A Palavra dos Leitores | 24-09-2021 14:05

Ser Criança no século XX e Ser Criança no século XXI

O que foi ser criança no século passado, e o que é ser criança nos nossos dias?

Que desafios, que expetativas e que brincadeiras rodeiam, hoje em dia, o imaginário destes seres, ainda tão pequeninos, mas já tão atentos ao mundo que os circunda, e que procuram descobrir, constante e incessantemente, através de novas formas?

E, quantos de nós nos lembramos da nossa infância?

– Muitos certamente, até mesmo porque o nosso passado foi-o, num tempo que não é tão longínquo assim, e que ainda está muito presente, não só através das nossas memórias individuais, mas também através de toda uma memória coletiva, que é transversal à passagem do tempo, e que viajou até ao presente século, de várias e diversificadas formas: do cinema, da música e, como não poderia deixar de ser, da literatura escrita e das estórias contadas, entre outras...

Alguns de nós, despreocupadamente, brincaram, estudaram, leram e passearam por esse Portugal fora, ou mesmo, por esse mundo além-mar…

Outros, ditou o fado, tiveram responsabilidades acrescidas, hoje em dia consideradas tão impróprias, e violentas até, para serem atribuídas a tão tenras idades! Até aos anos cinquenta e sessenta, houve crianças que nem sequer puderam ir à escola e que, para sua grande dor, contribuíram e contribuem, ainda hoje, para as estatísticas de analfabetismo em Portugal. Havia os campos para cultivar, os irmãos para cuidar, outras há que foram serviçais em lares particulares de gente desconhecida… e cozinhavam, costuravam e eram as babás dos meninos da casa – e tudo o que aqui refiro, me foi relatado, tantas e tão inúmeras vezes, em volta de uma lareira, nas noites invernosas, e à luz das estrelas, nas quentes noites de Verão… e que pensamentos dolorosos, estas estórias de vida, amargas e tristes, fazem despoletar no meu coração…

E, tudo isto é, também, sabido através dos livros de história. Mas desengane-se quem pensa que já não há analfabetismo no nosso país! Conheço o caso de uma pessoa que, pelas agruras da vida, apenas sabe assinar o seu nome. E essa pessoa tem apenas trinta e tal anos… Dá que pensar, não dá? E nomeio apenas um caso, conhecida por mim, no nosso país, “à beira-mar plantado”… Quantos mais haverá por aí?

De outros países chegaram relatos de “escravidão”, trabalho infantil, que nos faz gelar o sangue, a nós adultos, e que destrói o imaginário de qualquer criança. Horrível e temeroso mundo, esse, que nunca mais conseguimos que seja banido e os agentes da dor, responsabilizados, e indo mais além, e deixando-me levar pela tristeza, castigados!

E as nossas crianças e os nossos jovens de hoje? Que oportunidades lhes são dadas?

Persiste absurdamente, no século em que vivemos, muita infelicidade infantil associada a trabalhos duros, pesados e desumanos, e que nunca deveriam ter sido entregues, em época ou altura alguma, às nossas crianças, às crianças de todo o mundo. E ainda que, esta penosa e criminosa realidade, permaneça por todo o mundo no seio de uma minoria, quando se trata de crianças e de idosos, para mim, basta acontecer a um, para que atinja uma grande maioria…

Hoje em dia, felizmente, generalizou-se a ideia de que uma criança deve ser isso mesmo, apenas uma criança! E deve ter tempo para brincar, para estudar e para descobrir o mundo que dança e rodopia à sua volta e que se apresenta a descoberto, pronto para ser explorado e questionado.

As ruas do antigamente, palco de correrias, do jogar “à apanhada” e “às escondidas”, foram substituídas pelas salas virtuais dos jogos das playstations e da Internet.

Os livros, desses, quase já “nem reza a história”! - Na minha, muito modesta, opinião, este é um campo onde todos nós, os pais, os avós, enfim, a sociedade em geral, todos deveríamos investir. Parece que os nossos jovens de hoje julgam que os livros são sinónimo de manuais escolares e, por isso, desenvolveram uma espécie de aversão em relação aos mesmos. Bem sei que há muitos meninos e meninas, que, sonhadores ou não, são apreciadores, fãs mesmo, de uma boa leitura. Eles, bem sabem que os livros, são muito mais do que simples manuais! Transmitem-nos, não só informação, como também nos conduzem ao desenvolvimento da nossa imaginação e da nossa criatividade – aspetos tão importantes, mas tão pouco desenvolvidos no seio das crianças, no seu dia-a-dia, mas tão fundamentais para a cimentação das suas próprias personalidades!

Não quero com esta reflexão dizer que as crianças e os jovens devam ser proibidos de jogar a sua playstation e o seu roblox, não, nada disso! Penso é que deverá ser incluído, no palco da vida dos nossos jovens, algo mais do que tão-somente o mundo virtual!

Impera-se, nos dia de hoje, que a imaginação, e o mundo do fantástico, sejam incutidos no espírito das nossas crianças, permitindo-lhes, assim, o sonhar um mundo melhor. Esse mundo descrito pelo imaginário dos escritores e que urge ser descoberto pela nossa geração futura, pelos Homens do nosso amanhã!

Há que aproveitar todas as oportunidades que hoje em dia estão ao nosso alcance.

Há que aproveitar, aquilo que não foi permitido às nossas gerações passadas, sequer, sonhar!

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