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Erudito Serafim das Neves

Está a chegar o bom tempo, daqui a pouco começam as férias de Verão e a Câmara de Santarém ainda não mudou a estátua do Salgueiro Maia para um local mais digno, como foi reivindicado com toda a dignidade, já não sei por quem. Eu detesto esta política do deixa andar.

E a Câmara de Almeirim que anunciou com estrondo que ia fazer um crematório. Já fez alguma coisa? Nada. Nadinha. Nem sequer uma lareira ao canto do cemitério. Um dia destes morro e lá têm que me levar para o crematório da Póvoa de Santa Iria. Quem é o morto do mundo rural que quer ser cremado nos subúrbios de Lisboa? Chiça!!!
E os campos de futebol da Quinta das Pratas no Cartaxo, já foram expropriados? Népia...isto está lindo, está?! Se não fosse o José Cid com a canção das meninas da cidade que vêm ao Ribatejo à procura dos rapazes do campo porque gostam de patilhas e de montar a cavalo, o meu astral andava mais murcho que uma ameixa seca.
Para além do José Cid, o que me tem valido também é esta disputa acesa entre ensino privado e ensino público. Esta discussão sobre se financiar colégios finos é tão importante como pagar subvenções vitalícias a políticos aposentados, por exemplo. Ou arranjar empregos de assessores aos jovens das juventudes partidárias, por exemplo.
Eu, como sabes, sou um produto genuíno do ensino público. Levei reguadas é verdade mas ganhei tal amor à língua portuguesa que ainda agora quando lhe tentam mexer, seja com calinadas, seja com acordo ortográfico fico com o pelo todo eriçado. Qual acordo qual carapuça. Bem acordado ando eu há muito tempo. A escola pública é que é!
Se há professores marcantes na vida de qualquer estudante um deles foi o meu professor da primária. E foi na escola pública não foi em colégios de padres. Marcou-me as mãos todas com a palmatória e a cabeça com a cana da Índia. Era cada galo que até dava para estudar as serras de Portugal a três dimensões. E se o ensino não era completamente laico era culpa nossa porque gritávamos por Deus e pela Nossa Senhora quando a porrada nos desabava em cima.
Mais tarde, já no liceu, foi graças a alguns professores que sabiam menos que eu, que ganhei a auto-estima que ainda hoje tenho. Recordo particularmente o de Francês que mandava “fermer lá janela parce q’il chovia lá fora” e um outro a quem chamávamos carinhosamente Dom Roncas, que punha o gago lá da turma a ler o livro de história em voz alta para conseguir adormecer a seguir ao almoço. E o que ele gostava daquelas sestas, meu Deus! Roncava que nem um justo!
Aquele senhor de bigode ali de Tomar que manda nos sindicatos dos prófes também deve ter andado na escola pública. Tem pinta disso. Aquela inteligência luminosa e aquela polidez no trato, não enganam ninguém. Num colégio privado não se adquire educação assim tão esmerada, digo-te eu.
Graças a ele e a outros como ele temos um ensino público de excelência. E sem avaliações de professores ou de alunos que são coisas que só dão chatices e que fazem perder tempo. E acho que também vão acabar com os trabalhos para casa para não traumatizar mais ninguém. E se acabarem com os livros ainda melhor. Esta mania do ensino livresco é uma treta.
A excelência da nossa escola pública está à vista. Basta ver que a nossa elite passou toda por lá. O Cristiano Ronaldo, por exemplo?! Teria ele chegado onde chegou se tivesse sido um betinho num colégio privado qualquer? E posso citar outros. O próprio Mário Nogueira, por exemplo?! Teria ele chegado a chefe do ministro da Educação, como dizem para aí, se tivesse frequentado uma escola de queques? Não!!! Claro que não!!!
Como é que ainda ninguém tinha reparado que o Estado andava a gastar o nosso rico dinheirinho a financiar o ensino privado??!! Será que andámos quarenta anos a ser governados por ex-betinhos e ex-queques, formados em colégios privados pagos com o dinheiro do povo??!! Não acredito!!!
Saudações Pedagógicas
Manuel Serra d’Aire

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