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Uma fadista tardia que sempre teve alma de artista

Uma fadista tardia que sempre teve alma de artista

Casimira Alves começou a cantar fado em público apenas aos 44 anos. Tem 54 anos mas só há dez anos é que começou a cantar fado em público.

Casimira Alves vai actuar no dia 6 de Setembro em mais uma edição da Feira de Alpiagra, em Alpiarça, sua terra natal. Viveu 28 anos em França mas nunca esqueceu a sua vila. Até aqui conciliava o trabalho com a música. Agora vai viver só do fado, que é o que a faz feliz.

Casimira Alves, 54 anos, começou a cantar fado há apenas dez anos mas garante que tem alma de artista desde criança. A primeira memória que guarda é de ser bem pequena e cantar em frente aos espelhos de casa. Com seis anos foi uma das fundadoras do Rancho Folclórico da Casa do Povo de Alpiarça. Participou num grupo de variedades e integrou a banda da Sociedade Filarmónica 1º Dezembro Alpiarcense. Também participou na primeira edição do Grande Prémio da Canção Infantil que se realizou em Portugal. Casimira venceu a eliminatória do Ribatejo e representou a sua região na final que decorreu no Porto. “Tenho uma fotografia ao lado da Marina Mota, que também concorreu”, recorda.
Nessa altura não queria saber de fado. Preferia cantar as músicas de rock que faziam furor nos anos 60 do século passado. Com 13 anos emigrou para França com os pais e a irmã. Viveu lá 28 anos. Durante as quase três décadas que viveu em Champagnole, perto da fronteira com a Suíça, nunca cantou em público. “A música ficou arrumada num cantinho. Continuei a cantar apenas em frente ao espelho”, confessa. Apesar de ter a vida estabilizada em França decidiu regressar à sua terra natal há 12 anos.
“Foi em Alpiarça que vivi as minhas primeiras emoções e fui sempre muito ligada a esta terra. Nunca esqueci a falta que me fazia viver cá. Talvez por isso fizesse questão de, apesar de estar noutro país, falar sempre português quando o habitual é os emigrantes falarem francês”, diz. Casimira Alves conta que vinha de férias a Alpiarça todos os anos com a família, sempre em Julho ou Agosto. “Em Maio já tinha as malas feitas para as férias. Às vezes os meus filhos queriam vestir uma t-shirt e já estava dentro da mala. Foi assim durante quase 30 anos”, confessa entre gargalhadas.
Quando regressou foi desafiada por uma prima a participar num concurso de vozes do fado e chegou à final. Participou em várias noites do fado e chegou à final da Gala do Fado de Lisboa. “Éramos mais de 100 participantes e consegui chegar aos 12 finalistas. Estava em primeiro lugar a um ponto da Elsa Casanova. Depois vieram falar comigo a dizer se eu não me importava de ficar em segundo lugar uma vez que a Elsa Casanova, que é um grande talento, ia participar num musical do La Féria e eu também já era mais velha e não era profissional do fado. Eu só disse que estava felicíssima com o meu segundo lugar”, conta.

“O momento de arriscar é este”

Na infância e adolescência Casimira Alves não gostava de cantar fado mas agora não se imagina a cantar outra coisa. A fadista ribatejana admite estar numa fase de mudança. Deixou recentemente o seu emprego e vai viver só do mundo da música. “O momento de arriscar é este. É agora ou nunca. Houve momentos em que chegava a casa dos espectáculos às seis da manhã e tinha que ir trabalhar duas horas depois. Cheguei a parar na berma da auto-estrada para dormir por estar tão cansada”, refere.
Casimira Alves vai participar novamente na Alpiagra - Feira de Alpiarça no dia 6 de Setembro. “É um prazer enorme cantar em Alpiarça, para estas pessoas que conheço bem”, diz. Confessa que tem nove temas para cantar neste espectáculo mas ainda não tem as letras das músicas todas decoradas. “Quando subo ao palco normalmente corre bem. Funciono muito bem sob stress”.
Para ela, Lucília do Carmo e Beatriz da Conceição são as melhores fadistas portuguesas juntamente com Amália Rodrigues, que “levou o nome de Portugal ao estrangeiro”. Os seus fadistas preferidos são Marco Rodrigues e Ricardo Ribeiro. Já teve o privilégio de cantar com o primeiro num espectáculo em Santarém.
Gostava de cantar no antigo cine-teatro de Alpiarça, onde se estreou com o rancho folclórico e também no Olímpia, em Paris. Considera que o fado é cada vez mais valorizado mas o facto de ter sido elevado a Património Imaterial da Humanidade, pela Unesco, trouxe algumas desvantagens. “Qualquer pessoa canta fado e encontramos grandes vozes fadistas mas também pessoas que não têm qualquer noção do que é saber cantar, muito menos fado, e isso banaliza o fado”, realça.
Mãe de quatro rapazes continua a visitar França com regularidade para matar saudades dos filhos mais velhos. Apenas o mais pequeno, veio para Portugal com a mãe.

Uma fadista tardia que sempre teve alma de artista

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