Jovens cada vez mais dependentes do vício dos jogos virtuais
Projecto Homem de Abrantes diz que há cada vez mais pais a procurarem ajuda devido a um fenómeno disseminado pelo acesso massificado às novas tecnologias.
Há cada vez mais pais a procurar ajuda para os filhos que passam dias inteiros a jogar no computador e, em casos extremos, faltam às aulas para continuar a jogar. A informação é dada pelo director técnico e clínico da Comunidade Terapêutica do Projecto Homem de Abrantes. O MIRANTE falou com Luís Machado no final da primeira edição das Jornadas sobre comportamentos aditivos e dependências – dependência de ecrãs e videojogos: psicopatologia e (auto)controlo. A sessão decorreu na manhã de 23 de Dezembro, na Escola Dr. Solano de Abreu, em Abrantes, e foi organizada pelo Projecto Homem em parceria com o município.
“Ouvir pais a dizer-nos que os filhos devem ser internados porque o nível de dependência do jogo é cada vez maior não é fácil. O internamento não é a primeira ajuda para este tipo de dependência. As novas tecnologias são para ser utilizadas a favor das pessoas. O problema é quando as usam de forma nociva”, alerta Luís Machado.
A vereadora da Câmara de Abrantes, Raquel Olhicas, que é enfermeira e participou no debate, deu o exemplo de um estudo recente que revela que, em média, uma criança tem o seu primeiro dispositivo móvel a partir dos seis anos e que 33,3% dessas crianças e jovens encontram-se em risco de dependência.
O mesmo estudo revela também que 19,2% de crianças e jovens joga no computador ou telemóvel entre duas a três horas por dia. No entanto, o cenário piora uma vez que há 9,9% dos participantes no estudo que jogam mais de quatro horas por dia. Durante o fim-de-semana 24,3% jogam mais de quatro horas.
“Existem casos em que os pais lhes pedem que parem de jogar e os jovens vão para o quarto e debaixo dos lençóis da cama continuam a jogar. Estas situações acarretam consequências negativas que muitas vezes levam ao vício. A internet é o que se pode chamar uma droga lícita, mas que com o tempo e o continuar do vício do jogo, posteriormente, pode tornar-se uma droga ilícita quando se começa a jogar com dinheiro envolvido”, esclarece a vereadora.
O psicólogo Rui Branco, do Centro de Respostas Integradas da Equipa de Tratamento de Abrantes, explicou que existem adultos que perdem o emprego, a casa e até a família porque apostam tudo no jogo. “Têm a ilusão de que o jogo terá a resposta para os seus problemas, que é a falta de dinheiro”, esclarece. Os oradores da iniciativa sublinharam a importância de controlar as crianças e jovens no acesso aos jogos porque o vício pode levar a outras dependências.
Rui Branco refere que, no caso de quem joga a dinheiro, há a necessidade de aumentar o nível da aposta para obter o mesmo estado de excitação que o jogo transmite. No entanto, também existe um aumento de irritabilidade ou inquietude quando se pretende reduzir ou parar de jogar. O psicólogo alerta para os sintomas que surgem quando alguém está viciado em jogo: baixo rendimento; alteração dos padrões de sono, alteração de padrões de comportamento, isolamento e perda progressiva de interesse por coisas básicas do dia-a-dia.