Cultura | 20-10-2019 10:00

Um somatório de boas vontades para tirar os jovens dos maus caminhos

Um somatório de boas vontades para tirar os jovens dos maus caminhos
ASSOCIAÇÃO

Associação de Vialonga tem feito a diferença no bairro Nascente do Cabo.

Associação de Apoio Social, Cultural e Recreativo de Vialonga é um farol de solidariedade na zona do bairro Nascente do Cabo, oferecendo respostas à comunidade como o desporto, apoio ao estudo e psicologia. Objectivo dos dirigentes é a partir de 2020 transformar a colectividade numa Instituição Particular de Solidariedade Social.

A Associação de Apoio Social, Cultural e Recreativo de Vialonga (AACRV) é um farol de esperança no bairro Nascente do Cabo, que abriu portas há seis anos para servir a comunidade e ajudar os mais pequenos a sair dos maus caminhos e da delinquência.

Está sediada numa zona que sofre há anos de um estigmatizante preconceito social. É uma “zona perdida” em Vialonga, como lamentam os dirigentes da colectividade. Um local onde só vai quem precisa e onde até os políticos em campanha eleitoral dão a volta para trás antes de lá chegarem.

Três jovens moradores do bairro – Jorge Becker e o irmão Sandro, juntamente com João Setas – juntaram-se há seis anos para criar uma colectividade que oferecesse o que mais ninguém arriscava fazer na zona: ocupação de tempos livres, apoio ao estudo para os mais pequenos e actividades desportivas para aquela comunidade. Seis anos depois a associação não tem parado de crescer e já aspira tornar-se, em 2020, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) para reforçar o apoio dado à comunidade.

“Crescemos no que era, na altura, um bairro social e demos conta que havia muitos jovens da nossa idade que se perderam na vida, na droga, que acabaram presos. Gente de muita qualidade e talento que nunca encontrou um caminho. Tivemos a sorte de crescer em famílias estruturadas e evitámos esses caminhos. Quisemos mudar isso e apoiar a nossa gente”, explica Jorge Becker, um dos fundadores e actual presidente da direcção da colectividade.

As coisas melhoraram na última década, há mais moradores e mais segurança, mas as chagas do passado ainda não curaram totalmente. “A miséria que muita gente tem dentro de casa ainda existe mas não é tão aparente. As pessoas são mais reservadas hoje em dia”, lamentam.

Ninguém fica para trás

É passo a passo, dia-a-dia, que a associação vai fazendo a diferença entre quem ali vive, oferecendo apoio psicossocial com consultas de terapia da fala, apoio psicológico, psicomotricidade e terapia ocupacional. Os mais novos têm acesso a um centro de estudos e explicações. Ninguém fica para trás, ao mesmo tempo que há uma porta aberta para actividades desportivas: kenpo, karaté, taekwondo e bailong ball. Alguns atletas de topo do taekwondo e muay thai nacional, como Malik Tavares ou Adelino Boa Morte, deram ali os seus primeiros passos até serem captados para outros clubes.

“Quisemos dar algo à nossa comunidade, fazer a diferença e muita gente ajudou-nos, com o seu tempo e o seu dinheiro. Esta casa é um somatório de boas vontades”, reconhecem os dirigentes. O único apoio financeiro que recebem é da Câmara de Vila Franca de Xira, através do Programa de Apoio ao Movimento Associativo. “Foi fantástico, através dele conseguimos recuperar o nosso pavilhão que estava muito degradado”, contam. O dinheiro que precisam para financiar o dia-a-dia vem do aluguer do pavilhão para a realização de festas para os mais pequenos.

O sonho dos dirigentes é continuar a fazer crescer a associação, reforçando os protocolos já existentes com escolas e outras associações do concelho, não apenas visando a sua transformação em IPSS mas também para reforçar o apoio dado à comunidade. “O objectivo principal é sempre conseguir tirar os mais novos dos maus caminhos e dar-lhes aqui um lugar e uma oportunidade para serem melhores e conseguirem ter um bom futuro independentemente de onde sejam criados”, referem os dirigentes.

“Ir ao psicólogo não é ser maluco”

Uma das valências que mais tem crescido na associação é o apoio psicossocial, que tem em Catarina Azevedo uma das suas principais dinamizadoras e que permite a toda a comunidade obter uma ajuda diferenciadora. Infelizmente, dizem os dirigentes, ainda há muito preconceito dos pais face aos psicólogos, o que faz com que crianças que precisam de ajuda fiquem sem essa oferta.

“Era bom que as pessoas entendessem que ir ao psicólogo não é ser maluco. Há miúdos que precisam muito de vir mas não chegam até nós porque os pais ainda têm esse preconceito. Não param sossegados, têm distúrbios de atenção ou falta de motivação. Esse é um dos motivos pelo qual não conseguimos chegar a mais gente. E ainda há muita gente aqui à volta que não sabe o que fazemos”, explica Sandro Becker.

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