Maria José Morgado é uma mulher admirável
Maria José Morgado pediu para que “libertem Portugal da corrupção” depois de receber uma distinção em que reconheceu sentir-se embaraçada “na medida em que a luta pela integridade, pela ética, é como o ar que respiro”, afirmou.
Sou admirador de Maria José Morgado que conheço há muitos anos mas com quem nunca falei. Leio o seu artigo semanal no Expresso, às vezes com semanas de atraso, mas leio sempre. Não há na sociedade portuguesa quem, melhor do que ela, publicamente, escreva e pense a Justiça e as questões do sector.
Há muitos anos que moramos no mesmo bairro e nos encontramos regularmente à saída do supermercado ou do ginásio. Maria José Morgado é uma figura admirável da sociedade portuguesa mas passa despercebida com facilidade nos locais por onde se movimenta. A sua figura discreta, singela, pequena mas elegante, também ajuda. Maria José Morgado tem um ar aparentemente impenetrável, mas só aparentemente; na realidade é uma pessoa de trato fácil, simples e directa, com essa qualidade humana, hoje quase fora de moda, de não se exibir nem ter comportamentos de figura mediática. O facto de nunca a ter abordado joga a seu favor: como não tenho nada de importante para lhe dizer, a não ser fazer-lhe o elogio que todos lhe devemos, limito-me a partilhar com ela o espaço público onde nos movimentamos e cada um procura ser feliz e sentir-se em liberdade.
Maria José Morgado acabou de ser premiada pelo seu trabalho no combate à corrupção numa cerimónia realizada na Fundação Champalimaud, em Lisboa, a magistrada recebeu o prémio “Tágides 2021”, promovido pela “All 4 Integrity”, o primeiro galardão anticorrupção atribuído em Portugal e que tem como finalidade e objectivo reconhecer o trabalho de pessoas activas no combate à corrupção. A magistrada do Ministério Público foi agraciada com dois prémios nas categorias “Iniciativa Política” e “Investigação” e dedicou a distinção “à sociedade civil anónima, sofredora, combativa”, que quer “lutar pela igualdade com critérios de ética e transparência”. A frase que marcou a cerimónia, e que foi notícia na grande maioria dos órgãos de comunicação social, espelha bem o seu carácter e a sua personalidade. “Libertem o meu país da corrupção”, pediu, depois de se reconhecer “embaraçada” por receber um prémio que lhe pareceu despropositado, “na medida em que a luta pela integridade, pela ética, é como o ar que respiro”, afirmou.
Entre os vencedores estão também Joana Marques Vidal, Procuradora-Geral da República entre 2012 e 2018, vencedora na categoria “Sociedade Civil”, Manuel Rui Nabeiro, na categoria “Iniciativa Empresarial”, e o informador Rui Pinto, que recebeu uma menção honrosa na categoria “Iniciativa Jovem”. JAE.