Família desalojada pelo fogo já vai passar Natal na casa reconstruída
Raquel Monteiro ainda hoje acorda ao mínimo barulho e pediu aos pais para instalarem um alarme de incêndio em casa para se sentir mais segura. A avó, Maria Custódia Rodrigues, não esquece os momentos dramáticos em que a retiraram do seu quarto através da janela e foi colocada numa ambulância. Dez meses depois a família de Foros de Salvaterra tem a casa renascida das cinzas e vai passar o Natal no seu lar.
Maria Custódia Rodrigues está sentada numa cadeira à porta de casa a apanhar o sol de uma tarde amena de final de Outono. Aos 72 anos garante que o maior susto da sua vida foi quando, na madrugada de 5 de Fevereiro deste ano, acordou sobressaltada pela neta, Raquel Monteiro, que a alertou para o incêndio que consumia a casa onde viviam em Foros de Salvaterra, concelho de Salvaterra de Magos. Só se lembra de a terem retirado pela janela do seu quarto e ser transportada de ambulância para o Hospital Distrital de Santarém por ter problemas de asma.
Durante cerca de oito meses viveu em casa de outra filha mas confessa estar feliz por regressar ao local onde sempre viveu. “A minha filha tratou-me sempre muito bem mas na minha idade não há como estar no nosso cantinho. Foi um ano muito complicado, as memórias daquela noite não me saem da cabeça”, conta a O MIRANTE antes de mostrar o quarto onde já dorme desde final de Outubro.
Quem também não consegue esquecer a noite do incêndio é Raquel Monteiro, filha de Liliana Fresco e Hélder Monteiro. A jovem, de 25 anos, ainda acorda a meio da noite com qualquer barulho ligeiro. O trauma levou-a a pedir aos pais que instalassem um alarme de incêndio na casa para se sentir mais segura. Foi Raquel quem acordou naquela noite a ouvir estalidos fora do quarto. Tentou acender a luz mas não conseguiu.
Ligou a lanterna do telemóvel e abriu a porta do quarto e só viu labaredas e fumo. O instinto foi fechar a porta e sair pela janela. Gritou pelos pais. A mãe também já tinha acordado e viu um grande clarão de fogo por baixo da porta. Tanto ela como o marido saíram pela janela. O incêndio teve origem numa arca frigorífica que entrou em curto circuito. “São memórias que vou ter dificuldade em esquecer porque foi muito difícil viver toda aquela situação. A minha preocupação era que conseguíssemos sair todos de casa vivos”, confessa a O MIRANTE.
A casa foi quase toda destruída pelas chamas, o que obrigou a família a dormir durante uns tempos em casa de familiares. Tiveram ajudas para reconstruir a casa mas nos últimos meses têm sido Liliana Fresco e Hélder Monteiro a terminar a obra. Neste momento falta apenas uma parte do tecto falso da cozinha. As portas de todas as divisões vão ser oferecidas por um cunhado de Liliana Fresco que está a construí-las consoante a sua disponibilidade.
A principal meta está conseguida: passar o Natal na casa renascida das cinzas. O casal, que durante uns tempos dormiu num anexo junto da casa, assume que 2021 foi um ano muito complicado e o mais difícil foi encontrar forçar para por de pé a habitação onde vivem há vários anos. Não há árvore de Natal porque o principal objectivo é concluir o que falta da cozinha. No entanto, Raquel colocou uma árvore de Natal minúscula na mesa de cabeceira do seu quarto só para assinalar a data.
A parte final será rebocar a parte exterior da habitação mas isso, confessa Hélder Monteiro, com um sorriso no rosto, será quando o tempo melhorar. “O mais importante já temos, que é a nossa casa estar habitável. Agora é viver um dia de cada vez e voltarmos à normalidade”, concluiu.