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Alverca é o berço da aviação em Portugal mas foi eliminada da solução para o novo aeroporto
José Furtado*

Alverca é o berço da aviação em Portugal mas foi eliminada da solução para o novo aeroporto

O cluster aeronáutico nacional também deveria pesar na decisão da solução aeroportuária. A infraestrutura aérea em Alverca é do Estado. No entanto a Comissão Técnica Independente (CTI) esquece-o. Por que será?

Alverca tem orgulho em ser o berço da aviação em Portugal. Isso fica claro nos cartazes de informação do centenário da infraestrutura aérea, nos aviões em rotundas rodoviárias e no espaço museológico. Alverca sabe da importância na região do ter a OGMA-Embraer e Lisboa sabe a importância da atividade MRO (Maintenance, Repair & Overhaul) no universo da TAP-Portela. O Governo reconhece nas palavras a relevância do setor “fabril” do cluster aeronáutico na riqueza do país e no desenvolvimento de tecnologias de ponta, mas esquece-o nos atos.
Os alverquenses e os lisboetas, em particular, e os portugueses, em geral, têm o direito de ser informados quanto ao presente e às perspetivas de futuro do cluster aeronáutico nacional, em função das soluções aeroportuárias. Mas não o foram. Nem a CTI lhe deu qualquer relevo na avaliação. Mas a equipa de desenvolvimento do HUB Alverca-Portela deu atenção. E bem diferenciada. Reuniu com a empresa OGMA para dar a conhecer a solução e auscultar as suas necessidades. O cluster aeronáutico é central na nossa solução, é até uma das bandeiras. A CTI não liga ao custo e prazo do aeroporto, muito menos ao cluster aeronáutico. Tem muita ambição (virtual), o resto são pormenores de somenos, mesmo quando é dívida de Portugal é para se pagar (um azar não ser virtual).
Observemos então o cluster aeronáutico no presente. A infraestrutura aérea em Alverca é do Estado. Vejamos a atual pista. Em primeiro lugar, ela não tem a largura asfaltada (pista + berma) necessária. Dispõe de 45m quando o mínimo é 60m, mas o ideal é 75m, conveniência que deriva dos grandes aviões de carga com quatro motores, tanto os civis como os militares não aspirarem poeira fora da largura da pista. Por isso a Airbus, nas suas principais instalações, casos de Toulouse, Hamburgo e Sevilha dispõe da largura de 75m.
Vejamos agora a cota da pista. Ela é bastante baixa. A CTI preocupou-se com a nova pista que estará dois metros acima do Terreiro do Paço; contudo, estranho, omitiu o que terá de fazer com a atual se não houver a solução HUB Alverca-Portela. Será que não terá de ser subida? Será que a subida não será encargo do Estado? Será que o controlo aéreo deixará de ser encargo do Estado? É que com o HUB Alverca-Portela tudo isto é resolvido a custo da concessão VINCI.
E será que o futuro da OGMA não será mais confiante e risonho se à “sua porta” passarem milhares de aeronaves por a empresa ficar implantada dentro de um aeroporto comercial, como acontece em Toulouse, em Sevilha, em Singapura e muitos outros? Pois, agora mesmo, em Toronto, a Bombardier está a mudar uma fábrica para o interior do grande aeroporto comercial Pearson. É que com o HUB Alverca-Portela acontecerá o mesmo, a OGMA-Embraer terá a vantagem de ficar dentro de um aeroporto comercial sem gastar um cêntimo em mudança, é o aeroporto que a integra.
Voltemos agora a atenção para a Portela. Há anos que a TAP Engineeering − empresa MRO da companhia que também presta serviços a terceiros – se queixa da falta de espaço. Com o downsizing da Portela, sobrará área para mais hangares. E também sobra para se construir um hangar especial anti-ruído para ensaio de motores como os que existem em Hamburgo e Zurique, aeroportos tão perto da cidade como o de Lisboa. E o mesmo tipo de hangar especial também existirá em Alverca. E, ainda, a ligação em comboio-automático dedicado incrementará a positiva interação entre os dois núcleos empresariais. Tudo isto é conseguido apenas melhorando o que existe e a encargo da concessão aeroportuária. Sem mudar de local de trabalho os milhares de colaboradores da TAP (transportadora e manutenção). E criando melhores condições para a OGMA-Embraer poder crescer e criar emprego qualificado, precisamente do que Portugal precisa.
Será que a CTI não tinha o dever de anunciar que estava a eliminar a possibilidade de Alverca ter a instalação fabril aeronáutica que reuniria numa só plataforma as vantajosas condições-base que poucas têm por esse mundo fora? Que Alverca beneficiaria do tráfego comercial. Que teria uma pista com largura asfaltada de 75m como Toulouse. Que teria uma longa pista de 4.000m à disposição, mais comprida que em Hamburgo, onde a Airbus teve também de aumentar uma pista para 3.200m (e aumentar a fábrica) sobre o rio Elba? Que teria um acesso por barco como Airbus-Hamburgo. Que teria acesso por comboio, como Boeing-Seattle?
A CTI “esqueceu-se” do que está na proposta de HUB Alverca-Portela porque não lhe convinha. Era algo que só uma solução com Alverca podia oferecer. Era algo, à escala de Portugal, tão importante como a decisão a favor de Hamburgo na escolha Airbus. Tão relevante e único que justificava a antecipada eliminação. Para que não se comparasse com a mudança de toda a TAP para o longínquo CT Alcochete. É obrigação da equipa de desenvolvimento do HUB Alverca-Portela, em defesa do superior interesse público, dizer o que Portugal perde com a eliminação de um HUB em Alverca. Para que os portugueses possam julgar as soluções em consciência.

*José Furtado é engenheiro, faz parte da equipa que propõe como solução para o futuro Aeroporto Internacional de Lisboa a solução Alverca.

Alverca é o berço da aviação em Portugal mas foi eliminada da solução para o novo aeroporto

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