“Não é dado o devido reconhecimento aos professores”
Susana Colaço, 49 anos, directora da Escola Superior de Educação de Santarém.
Em criança dizia que não queria ser professora. Sempre gostou de números, puzzles e jogos de lógica e raciocínio. Licenciou-se em Matemática Aplicada e Computação e queria seguir essa área mas a vida trocou-lhe as voltas e apaixonou-se pelo ensino na primeira aula que deu na Escola Superior de Educação de Santarém, que actualmente dirige.
Em criança dizia sempre que não queria ser professora. O meu pai era professor primário e também professor de tele-escola. Sempre foi um professor muito dedicado e eu via que ele, diariamente, passava horas a planificar as aulas e eu achava que aquilo não era o meu perfil. Licenciei-me em Matemática Aplicada e Computação, pelo Instituto Superior Técnico, mas a minha intenção não era dar aulas. No entanto, a vida trouxe-me para a Escola Superior de Educação, do Instituto Politécnico de Santarém, e estou cá há 25 anos.
Quando dei a minha primeira aula fiquei deslumbrada. Depois desse dia tive a certeza do que queria fazer da minha vida profissional. Apaixonei-me pelo ensino e o facto de poder transformar a vida dos alunos com quem estou a trabalhar. Um professor ensina mas também aprende com o aluno. Há uma relação recíproca e essa é a magia do ensino.
Não é dado o devido reconhecimento aos professores. O professor está a lidar com o que é mais importante numa sociedade: os alunos, que são o futuro dessa sociedade. O papel do professor tem vindo a ser desvalorizado. A importância de um professor é enorme porque se o trabalho com os alunos não for bem feito é o futuro da sociedade que está em jogo e que perde.
A burocracia atrapalha bastante. Os professores estão sobrecarregados de tarefas burocráticas que não estão directamente ligadas com a sala de aulas e isso prejudica o aluno. Os professores precisam de tempo para investir na preparação das aulas.
Entrar numa sala de aulas em São Tomé e Príncipe é uma lição de vida. Fui algumas vezes em missão pelo Politécnico de Santarém a esse país. O impacto de entrar numa sala de aula e ver duas ou três crianças a partilhar a mesma cadeira, com um lápis minúsculo de ter sido tão utilizado, e ver aquelas crianças, mesmo assim, ávidas de aprender é uma grande lição. Antes de irem para a escola já cuidaram dos animais e caminharam a pé e estão ali em silêncio a aprender.
O que valorizo mais no Natal é estar em família. Já gostei mais do Natal. As prendas e a correria toda antes do Natal angustia-me e não gosto desse frenesim. A mensagem que passo aos meus filhos é que o Natal é o facto de podermos estar juntos em família. O Natal propicia que essa união seja ainda mais forte. A pandemia veio mostrar-nos o que realmente importa. Não são os bens materiais mas sim o podermos estar com quem amamos. Aproveito esta época do ano para fazer balanços e projectar o novo ano. Só peço saúde e paz de espírito, é o mais importante.
Nos livros infantis encontramos algumas mensagens que também são importantes para os adultos. Sempre gostei de ler para os filhos quando eram crianças. Há sempre mensagens que os adultos deviam ter em conta. Também gosto de ler ficção científica e sempre que posso gosto de ir ao cinema. Quando tenho tempo faço pilates e passo o máximo de tempo com os meus filhos, a minha família e amigos.
As minhas viagens de sonho são a Nova Iorque e Havana. Assim que puder quero conhecer Nova Iorque (EUA), que parece uma cidade mágica. Gostava de conhecer Cuba antes de Fidel Castro ter morrido mas Havana continua na minha lista de viagens a fazer assim que a pandemia passar. Fiz um cruzeiro com os meus filhos que me ficou na memória. Conhecemos Roma, Florença e fomos ao sul de França e Mónaco. Foram dias muito felizes.
Gostava de ver mais animação em Santarém. As coisas estão a melhorar, incluindo a parte cultural, mas ainda há muita coisa a fazer. Falta recuperar as muitas casas devolutas no centro histórico da cidade. Se os casais jovens ou os estudantes tivessem a oportunidade de ali viver daria uma outra vida ao centro histórico, que tanto precisa.
O voto eleitoral não deve ser obrigatório porque tem que ser um exercício de cidadania. Os níveis de abstenção são altos porque estamos a fazer alguma coisa mal. Só conseguimos que as pessoas mudem de ideias, desde pequenos, se se começar a treinar a cidadania. Dar voz às crianças, ensiná-las a argumentar e dar a sua opinião. Quando chegarem a adultos vão saber a importância que o seu voto tem para a sociedade em que vivem. Tudo passa pela educação.