Santarém, autárquicas 2025
Assim, silente, o presidente Ricardo foi pagando a dívida que lhe tolheu os movimentos (...) Não concordando com algumas das suas opções, designadamente, com o colossal investimento que vai ser feito numa denominada academia de futebol, reconheço-lhe elevada astúcia política, como testemunham, não apenas as suas vitórias eleitorais, como, sobretudo, o abraço de urso ao PS neste último mandato.
Na capital do Ribatejo sentem-se já as movimentações das placas tectónicas políticas das eleições autárquicas de 2025. Não obstante, já previamente anunciada, a saída do presidente Ricardo Gonçalves fez despertar as conversas de café em Santarém. A sua passagem de testemunho traduziu-se numa jogada de estratégia política, tantas vezes utilizada em tantos concelhos do país. Aliás, utilizada também pelo Dr. Moita Flores quando optou pelas eleições em Oeiras, concedendo espaço ao então vereador Ricardo Gonçalves.
Com esse expediente o PSD pretende que o agora presidente João Leite possa chegar às eleições de 2025 com outro reconhecimento público e já como um incumbente consolidado. Todavia, o novel incumbente terá de percorrer um duro e penoso “caminho das pedras” para se alcandorar ao nível de reconhecimento público do seu antecessor.
O presidente Ricardo Gonçalves, pessoa que prezo e a quem reconheço competência, fez das tripas coração para, num número de autêntico trapézio político, pagar as dívidas de 100 milhões de euros dos mandatos do Dr. Moita Flores, nos quais participou.
Ora, este era o grande “handicap” político, o grande calcanhar de Aquiles do presidente Ricardo Gonçalves, que a oposição escalabitana, por mera incompetência política, nunca conseguiu denunciar. No fundo, a grande obra do Presidente Ricardo foi ter extinguido o fogo ateado por uma equipa de que fez parte, liderada pelo Dr. Moita Flores.
Assim, silente, o presidente Ricardo foi pagando a dívida que lhe tolheu os movimentos ao longo destes anos, deixando agora o município pronto para outros voos. Imagino-lhe a frustração de não se poder recandidatar, logo agora que passou a dispor de outras condições para a gestão do concelho.
Não concordando com algumas das suas opções, designadamente, com o colossal investimento que vai ser feito numa denominada academia de futebol, reconheço-lhe elevada astúcia política, como testemunham, não apenas as suas vitórias eleitorais, como, sobretudo, o abraço de urso ao PS neste último mandato.
Por seu lado, o PS concelhio, depois de ter sido abafado politicamente por Ricardo Gonçalves, vê na saída deste último uma oportunidade única para recuperar a autarquia. Como dentro do seu minguado círculo político não consegue inventar um candidato escalabitano, o PS volta-se nervosamente para o outro lado do Tejo. Daí que não seja difícil imaginar o namoro ao ainda presidente do Município de Almeirim, Pedro Ribeiro, para que este seja o seu candidato à edilidade da capital ribatejana. Sim, prevejo que o candidato do PS à Câmara Municipal de Santarém venha de além Tejo e que seja o presidente da Câmara Municipal de Almeirim.
Mas os sinais não são nada animadores. O PS erra ao pretender acabar com os bombeiros municipais - estrutura profissional -, apostando precisamente no caminho inverso àquele que deveria ser seguido. De facto, no que concerne aos bombeiros em Portugal, o futuro terá de ser o da sua total profissionalização, acabando-se com a terminologia de voluntários e apostando-se, decididamente, no desenvolvimento e capacitação das corporações dos bombeiros profissionais - municipais e sapadores. A vida não volta atrás.
Quanto ao exercício de oposição em Santarém, neste último mandato foi protagonizado exclusivamente pelo CHEGA que, como tal, capitalizará essa empreitada numa subida eleitoral significativa em 2025. Basta andar na rua para se perceber isso.
Sim, o “pas de deux” formado pelo PSD e o PS irá terminar. Aturdidos, verão irromper um “pas de trois”, cuja coreografia ainda é desconhecida.
P.N.Pimenta Braz