50 anos de Abril: o que ficou, o que mudou, o que ainda haverá a mudar?
Sempre que se faz alusão ao 25 de Abril de 1974, a primeira palavra que ocorre é liberdade; a primeira imagem, uma flor, um cravo. Muitas décadas de ditadura e fascismo assolaram Portugal, antes que a palavra liberdade pudesse brotar livremente dos lábios de todo um povo, e em voz alta proclamada. Durante 48 anos, um terror fascista foi sentido em cada conversa tida, em cada livro lido e em cada palavra proferida. Quatro décadas, quase cinco, marcaram um país acostumado ao silêncio, amarrado à ignorância imposta, acorrentado a ideias que não ousava, sequer, refutar. Mas o medo deixa de ser perpétuo quando a alma humana clama por mudança e quando o homem se permite a acreditar.
E assim foi determinado que cantasse o poeta a canção que para a posteridade ficaria conhecida como o hino da Revolução, emitida pela Rádio Renascença, confirmando o que os diversos quartéis e seus soldados esperavam ouvir. E assim foi que Grândola, Vila Morena, entoou bem alto, marcando a saída da Revolução para as ruas, e a queda de 48 anos de ditadura. E muitos foram os rostos anónimos, de homens e mulheres que saíram à rua, há meio século, motivados pela esperança e pela fé num Portugal que renascia, que se libertava dos grilhões que amarravam as suas ideias e opiniões, os seus sonhos e os seus ideais.
50 anos depois, e ainda alguns dos rostos que fizeram Abril saem à rua, não só para as comemorações que a data exige, mas para reivindicar direitos adquiridos com a revolução que os sucessivos governos tenderam a banalizar. Rostos enrugados pela passagem do tempo, que levam pela mão as duas gerações que lhes sucederam e que, em conjunto, gritam por mais condições de vida para todos em Portugal. Portugal, país tão rico em tradição secular; Portugal, país tão rico em costa marítima; Portugal, país tão rico que praticamente se garante com o turismo. Mas enquanto surgirem novos partidos políticos que em nada acrescentam à democracia em Portugal, enquanto na Assembleia da Republica os deputados forem mais do que o necessário, enquanto as obras públicas sofrerem sempre derrapagens e as pastas entregues a “afilhados”, Portugal e os homens e as mulheres de Abril, terão de continuar a erguer o seu cravo e a lutar!
Júlia Bernardino