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Queixas, ameaças e demissões nos Bombeiros Torrejanos
Presidente da direcção da AHBVT, Nuno Cruz (à direita) e o vice-presidente, Gabriel Neves, comunicaram a demissão em bloco em conferência de imprensa, que decorreu no quartel dos Bombeiros Torrejanos

Queixas, ameaças e demissões nos Bombeiros Torrejanos

Direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários Torrejanos anunciou a demissão em bloco a dias da realização de uma assembleia para votar a destituição da mesma. Dirigentes, que tornaram pública uma suposta fraude fiscal de quase meio milhão de euros e suspenderam o comandante, falam em clima de tensão e ameaças a bombeiros.

Os Bombeiros Voluntários Torrejanos são uma casa a arder. Depois da suspensão provisória do comandante, de ser tornada pública uma eventual fraude fiscal na ordem de meio milhão de euros e da convocação de uma assembleia extraordinária para se votar a destituição da direcção, esta demitiu-se em bloco, na segunda-feira, 12 de Fevereiro. A juntar ao cenário caótico, os dirigentes, que vão continuar em comissão administrativa até novas eleições, falam num ambiente de ameaças e pressões aos bombeiros que não integram o grupo de apoio ao comandante, José Pereira.
Na origem da demissão, comunicada por alguns elementos da direcção em conferência de imprensa, está, acima de tudo, a convocatória publicada pelo presidente da assembleia-geral e ex-presidente da direcção anterior, Arnaldo Santos, para a realização de uma sessão extraordinária, a pedido de alguns sócios, para se discutir e votar a destituição da direcção. A reunião da assembleia-geral estava marcada para sábado, 17 de Fevereiro.
“Isto configura um verdadeiro golpe de Estado porque a direcção foi legitimamente eleita e sem que seja invocada justa causa alguém entendeu pedir uma assembleia para destituir a direcção. Na minha óptica só tem uma explicação: denegar a justiça”, referiu aos jornalistas o vice-presidente, Gabriel Neves. O dirigente acrescentou que dada a “preocupação emergente de destituir com rapidez a direcção”, que além de não ter renovado a comissão do comandante detectou irregularidades fiscais comunicadas às autoridades, já estava a ser “preparada uma comissão” para ficar a gerir a associação assim que a direcção eleita fosse destituída em assembleia. “E isso só tem escopo num sentido: ir junto dos tribunais retirar os processos que esta direcção intentou e desta forma denegar a justiça”, afirmou.
Na conferência de imprensa foi ainda explicado que perante o clima de tensão existente foram realizadas reuniões numa tentativa de apaziguar os ânimos e adiar, pelo período de oito meses, a assembleia para a destituição da direcção, até que os processos que correm nos tribunais tivessem desfecho. No entanto, lamentaram, sem sucesso.

“Bombeiros estão a ser coagidos e ameaçados”
Segundo o presidente da direcção demissionária, Nuno Cruz, e o vice-presidente, tem havido ameaças reiteradas a elementos da corporação que não pertencem ao grupo de apoio do comandante José Pereira, que apesar de ter sido suspenso continua em funções na qualidade de voluntário tendo recorrido da decisão para uma comissão arbitral, presidida por Arnaldo Santos, que lhe deu razão. A AHBVT respondeu com um processo disciplinar e com um processo judicial, que decorrem.
“Já são muitas as queixas e vão ser comunicadas à comissão local da câmara municipal de protecção da vítima, algumas já estão no Ministério Público e outras serão comunicadas às instâncias judiciais”, afirmou Gabriel Neves, explicando que o comandante tem andado a “abordar os bombeiros” e a fotografá-los, assim como às instalações. “Os bombeiros estão a ser pressionados, coagidos e ameaçados por pessoas que integram o grupo de apoio ao comandante e isso é inaceitável”, sublinhou.
Alguns, prosseguiu Gabriel Neves, apresentaram baixa psicológica, o que diminui inevitavelmente a capacidade de resposta da corporação. Em resposta a O MIRANTE, questionado sobre se o socorro às populações pode estar em risco tendo em conta o clima intimidatório e as baixas psicológicas, o vice-presidente respondeu que, até à data, ainda não foi comprometida a capacidade de resposta do corpo de bombeiros. “No futuro não sabemos. Que a situação é caótica, é”, concluiu.
O comandante José Carlos Pereira respondeu ao contacto de O MIRANTE afirmando que as acusações de ameaças não correspondem à verdade.

Presidente demissionário diz-se disponível para arcar com responsabilidades

Sobre a eventual fraude fiscal na ordem de meio milhão de euros detectada e comunicada pela direcção de Nuno Cruz às entidades competentes, o dirigente, que foi vice-presidente na anterior direcção liderada por Arnaldo Santos, disse em resposta a O MIRANTE que desconhecia que pudessem estar a ser cometidas fugas ao fisco. Em causa, recorde-se, estão pagamentos de serviços a bombeiros pelo transporte de doentes não urgentes e de cobradores de quotas, ao longo de anos, que não foram comunicados à Autoridade Tributária, nem pela parte dos recebedores nem pela entidade pagadora, a AHBVT.
Nuno Cruz quis sublinhar que esteve apenas alguns meses na anterior direcção, na qual começou como suplente passando a secretário e, posteriormente, a vice-presidente após várias demissões de dirigentes. “Os pelouros que tinha não estavam ligados à área financeira. Em nenhuma das reuniões em que participei esse assunto foi falado. Desconhecia, é um facto”, reiterou, ressalvando que tanto ele como a tesoureira, que ocupava o mesmo cargo na anterior direcção, acatarão as “responsabilidades que tiverem de ser assumidas”.

Queixas, ameaças e demissões nos Bombeiros Torrejanos

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