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Santana-Maia Leonardo

Deixa de ser burro !

Vai sendo tempo de os portugueses tirarem as palas dos olhos e deixarem de tirar água à nora. Quase 50 anos depois do 25 de Abril, a esmagadora maioria dos portugueses continua amarrada à nora e a ver o mundo a preto e branco.

Até Otelo Saraiva da Carvalho, numa das suas últimas entrevistas, já tinha saudades “de um homem com a inteligência e a honestidade de Salazar” capaz de sacar Portugal do atoleiro de corrupção em que a nossa democracia o mergulhou. A história de Portugal é uma ditadura contínua com alguns intervalos de selvajaria absoluta, a que se convencionou chamar “democracia”, para que o povo volte a ganhar saudades de ser governado por um ditador.
Ora, o que nós precisamos não é de um homem com a inteligência e a honestidade de Salazar, mas de cidadãos que valorizem a honestidade e a inteligência, sem complexos, amem a liberdade, o que significa ser responsável, e cultivem o respeito pelos outros e pela diversidade. Ditadores e pastores é precisamente aquilo que nós não precisamos, sejam eles inteligentes ou estúpidos. É precisamente aqui que reside a diferença entre o Homem e a ovelha: enquanto a ovelha procura um pastor que a guie, o Homem busca a Liberdade. “Ser homem é ser livre. Tornarmo-nos verdadeiros homens, esse é o sentido da História.” (Jaspers). E já vai sendo tempo de os portugueses tirarem as palas dos olhos e deixarem de tirar água à nora. Quase 50 anos depois do 25 de Abril, a esmagadora maioria dos portugueses continua amarrada à nora e a ver o mundo a preto e branco: direita/esquerda, Benfica/Sporting, comunistas/fascistas, Norte/Sul. Não admira, por isso, que os portugueses vão sempre parar ao mesmo sítio. É esse o destino do burro que tira água à nora.
Como disse Laborinho Lúcio, «na complexidade da vida não sou o preto ou o branco, sou preto, branco, amarelo, verde e, no momento de escolher, vou buscar a cor que naquele momento se impõe.» Ao contrário da esmagadora maioria dos portugueses que conheço, não tenho nenhum brinco de identificação na orelha, que me tivesse sido posto à nascença ou na infância, fosse ele do Benfica, do Sporting, dos Católicos ou da Mocidade Portuguesa. Eu não nasci ovelha de nenhum rebanho. Nasci livre.
Como escreveu Miguel Torga, “Ser livre não é um dote, é um dom”. Só estou vinculado à minha consciência. E se gosto de participar em debates acesos em que defendo com entusiasmo as minhas convicções, o meu principal objectivo não é convencer o oponente da minha razão, mas desafiá-lo a convencer-me de que eu estou errado. E, se me convencer, eu mudo de opinião de imediato. Como dizia André Gide, “confia nos que procuram a verdade, mas desconfia daqueles que a encontram”.
Santana-Maia Leonardo

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