Cultura | 25-08-2019 10:00

A arte da fotografia praticada por amadores que gostam de mostrar o seu trabalho

A arte da fotografia praticada por amadores que gostam de mostrar o seu trabalho

O digital na fotografia veio facilitar de tal modo a captação de imagens que só uma pequena percentagem é que passa para o papel.

Amador é aquele que faz algo por gosto e não por obrigação. Tirar fotografias é uma paixão antiga de muitos cidadãos que não são fotógrafos profissionais. As novas tecnologias já fazem quase tudo mas a escolha de ângulos, enquadramentos e a sensibilidade artística continua a ser o que diferencia quem fotografa. Por outro lado, apesar de nunca se terem feito tantas fotografias, a maioria fica guardada em suportes digitais e quando é vista é nos formatos dos ecrãs de smartphones. O Dia Mundial da Fotografia assinala-se a 19 de Agosto e O MIRANTE foi ao encontro de vários fotógrafos amadores da região.

“Ver em papel as fotografias que estavam guardadas e esquecidas em suportes digitais”

Fotógrafos amadores de Santarém na exposição “Até onde o olhar alcance”

Rita Valério tem 18 anos e é a mais jovem fotógrafa a integrar o grupo de cinco fotógrafos com trabalhos na exposição “Até onde o olhar alcance”, a decorrer no jardim das Portas do Sol, em Santarém, até 21 de Setembro.

Descobriu o gosto pela fotografia aos 10 anos de idade e aos 15 inscreveu-se no curso profissional de Técnicas de Multimédia da Escola Ginestal Machado. Quando nasceu já o digital imperava e nunca utilizou uma máquina analógica. Rita, que expôs alguns trabalhos de fim de curso na Ginestal e posteriormente na Loja do Cidadão, em Santarém, pensa profissionalizar-se.

A profissionalização é também o objectivo de Mário Lavrador, operário fabril de 48 anos, mas os restantes fotógrafos com trabalhos expostos querem continuar como fotógrafos amadores. No entanto, todos assumem que trabalhar em fotografia seria um sonho.

Luís Perdigão, 49 anos, é técnico de informática nos tribunais de Santarém e Susana Esquível, de 45 anos, formada em Biologia, trabalha no controlo de qualidade do arroz Cigala, em Coruche.

Susana, que já teve um trabalho premiado num concurso promovido pelo município de Alter do Chão, diz entre sorrisos que talvez na reforma consiga dedicar-se profissionalmente à fotografia, embora admita, tal como os colegas, que o gosto pela fotografia se deva ao facto de esta ser apenas um passatempo. “Se fosse um trabalho passávamos a encarar a fotografia como obrigação”, explica.

O MIRANTE encontrou o grupo de fotógrafos amadores a 16 de Agosto, três dias antes do Dia Mundial da Fotografia e no primeiro dia da exposição que integra a programação do In.Santarém 2019 - Festival de Artes e Cultura. Só Ana Sousa Simões não esteve presente.

Paulo Semblante Mendes, da In.Focus (projecto de fotografia do programa cultural do município), esteve a cargo da organização e foi o responsável pela escolha dos trabalhos a expor. O bibliotecário na Escola Superior de Saúde de Santarém, formado em História e pós-graduado em Ciências Documentais, é também um apaixonado por fotografia, mas confessa que nunca expôs os seus trabalhos numa exposição individual.

“Uma exposição implica muita dedicação, tempo e apoios… ainda não houve essa oportunidade”, lamenta. “O objectivo aqui é dar a oportunidade a estes excelentes fotógrafos amadores de exporem o seu talento”, lembra o fotógrafo que admite uma predilecção pela fotografia macro.

Numa altura em que a fotografia digital se impõe os fotógrafos amadores têm a vida facilitada, podendo ver o resultado imediato dos seus disparos sem gastar rios de dinheiro em rolos e revelações. Mas aquilo que poderia ser uma vantagem acaba muitas vezes por se traduzir numa desvantagem com as fotografias a ficarem guardadas em suportes digitais. “Exposições como esta, que passam para o papel as imagens apenas vistas em ecrã, são uma boa recompensa”, confessam os fotógrafos, enquanto divertidos observam e criticam, no local, os seus trabalhos e os dos colegas.

