Falcoaria Real faz disparar turismo em Salvaterra de Magos
A arte da falcoaria em Portugal foi declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade há cinco anos e, com isso, a Falcoaria Real, com sede em Salvaterra de Magos, ganhou outra notoriedade, traduzida num aumento substancial do número de visitantes.
Cinco anos depois da arte da Falcoaria em Portugal ter sido declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, o turismo tem crescido anualmente em Salvaterra de Magos, onde está localizada a Falcoaria Real, num palácio que pertenceu à família real. Patrícia Leite, técnica superior de História e responsável pelo espaço, explica a O MIRANTE que em 2013 tiveram cerca de três mil visitantes e em 2019 ultrapassaram a meta dos 16 mil visitantes.
“Em 2020 iríamos aumentar o número de visitantes se não fosse a pandemia. Esperamos retomar as actividades em pleno no próximo ano”, afirma. Em 2021 aproveitaram para editar o folheto de divulgação da Falcoaria Real em outros idiomas nomeadamente inglês, francês, árabe, chinês e japonês.
O facto da arte da falcoaria ter sido declarada como Património Cultural Imaterial da Humanidade tem trazido mais turistas a Salvaterra de Magos, sobretudo estrangeiros. “Existem turistas que gostam de visitar os patrimónios da Unesco e por isso vêm a Salvaterra. Aproveitam e conhecem o Escaroupim e outros pontos de interesse para o concelho. A Falcoaria Real tem ajudado a desenvolver o concelho do ponto de vista turístico”, refere a responsável.
A 1 de Dezembro, data em que se celebra a distinção da Unesco, a Câmara de Salvaterra de Magos homenageou Natália Correia Guedes, autora do livro “Paço Real de Salvaterra de Magos”. “A Falcoaria Real deve muito a Natália Correia Guedes e ao seu pai, Joaquim da Silva Correia, por isso o nosso centro de documentação tem o nome de ambos. Foram eles que pesquisaram sobre os falcoeiros holandeses que vieram para Portugal e que são da sua linhagem familiar”, sublinha Patrícia Leite, acrescentando que Natália Guedes conta com um “vastíssimo” trabalho dedicado à protecção desta forma de caça.
Foi também Natália Correia Guedes que fundou a Associação Portuguesa de Falcoaria que tem a sua sede no edifício da Falcoaria Real. Deve-se ainda a Natália Correia Guedes, que foi directora do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, a negociação com o último proprietário privado do edifício da Falcoaria Real e que permitiu, posteriormente, à Câmara de Salvaterra de Magos adquirir o imóvel.
A distinção da Unesco também despertou novos interesses e tem havido um aumento do número de falcoeiros no nosso país, que precisam ter licença para terem uma ave desse porte em casa. Desde 2013 que todos os anos um autor português é desafiado a escrever uma história infanto-juvenil que envolva a falcoaria e também o património do concelho. “Para além de criar hábitos de leitura também permite que os mais novos conheçam e se identifiquem com o seu património de forma mais didática”, esclarece Patríca Leite.
A jovem de Lisboa que se apaixonou por falcões
Sara Proença tem 30 anos e é uma das falcoeiras ao serviço da Falcoaria Real. Cerca de duas dezenas de falcões estão no jardim do edifício ao sol. Treinam todos os dias entre dez a quinze minutos. São de espécies diferentes e a falcoeira garante que cada um tem a sua própria personalidade. É fundamental criar uma relação de confiança com todos. Todos têm nome e é importante transmitir-lhes carinho.
“Quando lhes damos comida já não podemos retirar porque temos que estabelecer uma relação de confiança. São animais muito inteligentes e é muito bonito perceber como agem e como reagem a novidades, como lidam com imprevistos e a sua capacidade para caçar é extraordinária”, reforça a falcoeira que pertence a uma empresa com quem o município de Salvaterra de Magos tem um contrato de prestação de serviços.
Sara Proença tirou a licenciatura em Comunicação Social e trabalhava em Lisboa quando descobriu o mundo da falcoaria e se apaixonou por estas aves. Trabalha na empresa e adora o que faz. Os falcões são utilizados em aeroportos, para evitar que bandos de aves entrem nas turbinas de aviões, em aterros sanitários e até em centros comerciais, sempre como controlo de pragas. Um falcão em cativeiro pode viver entre 25 a 30 anos. A fêmeas são maiores que os machos.
Sara Proença faz parte de uma equipa de falcoeiros e sempre que está em Salvaterra de Magos trata de todos, um a um, com o máximo cuidado e amor. Por vezes leva umas bicadas ou arranhadelas a que a falcoeira chama “marquinhas de amor”. “Até hoje não aconteceu nada de grave porque existe uma relação forte de confiança com a ave”, justifica acrescentando ser mais feliz desde que trabalha com falcões.