Crónicas do Brasil | 15-02-2020

Helenice Dornelles e Ronaldo Miranda: Dois pintores, uma exposição

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Helenice Dornelles e Ronaldo Miranda: Dois pintores, uma exposição

Helenice Dornelles nasceu em Santa Maria, Rio Grande do Sul, e se transferiu para Belo Horizonte em 1982, com pouco mais de vinte anos. Frequentou a Escola Guignard, como modelo e artista, e ainda nesse seu tempo mineiro participou de salões e coletivas. Numa dessas exposições, sua pintura chamou a atenção de Carlos Roberto Maciel Levy e Cláudio Valério Teixeira. Incentivada por eles, começou a expor no Rio de Janeiro e residiu alguns meses em Niterói. Em 1990, foi para Nova York, onde viveu até 2004. Ronaldo Miranda é de Niterói mas vive no Rio há muitas décadas. Autodidata em pintura, conquistou em 1971 o prêmio do Salão do Mar e realizou numerosas exposições individuais por capitais brasileiras. No Museu Nacional de Belas Artes, expôs duas vezes, em 1974 e 1989. Helenice igualmente expôs em várias capitais brasileiras e também nos Estados Unidos e na Índia, em 1996.
A maioria dos críticos que escreveram sobre a pintura de Ronaldo Miranda destaca a sua simplicidade, o que em arte é uma conquista difícil. “Rigor formal que inclui ordem e equilíbrio”, escreveu em 1970 Roberto Alvim Corrêa; “Simplicidade e síntese”, apontou Abelardo Zaluar em texto de 1983. Essa simplicidade o conduziu a uma pintura que se revela em si mesma sem arroubos, objetiva, direta e até certo ponto desolada em sua perturbadora solidão – mas, ao contrário de um artista como Hopper, Ronaldo não pinta figuras humanas. Ele é o pintor do descanso da paisagem, do que ela pode nos dar em quietude e meditação, e é enfático e agudo no que propõe.
Helenice Dornelles, ao contrário mas de maneira complementar nesta exposição, realiza uma pintura um tanto farfalhante. Suas naturezas mortas e interiores nos convidam a uma intimidade exaltada: são salas repletas de objetos que transpiram o suor cotidiano, às vezes o próprio ateliê da artista nos descortina essa vivência que invade também seus intensos jardins floridos. Ela antes pintou paisagens exteriores, marinhas com barcos, ruas, quintais. Sobre o seu período novaiorquino ela me conta que, em visita a uma exposição de Matisse no MoMA, viu-se despertada para esse parentesco quase óbvio mas, para ela, envolto em mistério. Matissiana ou não, sempre pintou assim, com ênfase na cor e como se estivesse em estado de excitação febril. Por vezes suas cores ardentes parecem dilatar a perspectiva, que pede a adesão do expectador, um mergulho nessa inquietude, nesse desassossego. Seus quadros são alegorias desse seu espanto frente ao que vê e sente – como quem, ao buscar traduzir-se na paisagem, deixasse nas telas pousar o pássaro do delírio.
Essencialmente um pintor de naturezas-mortas, marinhas e paisagens, Ronaldo Miranda, em sua objetividade formal, se aproxima de Jacintho Moraes e Carlos Scliar, pintores de expressão contida. Mas é sobretudo no uso da cor que Ronaldo, apesar de parcimonioso, se distancia deles. Alguns críticos, no passado, perceberam a variedade de seus azuis. Sim, Ronaldo administra azuis como Batista da Costa administrava variadíssimos verdes, com sabedoria de inventor. Conforme anotou Antonio Carlos Villaça, sua atuação na pintura é de um obstinado rigor, e um rigor à Valéry, uma verdadeira ascese dionisíaca. O mesmo Villaça apontou ainda essa presença catalizadora, de solidão e silêncio, nesses óleos atravessados por uma visão metafísica. O próprio Ronaldo um dia confessou: “Quero o silêncio na tela”.
Já o silêncio de Helenice é de outra natureza, latente nos vermelhos invasores e sanguíneos. Talvez pudesse ser traduzido por meio da expressão afortunada de Lúcio Cardoso: “Uma introdução à música do sangue”.
A exposição Helenice Dornelles e Ronaldo Miranda, organizada de maneira exemplar por Laura Olivieri Carneiro e seu pai, o escultor e marchand Evandro Carneiro, fica em cartaz até 29 de fevereiro na Galeria Evandro Carneiro Arte, Gávea Trade Center, rua Marquês de São Vicente 124, lojas 108 e 109, Gávea, Rio de Janeiro, de segunda a sábado, das 10 às 19h.

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