A vida de Tatiana Bond ganhou novo alento na luta contra o cancro
Farmacêutica do Cartaxo vai voltar a trabalhar no início de 2022 depois de vários anos sem o conseguir fazer. Um resultado da luta para que Infarmed autorizasse a venda do medicamento Olaparib em Portugal. Valores tumorais estão em níveis normais, o que nunca tinha acontecido desde que lhe foi diagnosticado cancro na mama há cerca de dez anos.
Tatiana Bond ganhou uma nova vida desde que teve acesso ao medicamento Olaparib para tratamento do cancro com que luta há cerca de dez anos. Os exames mostram que os valores tumorais estão dentro dos valores de referência, o que nunca tinha acontecido desde que descobriu o tumor na mama. Também as metástases diminuíram. A farmacêutica, natural do Cartaxo, garante que a luta que travou para que o Olaparib pudesse ser comercializado em Portugal valeu a pena e admite que se não fosse o medicamento podia já não estar viva.
Tatiana Bond começou o tratamento com este medicamento a 1 de Abril de 2021 e tudo mudou. Passou a ser a mãe que sempre quis ser para os seus filhos. Deixou de estar deitada numa cama por não suportar as dores. “Fui ao Reino do Natal, em Santarém, com o meu marido e os meus filhos e andei a deslizar no gelo como uma criança. São estas memórias que quero criar com os meus filhos e sem o Olaparib sei que não seria possível levar a vida que levo”, confessa a O MIRANTE com um sorriso no rosto.
Outra mudança que vai acontecer na sua vida é que vai voltar a trabalhar no início de 2022 depois de vários anos sem o conseguir fazer. “A vida está a voltar ao normal e não posso pedir mais. O Natal é isto, darmos valor às pequenas coisas e àquilo que é realmente importante: o amor pela nossa família e amigos e termos saúde. Com saúde consigo fazer o que quiser”, sublinha.
A farmacêutica, de 39 anos, diz que a luta contra o cancro é a luta da sua vida mas tem consciência que a vida não tem prazo de validade. “Posso morrer amanhã como qualquer pessoa mas sei que vou continuar a viver com esta doença. Não vou morrer já. Agora, quero viver para a minha família e recomeçar a trabalhar para a vida voltar ao normal. O cancro, as consultas e rotinas que isso implica fazem parte. Já me habituei a viver com isto. Como diz o meu marido, só tenho que aguentar até aparecer uma cura para o cancro. É isso que estou a fazer”, sublinha com rosto a irradiar felicidade.
Tatiana Bond conta que quando começou a sua luta para que o Infarmed – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde - tornasse o Olaparib acessível em Portugal havia cinco pessoas a necessitar desse medicamento. Pelo que sabe, algumas não se deram bem com o tratamento. “Cada organismo é único e reage de forma diferente. Felizmente, comigo tem dado certo e não tenho os efeitos secundários que normalmente a quimio e a radioterapia provocam”, explica.
A longa batalha contra um cancro incurável
Como O MIRANTE noticiou (ver edição 13 de Abril de 2021), Tatiana Bond trava uma batalha contra um cancro incurável. Tinha 26 anos quando lhe foi diagnosticado o primeiro cancro na mama. Cinco anos depois, já casada e com filhos, apareceu-lhe um novo cancro. Desta vez com metástases no fígado. O oncologista disse-lhe que a doença era incurável e que não tinha mais do que seis meses de vida.
“O médico disse-me para aproveitar o tempo que me restava a criar memórias com a minha família. Não sou capaz de explicar o que senti naquele momento. A primeira reacção é de muita tristeza, desespero e impotência. Fui-me muito abaixo nessa altura porque os meus filhos eram bebés e não me passava pela cabeça morrer”, recorda. Deram-lhe seis meses de vida mas já passaram cinco anos. Decidiram regressar ao Cartaxo e Tatiana passou a ser acompanhada pelo serviço de Oncologia do Hospital Distrital de Santarém, cidade onde vive actualmente com a família. “Salvaram-me a vários níveis. Não só com o tratamento do cancro mas também com a minha saúde mental. Disseram-me que o cancro era incurável mas que não ia morrer já amanhã e que havia tratamentos para fazer”, conta.