A ligação das gentes ao rio nas festas da Senhora da Boa Viagem em Constância
Procissão em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem e as Bênçãos dos Barcos nos rios Tejo e Zêzere foram o ponto alto da edição deste ano das festas de Constância. O MIRANTE acompanhou o último dia das festividades e conversou com o presidente da Âncoras, Carlos Pires, uma associação de Oeiras que participou pelo terceiro ano consecutivo no evento.
As Festas em Honra da Senhora da Boa Viagem e do Concelho regressaram à vila de Constância de 29 de Março a 1 de Abril. O Dia do Concelho, feriado municipal que se assinalou na segunda-feira de Páscoa, 1 de Abril, voltou a ser o ponto alto dos festejos, destacando-se a realização da Missa Solene, a Procissão em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem e as Bênçãos dos Barcos nos rios Tejo e Zêzere. As ruas decoradas com flores de papel feitas pela comunidade continuam a ser uma imagem de marca das festas, assim como as tasquinhas com gastronomia regional.
O MIRANTE esteve presente no último dia das festividades, que contou com a presença de várias centenas de pessoas, num dia marcado pela demonstração da força das tradições locais. A Associação Âncoras, presidida por Carlos Pires, participou pelo terceiro ano consecutivo no evento. O líder da colectividade do concelho de Oeiras explica que a presença no evento pretende enaltecer a dedicação ao património marítimo. “Estamos a recriar em Oeiras a peregrinação, o Círio de Oeiras à Atalaia, e tudo isto faz parte de um património material do rio Tejo e das culturas marítimas do Tejo. O envolvimento da população hoje tem uma dimensão diferente, mas as raízes estão cá, e nós gostamos de vir a Constância dar o abraço a esta população”, referiu Carlos Pires.
A Âncoras é uma associação dedicada à náutica tradicional que, entre outras coisas, promove a defesa do Tejo. “Ao longo do ano juntamos em passeios e actividades mais de duas mil pessoas”, revelou o presidente da associação, que conta com uma década de existência. Nas festas de Constância estiveram presentes sete elementos, no entanto a associação tem mais de uma centena de sócios activos. “O crescimento dos associados e da paixão pelo mar faz-se progressivamente, é um trabalho diário. Temos uma embarcação moderna, temos uma embarcação com mais de 100 anos e temos uma embarcação ligeira. São estas três embarcações que sustentam o nosso modelo de actividade, quer na parte marítima-turística, quer na parte social e de colaboração do município de Oeiras”, explicou Carlos Pires.
Uma história secular
A devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem em Constância está associada ao intenso tráfego fluvial de mercadorias que se fez durante séculos entre o porto de Constância e Lisboa. Como se lê no site da Câmara de Constância, passado o tempo dos marítimos e do transporte fluvial, a Festa em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem “entrou em declínio, como as actividades que a geraram e mantiveram, e só não desapareceu porque a Paróquia decidiu assumir a sua organização”. A partir dos anos 60 do século XX a festa rendeu-se ao automóvel institucionalizando-se a Bênção das Viaturas na Praça Alexandre Herculano. Mas as festas só ganharam novo fôlego quando António Mendes assumiu a presidência da Câmara de Constância (na segunda metade da década de 80) e se alterou profundamente o figurino das mesmas introduzindo novidades como as ruas floridas, o artesanato, as tasquinhas e uma aposta forte no cartaz musical. Um modelo que, na essência, se tem mantido até aos dias de hoje e que continua a atrair muitos visitantes.