Covid-19 | 29-06-2021 11:05

Covid-19 é mais severa em quem tem desequilíbrio de flora intestinal

Covid-19 é mais severa em quem tem desequilíbrio de flora intestinal
SOCIEDADE

Uma investigação portuguesa concluiu que a covid-19 pode ter efeitos mais severos em pessoas com desequilíbrio da flora intestinal. As bactérias presentes no intestino têm um papel importante no sistema imunitário, o que influência também o combate à covid-19.

Uma investigação portuguesa em doentes com covid-19 concluiu que a infecção é mais severa em pessoas que têm desequilíbrio da flora intestinal, fortalecendo a importância do microbiota (conjunto de bactérias) no sistema imunitário.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora Conceição Calhau, da NOVA Medical School e da unidade de investigação CINTESIS, que coordenou este trabalho, explicou que existem três tipos de desequilíbrio da flora intestinal: “ou temos mais patogénicos, ou menos dos que são bons, ou então temos um terceiro, que é muito frequente, que é ter menos de tudo, portanto, menor diversidade”, acrescentando que a maior monotonia de bactérias se deve muitas vezes à rotina de estilos de vida errados e que vão potenciando sempre as mesmas bactérias a estarem presentes.

Este estudo, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e pela Biocodex, é o primeiro realizado na Europa sobre o impacto da microbiota intestinal na severidade da covid-19 e envolveu 115 portugueses com diagnóstico da doença em diversos hospitais de norte a sul do país. O estudo decorreu entre Abril e Julho de 2020.

A especialista contou que os investigadores têm percebido que as bactérias no intestino têm um papel muito importante metabólico, ou seja, aquilo que são os estilos de vida e a alimentação de cada um vai alterando estes microrganismos de forma a associar-se depois à obesidade, à diabetes, às doenças cardiovasculares, ao cancro, entre outras doenças.

Conceição Calhau lembra igualmente que o desequilíbrio da microbiota está muito associado a quadros inflamatórios e que, por isso, doenças como a diabetes ou a obesidade têm em comum um processo de inflamação crónica de baixo grau.

Sabe-se já que esta característica da microbiota, que é um desequilíbrio, está fortemente associada a esta resposta inflamatória e, por outro lado, a própria capacidade do sistema imunitário de resposta é diferente porque as bactérias no organismo vão estando em tudo o que é contacto com o meio exterior.

Sublinha ainda a importância destas bactérias para apresentarem ao sistema imunitário aquilo que é a informação mais importante, aquilo que é efectivamente bom, o que não é bom e o que é uma ameaça.

Conceição Calhau insiste na importância deste equilíbrio: “O sistema imunitário vai-se desenvolvendo muito nesta sintonia com estes microrganismos”.

Referindo-se às conclusões da investigação que coordenou, Conceição Calhau exemplificou: “Para uma diversidade inferior a 2.2, o risco de ter um quadro severo é 2,85 vezes maior. (…) De facto, se tenho microbiota com índice de diversidade menor significa que tenho muito maior risco para ter um desenvolvimento menos positivo da doença e, portanto, quadros mais severos”.

Nos doentes envolvidos no estudo havia uma impressão digital de microbiota, afirmou a especialista, sublinhando: os que estavam internados tinham muito mais bactérias, que utilizam mais as proteínas animais como substrato energético, e muito menos daquelas que utilizam as fibras e que são as que produzem compostos que são protectores para o organismo.

Disse ainda que não tem dúvidas de que com a pandemia as pessoas ficaram mais sensíveis relativamente a assuntos relacionados com a alimentação e os estilos de vida.

Em termos científicos e médicos a microbiota intestinal é o assunto dos últimos 15 anos. Começou com a sua forte ligação à obesidade e já se estuda a sua forte ligação às doenças mentais. A investigadora concluiu que isto vem reforçar a necessidade de se cuidar destes microrganismos desde cedo.

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