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Há petróleo em Santarém

“Triste país este, onde a pobreza é incontornável e assenta-nos muito bem. Que vergonha de país. Deixo uma pergunta: e se houver petróleo no Algarve? Ou até mesmo em Santarém?”

A versão moderna da comédia do petróleo, esta muito triste, chama-se “petróleo no Algarve”. A cereja em cima do bolo surgiu num recente Prós e Contras da RTP 1. Imagine-se o que seria um Prós e Contras para discutir o cancro que juntasse médicos especialistas com cidadãos. O petróleo no Algarve é, mais ou menos, o mesmo: qualquer um, por ser autarca, empresário do turismo, representante de associação, etc., diz o que lhe apetece. Mas o pior não é isto, tudo o que se diz tem o mesmo valor e peso independentemente de quem o diz. Triste país este, onde a pobreza é incontornável e assenta-nos muito bem. Honra seja feita ao presidente da Câmara Municipal de Monchique que foi extremamente claro, conciso e honesto quando afirmou: “não queremos petróleo no Algarve, ponto.” É mesmo só isto, há um conjunto de interesses equivocados que soube manipular a opinião de uma região, o Algarve, que não quer a exploração de petróleo no Algarve. Desde o cidadão – neste caso muitas vezes estrangeiro, que escolheu vir para Portugal viver a reforma – que quer a rua limpa mas não quer o contentor à porta de sua casa, até ao hoteleiro que quer “sol na eira e chuva no nabal”, tudo vale de argumento contra o petróleo no Algarve. Um dos argumentos mais citados, designadamente por autarcas e empresários, é a qualidade ambiental e a boa imagem do Algarve nesta matéria. O petróleo põe em causa o exemplo ambiental que é o Algarve. Só pode ser mesmo piada e a televisão pública não devia gastar um cêntimo com anedotas destas. Em matéria de ambiente devemos exigir que esta gente seja minimamente coerente e faça uma revolução ambiental no Algarve. O que farão ao aeroporto de Faro num parque natural? Ou será que esta e outras centenas de factos já não chocam os turistas que visitam o Algarve como chocaria a eventual exploração de petróleo? Certamente que o aeroporto será para fechar muito em breve. Igualmente também não faz sentido porque é profundamente contraditório que o Algarve, como todas as regiões, continue a assentar a sua economia em combustíveis fósseis. Certamente que as estações de serviço vão começar a encerrar e que vamos ver enormes cartazes a anunciar “Algarve livre de combustíveis fósseis”, tão ridículos como uns que se viam em muitos concelhos há uns anos a anunciarem “zona livre de armas nucleares.” Ao mesmo nível está a televisão pública que devia esclarecer, triar a informação que passa e ser responsável pela formação de uma opinião pública esclarecida. É óbvio que os algarvios, e os estrangeiros que lá vivem, têm todo o direito de não querer petróleo e até de serem incoerentes com o seu modo de vida e com tudo o que têm à volta. No verso da medalha está a assunção da responsabilidade por esta tomada de posição. Por absurdo, imagine-se que a propósito do Alqueva o Alentejo negava o regadio...Que vergonha de país. Deixo uma pergunta: e se houver petróleo no Algarve? Ou até mesmo em Santarém?
Carlos Cupeto – Universidade de Évora

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