Paulo Semblante Mendes recorda que todos são autodidactas e que vão aprendendo uns com os outros. “A Internet também ajuda com os fóruns especializados e os vídeos no Youtube onde se pode aprender tudo, basta ter tempo para os explorar”, remata.

“A minha primeira máquina foi achada na rua em Inglaterra e só tinha fotos de obras”

Manuel Pereira gosta de fotografar todas as festas taurinas da Lezíria do Ribatejo

O fotógrafo amador Manuel Pereira fotografa todas as festas da região onde mora e é normal vê-lo de máquina em punho em Samora Correia, Vila Franca de Xira, Coruche ou Salvaterra de Magos.

Natural de Samora Correia, com 72 anos e reformado, a fotografia é o seu passatempo de eleição. Quando chega a Agosto marca na agenda os cinco dias das festas de Samora Correia, em honra de Nossa Senhora de Guadalupe e Nossa Senhora da Oliveira. É o primeiro a chegar e o último a sair das festas.

De saco a tiracolo e máquina ao pescoço, capta todos os momentos das festividades, desde procissões, desfiles e esperas de toiros, que são o seu momento de eleição. Junto às tronqueiras que protegem os espectadores dos toiros, no Largo do Calvário, já tem lugar cativo, numa cadeira fixada às tábuas, onde se senta e espera pacientemente, para captar as melhores imagens.

“Não saio dali de cima enquanto aquilo dura. A adrenalina não me permite abandonar o posto. É viciante ficar a disparar até conseguir a foto perfeita”, confessa a O MIRANTE, acrescentando que chega a tirar mais de um milhar de fotos numa tarde.

Manuel Pereira começou a fotografar em Inglaterra, onde esteve emigrado 35 anos, depois de uma máquina lhe ir parar às mãos de forma caricata. Era noite cerrada quando ia na rua e tropeçou numa pequena máquina fotográfica perdida no passeio. Ainda ponderou entregá-la na esquadra da polícia local, mas a curiosidade de ver o que aquela lente tinha captado foi mais forte. “Levei-a para casa e verifiquei o cartão. Eram só fotos de obras”, lembra. Foi com ela que deu os primeiros disparos e que nasceu a sua paixão pela fotografia.

Não se considera um fotógrafo e nunca teve intenção de se profissionalizar. “Fotografo por paixão, não para fazer dinheiro”, afirma e dá prova disso: “Gosto de fotografar campinos, por exemplo e quando gosto de uma foto mando-a revelar e ofereço-a ao retratado”.

Guarda quase todas as fotos porque não consegue desfazer-se delas. Por causa disso já perdeu a conta aos CD e discos externos onde as armazena. Oferece fotos, muitas para publicação em blogues de tauromaquia e coloca-lhes sempre marca de água com a sua assinatura por uma questão de orgulho. Conta que este ano ficou muito feliz por ver uma das suas fotografias num cartaz de uma corrida de toiros nas Caldas da Rainha.

Na sua perspectiva a fotografia não é arte exclusiva de profissionais, embora seja conveniente ter algum conhecimento do que se está a fazer com uma máquina nas mãos. O problema, segundo refere, é que hoje um bom smartphone faz o trabalho sozinho, levando a que os fotógrafos profissionais, que vivem da fotografia, deixem de ter o lucro de outros tempos.

Manuel Pereira trabalhou na indústria hoteleira e na panificação até se reformar e regressar a Portugal. O seu pai foi campino e ele próprio chegou a guardar gado em criança. Habituado aos toiros e cavalos, gosta de ir para o campo fotografá-los, para além de os “captar” nas festas.

