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Eugénio Silva nasceu numa ambulância e é sub-chefe dos bombeiros da Póvoa
Eugénio Silva é sub-chefe dos Bombeiros da Póvoa de Santa Iria e um exemplo de dedicação

Eugénio Silva nasceu numa ambulância e é sub-chefe dos bombeiros da Póvoa

Eugénio Silva é sub-chefe da corporação da Póvoa de Santa Iria e chegou aos bombeiros 14 anos depois de ter nascido à porta de casa.

É visto como um exemplo de esforço e dedicação. O acidente ferroviário na cidade foi o desastre que mais o marcou. Lamenta que muitos dos que hoje querem ir para os bombeiros desrespeitem a farda e faltem aos serviços para ir ver a bola. E não consegue entender como é que alguém filma um acidente para colocar nas redes sociais sem primeiro chamar socorro.

Para se ser bombeiro é preciso mais do que vestir uma farda. É preciso amor pelo que se faz e acima de tudo ser determinado, humilde e ter um grande poder de encaixe. Lemas que acompanham Eugénio Silva, 59 anos, sub-chefe, da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Santa Iria, desde que entrou para a corporação 14 anos depois de ter nascido numa ambulância à porta da sua casa.
Quando entrou para a recruta da corporação já trabalhava na oficina da actual Rodoviária de Lisboa para tentar ajudar a família a ultrapassar as dificuldades da vida. Recorda entre gargalhadas os primeiros meses de formação que não foram fáceis. “Era muito diferente. Passei muito tempo em que o meu trabalho nos bombeiros era lavar mangueiras e viaturas”. Aprendeu o respeito e a importância de se honrar uma farda e uma corporação e foi subindo a pulso. Eugénio Silva passou por muitos altos e baixos, incertezas na vida e momentos que o marcaram.
Depois da recruta, aos 18 anos, ainda se adaptava à vida de bombeiro quando se deu um dos maiores desastres da história ferroviária de Portugal. A 5 de Maio de 1986, na Póvoa de Santa Iria, uma colisão entre dois comboios custou a vida a quase duas dezenas de pessoas e deixou quase uma centena de feridos. Eugénio Silva ainda hoje não consegue esquecer o pânico e o terror que viu admitindo que é algo que o marcou para a vida. “Era novo enquanto bombeiro, nunca tinha visto nada parecido. Chegar ali e ver o que vi, da forma como vi, marcou-me para a vida, a mim e a muitos colegas que comigo foram mobilizados para o acidente. Passe o tempo que passar a imagem fica-me marcada para sempre”, recorda, emocionado.
Por outro lado lembra com carinho as dezenas de partos que ajudou a realizar a bordo das ambulâncias dos bombeiros. Nesses momentos, diz, sente-se uma energia diferente no ar. O sub-chefe já presenciou acidentes em que quem passa de carro, encosta na berma e sai para começar a filmar para meter o vídeo nas redes sociais antes de ligar para o número de emergência 112 ou verem se as pessoas precisam de ajuda.

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Eugénio Silva conta a O MIRANTE que o passar dos anos tem trazido um misto de realidades para o mundo dos bombeiros. Quando começou os Bombeiros da Póvoa de Santa Iria não tinham sequer capacidade para ter uma farda. Usavam roupa e equipamentos emprestados vindos da Força Aérea ou da GNR, veículos em segunda ou terceira mão e poucos eram os métodos de socorro e serviço à comunidade. Outros tempos ultrapassados pela maior preocupação em formação, preparação física e mental e investimento em equipamentos e viaturas.
“Hoje vemos muitos jovens e adultos que vêm para os bombeiros a pensar que é como nas séries e filmes e é só ligar a sirene e toca a andar. Ao fim de dois meses já foram embora. Ao primeiro contratempo desistem. Faltam às escalas porque querem ir ver a bola. Salvar vidas e ser bombeiro é dar tudo de si, sempre que necessário. Não é algo que só se faz quando se quer. Lutámos muito por ter veículos, fardas, equipamentos, não sou capaz de ver ninguém desrespeitar isso”, refere.
Apesar do sentimento de dever cumprido Eugénio Silva pondera dedicar-se mais à família, mas mantendo-se como bombeiro. Diz não conseguir viver sem servir a comunidade, mas lamenta que a sociedade esteja a perder o respeito pelas figuras de autoridade. “Vemos os jovens a dizer que o ídolo deles é um futebolista que ganha milhões a chutar uma bola. Depois são os mesmos que agridem aqueles que lhes salvam a vida. Há agressões a polícias, professores, bombeiros, médicos e enfermeiros, algo não está certo”, comenta.

Eugénio Silva nasceu numa ambulância e é sub-chefe dos bombeiros da Póvoa

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