Texto escrito pelo Pedro Abrunhosa depois de ter sido recebido pelo Papa
Agnóstico me confesso mas acredito verdadeiramente neste Papa
Fui hoje recebido, ao lado de duas centenas de Artistas de todo o mundo, pelo Papa Francisco. Uma marcante cerimónia que decorreu no local mais emblemático para a Arte e Cultura Ocidentais: a Capela Sistina, Vaticano. Com uma força anímica ímpar, saído de uma recente intervenção cirúrgica, o Papa trouxe palavras surpreendentes aos Artistas ali presentes: a Arte deve ser inconveniente, irónica, interventiva. Citou Hanna Arendt e Simone Weil, duas mulheres não-católicas e figuras cimeiras do pensamento filosófico contemporâneo. Para Francisco, o Artista é um ‘pouco profeta’, ‘um visionário’, um homem que ‘vê e que sonha’, que, pelo acto criativo, revela ‘coisas novas ao mundo’. Este é, para mim também, talvez o papel maior de cada um de nós que se ergue pela Arte: fazer o novo, romper mas também elevar e, sobretudo, fazer transcender. A Arte é um lugar especial, também para o Papa, um feito que nos liberta da vileza do banal, do egoísmo, da fúria do consumismo, porque a Arte, ímpeto do espírito, é vida para além do resultado, da substância, do sucesso, da vaidade. O Artista deve confrontar o poder e acudir aos mais fracos, aos pobres, não se fazendo hipérbole de si próprio, usando o real para transformar o real. Convergimos em muito nesta visão da espiritualidade sublime do acto criativo. A Arte, como o Amor, salva-nos da escura noite da guerra, do ódio, da intolerância. Num comovente discurso de meia hora, o Papa Francisco disse o que poucos responsáveis políticos toleram: o papel fundamental da Cultura, da Arte, do Sonho, na construção de uma comunidade integra, longe dos vícios da corrupção e da simonia. Agnóstico me confesso, mas acredito convictamente neste Papa, no seu papel reformista que, estou certo, deixará marca indelével e fará da instituição católica uma nova igreja abrangente e inclusiva. Porque ao invés de tentar levar os homens a Deus, Francisco traz Deus aos Homens.