“Coloco as fotografias nas redes sociais e podem ser partilhadas por quem quiser”

Carlos Piedade Silva não se considera um fotógrafo mas um captador de imagens

Carlos Piedade Silva, 69 anos, não se considera um fotógrafo amador mas sim um captador de imagens. Anda quase sempre com a máquina fotográfica a tiracolo e imortaliza imagens sempre que lhe apetece. Olha para uma paisagem ou algo que considera bonito e carrega no botão. Partilha as suas fotos nas redes sociais e nenhuma tem marca de água que assinala a autoria.

“As minhas fotografias são para toda a gente usufruir e por isso publico-as nas minhas redes sociais. Podem ser partilhadas por quem quiser. Há muitos emigrantes do concelho de Tomar que não vêm cá há muito tempo, e que quando veem uma foto com uma imagem do concelho, comentam que parece um postal e partilham-na. Gosto que as pessoas apreciem as fotografias e as partilhem. Ao gostarem das minhas fotos estão a gostar da minha paixão”, explica a O MIRANTE.

O antigo funcionário das Finanças diz que a paixão pela fotografia começou aos 16 anos. Comprou a sua primeira máquina e começou a registar imagens em película. Durante a sua vida teve várias máquinas que ainda guarda em casa. Refere que para além da qualidade das máquinas é importante a qualidade das objectivas.

A primeira fotografia que se lembra de ter tirado foi durante uma Festa dos Tabuleiros em Tomar, a preto e branco. Ainda a tem guardada. “A arte da fotografia está nos olhos de quem capta o momento e não na máquina. A arte está em frente da objectiva. Só temos que escolher o melhor ângulo. A foto é como uma poesia ou uma música, faz com que as pessoas se inspirem”, afirma.

Quando começou a trabalhar deixou de ter tempo para se dedicar ao seu passatempo mas nos tempos livres, como pertencia à direcção do União de Tomar, assistia a todos os jogos de futebol e fotografava-os. Nessa altura, o clube tinha uma revista quinzenal e a maioria das imagens publicadas eram de sua autoria.

Reformou-se há nove anos e desde essa altura que se dedica mais tempo à sua paixão. Nas festas de família e de amigos costuma ser o fotógrafo oficial. “Gosto muito de revelar fotos que considero bonitas e oferecer aos meus amigos e família. Não faz sentido as fotografias ficarem num álbum guardadas dentro de uma gaveta só para serem vistas em momentos especiais. Prefiro oferecer ou publicar para todos verem”, confessa.

Já participou em várias exposições, nomeadamente no Convento de Cristo, no Complexo da Levada ou na Casa do Concelho de Tomar, em Lisboa. Também ganhou algumas menções honrosas, o que admite ser motivo de orgulho. Carlos Silva nunca pensou profissionalizar-se. “Gosto de pegar na máquina, a qualquer hora. Dá-me prazer tirar a foto sem compromissos”, sublinha. Ainda hoje faz fotos a preto e branco por considerar que algumas ficam mais bonitas. Não tirou nenhum curso de fotografia. Faz tudo por intuição.

“Quando fui autarca, em vez de fotografar, era fotografado”

Carlos Piedade Silva nasceu a 11 de Março de 1950 em Tomar. Tem dois filhos e três netos. Entre 1994 e 1998 foi presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria. Em 2005 foi candidato à presidência da Câmara Municipal de Tomar pelo Partido Socialista mas perdeu as eleições para o social-democrata António Paiva.

Há cerca de um ano desvinculou-se do partido. “Tenho amigos em todos os partidos e prefiro estar desvinculado da política. Quando precisarem de mim estou presente. Entendo que sou mais útil assim”, afirma, garantindo que continua a acompanhar a actividade política no seu concelho e no país.

Esteve ligado ao União de Tomar durante cerca de uma década. Actualmente, faz parte dos órgãos sociais do Sporting de Tomar, da Cáritas de Tomar e da organização da Gala Equestre que todos os anos se realiza na cidade. Também integrou o grupo de teatro Fatias de Cá. Recorda que nos tempos de autarca não tinha tempo para tirar fotografias. “Aí era mais fotografado mas prefiro estar atrás da máquina”, sublinha.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1661
    24-04-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo