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Associação solidária de Samora Correia transforma doações em sorrisos
Ana Sequeira, Isaura Nunes e Rosa Birrento tiram do seu tempo para ajudar dezenas de famílias carenciadas

Associação solidária de Samora Correia transforma doações em sorrisos

A Sorrisos da Lezíria nasceu há uma década para ajudar quem mais precisa.

A apoiar regularmente cerca de quatro dezenas de famílias a associação vive de doações de roupas, calçado, mobílias e outros bens. Discrição é a palavra de ordem das voluntárias que não duvidam de que ainda há muita pobreza encoberta pela vergonha.

A porta ainda não abriu mas do lado de fora um pequeno grupo de pessoas de sacos vazios nas mãos junta-se à conversa. No interior da sede da associação Sorrisos da Lezíria, em Samora Correia, as três voluntárias acabam de organizar nas prateleiras as roupas, calçado, brinquedos, roupa de cama e outros bens doados que serão entregues a famílias carenciadas no primeiro sábado de cada mês. Ali todos recebem um atendimento personalizado, ajustado às suas necessidades, tamanho e gosto. Quase parece uma loja onde se entra para comprar, com a diferença de que quem ali vai paga com um sorriso e uma palavra de gratidão.
Ana Sequeira e Isaura Nunes criaram há uma década este projecto que, entretanto, se constituiu em associação, para ajudar, num ambiente de proximidade e isento de grandes burocracias, famílias carenciadas do concelho de Benavente. Mas a ajuda, afirmam, estende-se a outras localidades vizinhas. Actualmente dão apoio regular a cerca de 40 famílias, fora casos urgentes e pontuais de quem lhes bate à porta a pedir ajuda. “As prateleiras enchem-se rápido, mas esvaziam mais rápido ainda. Aqui as pessoas encontram o primeiro apoio e quando nos apercebemos que o que conseguimos dar não é suficiente encaminhamos para outras entidades com mais possibilidade”, diz-nos Ana Sequeira que, além de fundadora, é presidente da direcção.
Sempre que a porta da associação se abre encontram-se caras repetidas e outras novas. Na manhã de sábado, 2 de Setembro, uma família de imigrantes oriunda do Brasil é a primeira a entrar. Pedem roupas para um dos filhos e um casaco quente para o membro masculino do casal, o que está há mais tempo no país. A mulher, a filha e o filho, chegaram há nove meses e as dificuldades têm sido muitas sobretudo ao nível da habitação que além de escassa tem sofrido aumentos que castigam esta e muitas outras famílias. “Há pessoas que conseguem ter em dia as suas despesas fixas, mas depois não sobra dinheiro para roupas que também são precisas sobretudo em famílias com bebés e crianças” até porque, justifica Isaura Nunes, deixam de servir mais rapidamente. Assim vai-se ajudando quem precisa ao mesmo tempo que se reutilizam roupas descartadas de gavetas e armários.

“Há quem dê lixo para outros vestirem”
O casal de brasileiros vai juntando ao saco mais algumas peças que Rosa Birrento, responsável pela organização das roupas, vai mostrando com empenho. “Aqui não temos problemas em dar, se a pessoa diz que precisa leva. Se não servir traz de volta. Mas também não damos o que nós não éramos capazes de vestir” e, lamentavelmente, “há quem dê lixo para outros vestirem”, prossegue Isaura Nunes, conhecida por Isa por aquelas bandas. Desde ténis descolados, sapatos sem sola, a roupas rasgadas ou manchadas, encontra-se de tudo um pouco nos sacos que lhes vão parar às mãos. Mas doações dessas, vinca a voluntária, não são precisas nem bem-vindas.
Entra um idoso a pedir uns sapatos tamanho 42. Ana Sequeira disponibiliza-se para ajudá-lo a mexer no cesto do calçado. “De recém-nascidos, a bebés, crianças, adultos e idosos, ajudamos de tudo um pouco”, afiança Isaura Nunes que é responsável por lançar apelos nas redes sociais da associação sempre que são precisos bens de que não dispõem. Às vezes leite, outras vezes fraldas, mobílias ou artigos para bebés, como cadeiras para automóvel ou de alimentação. “Se não conseguirmos logo ficamos com o nome da pessoa que precisa numa lista e quando tivermos o que procura telefonamos”, explica.
Ana Sequeira conta que desde que fundaram a associação nunca receberam tantos pedidos de ajuda como agora e acredita que haverá muitas mais pessoas em situação de pobreza que se escondem por vergonha. “Há muita fome encoberta. Às vezes chegam aqui a pedir já no limite, quando já podíamos ter ajudado antes para que não tivessem chegado a fases tão complicadas”, diz. Mas se há quem ali vá porque precisa o contrário também se verifica. “Há muita gente que tem um telefone de última geração e vem cá pedir. Não podemos dar a pessoas assim e estar a tirar a outra que precisa. Tentamos ser justas”, refere Isaura Nunes, explicando que após o primeiro apoio são pedidos os dados à pessoa ajudada de modo a conseguirem verificar se realmente se trata de alguém com carência económica. Se tal não se verificar “o apoio é cortado”.
O trabalho destas voluntárias, que são “quase sempre as mesmas”, é árduo mas “feito de coração”. Não se esperam prezados agradecimentos pelo trabalho que fazem, sempre com discrição, ou algo em troca. A gerir há uma década uma associação que vive de doações de bens e de alimentos - que é o que se pede aos sócios - esperam apenas terminar o primeiro sábado de cada mês com o sentimento de que a missão que as move foi cumprida com sucesso. “Fazemos o máximo que conseguimos”, remata Ana Sequeira.

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