Investigadora de Fátima que descobriu forma de tratar doença da retina quer sair do país
Catarina Gaspar, que descobriu mecanismo para produção da Rodopsina, uma proteína da retina dos olhos cuja falta causa a retinite pigmentosa, quer sair do meio académico e seguir a sua carreira no estrangeiro, na indústria farmacêutica. A falta de meios e a instabilidade financeira dos cientistas em Portugal são as principais razões para querer sair do país. A cientista vai defender a tese de doutoramento, durante o qual foi feita a descoberta, em Janeiro.
A investigadora que abriu portas para a prevenção ou tratamento da retinite pigmentosa, que provoca a degeneração da retina, podendo levar à cegueira, quer continuar a contribuir para a ciência, mas fora de Portugal. Catarina Gaspar, natural de Fátima, concelho de Ourém, tem vindo a pensar que só noutro país pode evoluir a carreira de cientista, que não imaginou ter até entrar no ensino superior. Porque além de ter de lidar com as frustrações próprias do trabalho, de estar uma semana num laboratório e não conseguir resultados, ainda tem de se preocupar de ir à procura de salário.
A instabilidade financeira de uma cientista, que recebe uma bolsa para fazer uma investigação que acaba ao fim de quatro anos, por exemplo, é uma das razões que a leva a querer sair para outro país como a Alemanha, França, Suíça ou Estados Unidos da América. Onde, sublinha, os meios são diferentes. Catarina Gaspar, 31 anos, quer trabalhar na indústria farmacêutica a fazer investigação, porque é “mais satisfatório fazer investigação que possa mais directamente ser aplicada a ajudar as pessoas”.
Durante os quatro anos de estudo, Catarina esteve mais afastada de Fátima e do convívio familiar, falando com os pais e a irmã mais nova através das novas tecnologias. Sempre teve boas notas no seu percurso escolar. Estudou no Colégio Sagrado Coração de Maria de Fátima e fez o secundário no Centro de Estudos de Fátima. Até entrar na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa pensava que a ciência era uma coisa inatingível e para quem era sobredotado e não era de Fátima, recorda com um sorriso. Escolheu o curso por ter várias saídas profissionais e descobriu que afinal era na investigação que estava o seu futuro.
O estudo que agora concluiu e que pode ser usado pela indústria farmacêutica para desenvolver medicamentos, começou em 2016 no âmbito de um doutoramento, tendo entregado a tese na quarta-feira, dia 22 de Dezembro. Deve defender a tese durante o mês de Janeiro, em data que ainda está por definir. A cientista começou por estudar o complexo proteico que existe em muitos seres vivos, para ver para que poderia servir, e acabou por descobrir como é que se forma a estrutura complexa da Rodopsina, através do cruzamento de moscas da fruta, dissecando depois os olhos destes insectos. Na investigação também usou células humanas. A Rodopsina é uma proteína da retina dos olhos, cuja falta causa a retinite pigmentosa, doença que provoca a degeneração da retina e a perda de visão.
Catarina Gaspar explica a O MIRANTE que as moscas da fruta, dotadas de genes idênticos aos dos humanos, têm um ciclo de vida rápido, de formação de novos seres em 15 dias, o que permite fazer experiências de forma mais rápida. A investigação foi sendo desenvolvida entre o Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB) da Universidade Nova de Lisboa e o Instituto Gulbenkian de Ciência, que trabalharam em colaboração com investigadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e da Academia Checa de Ciências. A investigadora conta que teve a vantagem de as duas instituições terem laboratórios no mesmo campus em Oeiras, podendo assim fazer várias experiências no mesmo dia.