Arquitecto diz que um bom projecto para a fiação de Torres Novas passa por concurso de ideias
Num encontro promovido pela Associação de Defesa do Património de Torres Novas, o arquitecto e professor na Universidade de Coimbra, Rui Lobo, defende que a câmara fica a ganhar se fizer um concurso de ideias para a requalificação da Companhia Nacional de Fiação e Tecidos. E elogia a decisão da autarquia de comprar o complexo industrial
O arquitecto Rui Lobo congratula-se com a aquisição da antiga Companhia Nacional de Fiação e Tecidos pela Câmara de Torres Novas. Dando como exemplos o Museu e Fundação Robinson de Portalegre, antiga fábrica de cortiça, e da LX Factory, em Lisboa, também uma antiga fábrica de fiação e tecidos, o também professor da Universidade de Coimbra considera que “é preciso ter atenção ao que vale a pena preservar do ponto de vista da arquitectura”. E defendeu que para se conseguir um bom projecto para o espaço, o ideal é fazer-se um concurso de ideias com caderno de encargos bem definido e com um bom júri.
Rui Lobo, que intervinha num encontro da Associação de Defesa do Património de Torres Novas, designado Solstício de Inverno, realçou a importância da preservação de alguma maquinaria da antiga fábrica de fiação, destacando a relação da água do Almonda com o processo produtivo.
Para o presidente da Associação Portuguesa do Património Industrial, José Lopes Cordeiro, a importância do património industrial assenta numa pergunta simples: “que legado vamos nós, enquanto sociedade, deixar para o futuro, sobre todo este processo que se iniciou com a revolução industrial no final do séc. XVIII?”. O também historiador e sociólogo, em jeito de resposta, diz que é necessário de salvaguardar os testemunhos mais significativos porque a memória “acaba por contribuir para fundamentar a identidade de uma localidade”.
José Lopes Cordeiro realça que o facto de as fábricas terem tido durante décadas uma imagem negativa, faz com que a sociedade aceite o desmantelamento dos edifícios desactivados. E alerta que as demolições contemporâneas não são parciais, como no passado. “Actualmente, quando se avança para uma demolição desaparece tudo”, dando o recente exemplo das duas chaminés da fábrica Alves das Lãs: “apagaram completamente a presença da unidade industrial”.
A arquitecta suíça, Barbara Buser, que fundou uma empresa que transformou uma antiga fábrica de componentes mecânicos num popular centro comunitário em Basileia, considera que “na maioria dos casos, fazer menos é mais”. A arquitecta sublinha que é muito importante “valorizar o que existe, ver o que há e construir a partir daí sem ser necessário fazer tudo de novo”.