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“Não há nada mais gratificante do que cuidar do outro”
Cristina Rodrigues iniciou o seu percurso na Misericórdia de Azambuja em 1998 como técnica de serviço social

“Não há nada mais gratificante do que cuidar do outro”

Cristina Rodrigues, 47 anos, é directora técnica da Estrutura Residencial para Idosos da Santa Casa da Misericórdia de Azambuja. Custa-lhe sempre ver partir um utente mas o que mais lhe dói é quando um idoso deixa de ser visitado pela família.

Licenciada em Serviço Social Cristina Rodrigues trabalha desde 1998 na Santa Casa da Misericórdia de Azambuja, onde é directora técnica. Tinha terminado o curso superior de Serviço Social há um ano quando decidiu enviar um currículo para a instituição, que nunca mais largou. Diz que nada é mais gratificante que trabalhar para que um idoso se sinta bem na sua nova casa e lamenta que haja famílias que deixam de fazer visitas. Defende mudanças para os lares, ao nível dos apoios e quadro de pessoal.

O dia de trabalho não começa sem dar um bom dia aos utentes do lar residencial da Misericórdia de Azambuja. Depois de tratar das tarefas burocráticas, a directora técnica da instituição, Cristina Rodrigues, acompanha alguns dos utentes até ao pátio, onde já se encontra uma turma de crianças. Há cânticos, troca de presentes e uma alegria no ar contagiante, típica desta quadra festiva, que parece encurtar a distância física a que se encontram as duas gerações.

“Momentos como este são uma lufada de ar fresco, sobretudo para os idosos que não percebem o porquê de não poderem ir a casa com tanta frequência e de termos que manter este distanciamento físico”, começa por referir acrescentando que já perdeu a conta às alterações feitas ao plano de contingência desde o início da pandemia de Covid-19.

Se tivesse que escolher o momento mais marcante da sua carreira seria este período pandémico, mas para quem, como Cristina Rodrigues, trabalha na Misericórdia de Azambuja desde 1998, muitos outros acontecimentos deixaram marcas. “Não há nada mais gratificante que cuidar do outro, fazê-lo sentir-se bem nesta que é a sua nova casa”, diz, sem esconder a amargura que sente sempre que se perde uma vida no lar.

Com o tempo “vai-se ganhando resistência, mas é um momento que marca”, sobretudo quando lhe cabe dar a notícia do falecimento. “Mas o que mais dói é quando um idoso deixa de ser visitado pela família”, atira, reconhecendo que “algumas, por vários motivos, deixam de ter condições para os visitar com frequência”.

“Os jovens estão mais afastados dos idosos”

A gerir uma equipa de 53 funcionários, divide-se entre a gestão, processos de atribuição de subsídios, contacto com os idosos e famílias. “Mesmo quando não estou cá o meu telefone não pára. Aqui trabalha-se 24 sob 24 horas, tenho que estar sempre disponível”, refere.

Reconhecendo a dificuldade de trabalhar por turnos e no cuidado directo aos idosos, lamenta a dificuldade crescente de contratar pessoas para a profissão. Um padrão que, na sua opinião, está relacionado com o modelo de sociedade em que vivemos. “Os jovens estão mais afastados dos idosos e desconhecem o trabalho feito nos lares”, lamenta.

No que respeita às famílias que equacionam a institucionalização dos seus idosos, Cristina Rodrigues diz que a “maior preocupação é de carácter económico”, tendo em conta que muitos recebem reformas de baixo valor. “A instituição está sempre disponível para ajudar e tem vagas protocoladas com a Segurança Social, mas o grande problema é a falta de resposta”, diz, acrescentando que têm 88 idosos em lista de espera e a ambição de, através de projecto apresentado ao Programa de Alargamento da Rede de Equipamentos Sociais, aumentar o número de camas na instituição.

Além da falta de vagas em lares, Cristina Rodrigues defende alterações ao nível do quadro de pessoal e das comparticipações da Segurança Social. “Temos uma população dependente e cada vez mais idosa. Não faz sentido não ser obrigatório ter um médico no quadro de pessoal. No nosso caso temos, mas é a Misericórdia a suportar os encargos”, explica. Depois conclui: “Os lares precisam de passar a ser olhados como unidades de convalescença”.

“Não há nada mais gratificante do que cuidar do outro”

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