Editora “volta d’ mar”: dez anos de poesia

Mário Galego, o jornalista que também é poeta, é responsável por esta editora de pequenos livros que tem uma ligação à Nazaré e à biblioteca local; uma aventura com livros pelo meio contada aqui pelo editor que acaba de publicar um livro de Fátima F. Roldão.
Como se de uma brincadeira se tratasse, dois amigos que partilhavam o gosto pelas edições artesanais, colocadas sempre do lado marginal das literaturas e outras academias que pouco lhes interessava, decidiram fazer uma editora. Tão pequena quanto pequeno é o reduto editorial e livreiro da Nazaré. Aqui nasceu a ideia non nova sed nove, em 1991.
Publicaram-se diversas revistazine – um misto entre revista artesanal e fanzine – com autores da Nazaré e outros que iam chegando, livros de prosa, teatro e poesia, tal como se pode observar em emdeliriohavinteanos.blogspot.pt. Aventura que terminou em 1998, mas que ressuscitou uma ou outra vez. Tinha sido a única editora da praia.
Os dois editores (mais amigos do que editores preocupados) Luís Paulo Meireles e Mário Galego, continuaram a partilhar o gosto insubmisso pelas pequenas edições marginais, irrequietos com a poesia que escreviam e partilhavam com outros amigos e autores. No Verão de 2011, um deles desafia o outro a publicar um livro e com isso a nasceu uma nova editora: volta d’ mar. Nome da praia, agarrado ao mar que a viu nascer, pretendendo ser de facto uma pequena onda que soubesse surpreender. Em Setembro de 2011, foi publicado Hibernu, livro de poemas de Luís Paulo Meireles, com desenhos do autor, capa e nota sobre o autor de Wellitania Oliveira, edição numerada e assinada. Estava dado o primeiro lance. A partir daqui, não mais parou.
A editora cresceu com um alinhamento editorial comprometido com a poesia em português e alimenta-se de colaborações artísticas, quer para as capas dos livros, quer para as ilustrações dos poemas. Tem publicado diversos autores: Amadeu Baptista, Manuel de Freitas, Inês Dias, Henrique Manuel Bento Fialho, Rui Almeida, Sandra Costa, Carlos Alberto Machado, Jorge Vicente, entre outros, assim como o autor nazareno Jaime Rocha que publicou dois livros em que a praia surge como cenário poético. Ilustradores como Luis Manuel Gaspar, Fátima Rolo Duarte ou o nazareno Alexandre Esgaio, fotografia de Maria Olívia Santos ou pintura de Manuel Passinhas. Tem o apoio imprescindível da designer Inês Ramos para a composição das capas dos livros.
A volta d’ mar não tem um estatuto editorial, mas tem definidas as regras com que surge no mercado: um projecto sem fins lucrativos, o produto da venda de uma edição paga a próxima. Enquanto a poesia se vender em livro, haverá editora. Quando não se vender, não haverá novas edições. Os livros não estão disponíveis nas grandes livrarias ou superfícies comerciais, mas sim, nos lugares onde se ouvem poemas, onde se vendem livros de poesia e na internet. Assume a independência como razão para existir. E publicam-se os livros que se gostam.
Em redor da editora surgiram amigos. Nem poucos, nem muitos. O suficiente para, uma vez por ano, encher um pequeno restaurante da Nazaré, onde se saboreia uma massa de sargo ao mesmo tempo que se vão lendo poemas, ou discursando e ralhando uns com os outros – porque o bom hábito da maledicência mantém viva a língua, tal como é natural na praia. Os amigos juntam-se, depois do Verão. E escrevem poemas nas toalhas de mesa, mesmo que sujas do vinho que se entorna, mesmo que cheire a peixe. Todos os anos esses manuscritos são publicados na revista toalha de mesa.
Apesar de não ter morada física, de agora ter apenas um editor, a volta d’ mar tem um lugar de acolhimento, de parceria ou de simples partilha: a Biblioteca da Nazaré. Costumamos dizer que volta d’ mar e Biblioteca são primas. Ali se fazem lançamentos de livros, recitais, festas. É uma espécie de família em que se deposita o gosto pela poesia, pela leitura e, sobretudo, pela inquietação.
A editora está presente nas redes sociais (Facebook e Instagram) e tem a história toda na página voltadmar.tumblr.com
