sombra do que foi no passado. O espaço está entregue a meia dúzia de lojistas que continuam a tentar fazer pela vida apesar de não terem clientes. Em conversa com O MIRANTE, os comerciantes afirmam que é preciso investir mais na diversidade de oferta, mas admitem que agora pode ser tarde demais.
Situado numa zona habitacional, junto à Estrada Nacional 10, o primeiro centro comercial da Póvoa de Santa Iria vive momentos complicados devido à falta de lojas e clientes. O edifício do Centro Comercial Nacional 10, para os menos atentos, passa despercebido; no entanto, é difícil não reparar no seu estado avançado de degradação e abandono. O MIRANTE visitou o espaço numa tarde de quinta-feira e falou com meia dúzia de lojistas que ainda resistem à mudança dos tempos e continuam a fazer pela vida num local que, dizem, já foi uma referência no concelho de Vila Franca de Xira. Durante as duas horas de reportagem O MIRANTE não encontrou nenhum cliente.
A primeira loja que o repórter encontrou pertence a Márcia Louro, nutricionista e especialista em terapias alternativas. Naquele momento já tinha atendido todos os clientes com marcação feita e aguardava pela chegada de mais alguns. Com portas abertas há cerca de dois anos, explica que não tem sido fácil conseguir dinamizar o espaço. Márcia Louro sempre viveu na Póvoa de Santa Iria e recorda com saudade as tardes em que vinha ao centro comercial com a família e tinha de esperar para entrar nas lojas devido à concentração de pessoas. Actualmente atende em média 15 clientes por semana, o que dá cerca de três clientes por dia.
A proximidade a Lisboa e o facto da cidade ser um dormitório para quem trabalha na capital é a principal razão, na opinião dos lojistas, para não se conseguir empreender.
Nas duas lojas em frente à de Márcia Louro existe um espaço de tosquia de animais e uma loja de antiguidades, gerida por Esmeralda Gomes. Todos os dias “O Tesouro” abre as portas, mas não recebe muitos clientes por semana. Se não fosse a presença na Internet, Esmeralda não conseguia facturar o suficiente para colocar o pão na mesa. No seu ponto de vista, para dinamizar o centro é preciso investir na diversidade. “Só temos cabeleireiros, esteticistas e pouco mais. É preciso investir em projectos interessantes e que chamem a atenção das pessoas”, afirma, salientando que haver muitas lojas vazias e em mau estado também é uma desvantagem que trava o investimento.
“Meia dúzia de teimosos que precisam de trabalhar para viver”
No fundo das escadas para o rés-do-chão estão os dois espaços há mais tempo abertos no centro: a Loja das Borrachas e o café de Glória e Joaquim Beja. Nestor Santos é o proprietário da Loja das Borrachas desde 1998. “Nessa altura este era um espaço cheio de vida. Recordo-me que havia talho, ourivesaria, florista, sapateiro, loja de fotografia e de electrodomésticos. Hoje somos meia dúzia que precisam de trabalhar para viver”, vinca.
Foi na década de 80 que Glória e Joaquim Beja abriram um café que tem sido o ponto de encontro de muitas famílias e amigos. A queda no número de clientes levou a uma diminuição da oferta de produtos. “Chegámos a vender frango assado e outros tipos de produtos. Não tínhamos mãos a medir. Hoje é um café por pessoa e pouco mais”, lamentam.
A abertura do novo centro comercial também é, referem, uma das principais razões para a perda de clientela. “É um espaço muito maior e com lojas muito mais atractivas e diversificadas. No entanto vamos continuar a trabalhar para que este espaço não feche”, afirmam, realçando que a autarquia devia fazer alguma coisa para preservar um espaço histórico e que ajudou muito à economia do concelho.