Crónicas do Brasil | 11-12-2019

Brasil Rupestre

1 / 9
Brasil Rupestre
2 / 9
Brasil Rupestre
3 / 9
Brasil Rupestre
4 / 9
Brasil Rupestre
5 / 9
Brasil Rupestre
6 / 9
Brasil Rupestre
7 / 9
Brasil Rupestre
8 / 9
Brasil Rupestre
9 / 9
Brasil Rupestre

Fui ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu trabalhar voluntariamente, recebendo em troca estadia e alimentação, além do aval para conhecer as belezas naturais da região.

Cheguei ao Parque Nacional Cavernas do Peruaçu no final de junho deste ano. Não sabia ao certo o que ia encontrar, pois não costumo pesquisar muito sobre meus destinos de viagem: sabia apenas o necessário, para deixar ainda algum sabor às surpresas e experiências. Em Januária, norte do estado de Minas Gerais, tive a sorte de alcançar o ônibus para Itacarambi no ato da partida (são apenas dois por dia). Embarquei e pouco depois desci num recuo da BR-135, na altura da comunidade Fabião I, onde está localizada a sede do Parque Nacional. Ali a natureza é de transição entre o Cerrado e a Caatinga, com árvores barrigudas e belas formações de calcário cinzento povoando a beira da rodovia, em contraste com a vegetação colorida pela seca.

Ao entrar pela estrada da comunidade logo encontrei a base do Parque, e me alojei no único quarto da estrutura, destinado ao abrigo de eventuais voluntários. Eu era um deles. Fui ao Parque trabalhar voluntariamente, recebendo em troca estadia e alimentação, além do aval para conhecer as belezas naturais da região. A gestora do Parque, ao saber que eu era fotógrafo, me incumbiu de registrar visitas às cavernas e reuniões eventuais de condutores, entre outros eventos.

Neste ponto, chego ao que realmente interessa: o transcendentalismo natural da região, tanto biogeológico quanto antropológico, e sua beleza incrível. A estrada da comunidade forma um ‘T’ com a BR-135 e invade a mata, conduzindo às cavernas e aos sítios arqueológicos. Com trechos de areia, a passagem de carro é ligeiramente complicada, e alguns quilômetros adiante se inicia a trilha que leva à Gruta do Janelão. Depois de caminhar por um terreno de mata seca, em direção ao vale do Rio Peruaçu, a vegetação assume contornos de floresta tropical densa: é a mata ciliar.

Mais à frente, chega-se a um paredão de calcário, repleto de pinturas rupestres coloridas de diversas formas e dimensões. Foi a primeira vez que estive em presença de uma pintura rupestre: observei as imagens com algum vigor a fim de decifrar as mensagens dos paleoíndios pintores. Em seguida, a trilha envereda em declive, conduzindo a um mirante de onde se vê surgir imenso pórtico de caverna. O canto das maritacas cria ali uma atmosfera pré-histórica, e o poder do seu eco nas dimensões colossais do portal fazem o caminhante se sentir numa espécie de templo orgânico, como numa viagem ao centro da terra de Julio Verne.

A descida revela cada vez mais aspectos da gruta: a relva iluminada em contraluz, os paredões acidentados com proeminências bulbosas, e o rio Peruaçu em seu fluxo milenar no interior da caverna, moldando-se e moldando-a num ímpeto perene. Em seu interior, o visitante observa os paredões crescerem vertiginosamente acima de si, interrompidos em alguns pontos por imensas claraboias que iluminam a caverna e possibilitam o crescimento da vegetação.

O Parque conta ainda com mais de cento e quarenta cavernas catalogadas e numerosos sítios arqueológicos. O mosaico de unidades de conservação Sertão Veredas-Peruaçu, no qual o Parque está inserido, é uma das maiores áreas remanescentes do Cerrado brasileiro, que sofre com a pressão expansionista das fronteiras agrícolas, madeireiras e mineradoras. Este é apenas um primeiro vislumbre que se pode ter da região, que é palco magnífico para inúmeros conflitos e guarda ainda muitas histórias.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo