Um assassinato, portas secretas e conspirações: os mistérios do Palácio do Sobralinho
A Inestética Companhia Teatral está a levar os visitantes numa viagem multisensorial pelas memórias e mistérios do Palácio do Sobralinho. É uma peça que envolve visita guiada, acção encenada, entrevistas a quem viveu no palácio e jantar com menu da época. O MIRANTE acompanhou o ensaio geral.
Ouvem-se gritos pelos corredores do Palácio do Sobralinho que não auguram nada de bom. “Não ouviram?”, pergunta a governanta, assustada, do alto de um dos torreões do palácio, frente a uma lareira mal iluminada. Há mistério no ar.
Assim começa uma visita invulgar às memórias, fantasmas e histórias de quem habitou no passado o palácio que é hoje propriedade do município de Vila Franca de Xira e casa da companhia teatral Inestética. “Naturezas Vivas”, de Cristina Rodrigues Pereira, é um evento que funde arte, cozinha e história e que conta com a actriz-guia Susy Santos. O objectivo da peça é recriar momentos da história do palácio e evocar as memórias vividas dentro das paredes do edifício ao longo de quatro séculos, pela voz das governantas que foram sempre assistindo à metamorfose dos tempos.
“Naturezas Vivas” foi pensada e construída ao longo de vários anos e envolveu um profundo trabalho de pesquisa em parceria com o município. Além do itinerário pelas histórias do palácio o evento inclui um jantar com o menu da época. Cristina Rodrigues Pereira, uma das fundadoras da Inestética, conta a O MIRANTE a génese de uma peça que traz à tona intrigas, mistérios, conspirações e crimes que se viveram naquele palácio. “O palácio está despido de recheio e de decoração e foi daí que surgiu a ideia: encenar uma peça muito ligada às memórias que ficaram nas paredes. Entrevistámos quatro pessoas que aqui viveram e a ideia é revisitar essas histórias”, conta.
A ideia é mergulhar o visitante nos vários mistérios que o palácio encerra, ainda que não os tente resolver, cabendo ao espectador decidir o final de cada história. Nesta viagem do tempo não falta a famosa porta falsa de Salazar na biblioteca do edifício e de como as luzes da aldeia se apagavam sempre que o líder do antigo regime vinha jantar ao Sobralinho.
Mas há episódios mais negros: o misterioso cadáver de uma rapariga descoberto nos jardins do palácio depois de uma noite de gritos ou o misterioso incêndio que devastou o edifício na década de 1940.
O evento, aberto a maiores de 12 anos, estreou no fim-de-semana de 19 e 20 de Março e prossegue nos dias 25, 26 e 27 de Março, sexta-feira às 20h00 e sábados e domingos às 18h00. Os bilhetes podem ser adquiridos no site da companhia teatral.
Morada de aristocratas habitada até 1987
A quinta onde está o palácio foi fundada no século XVII pelos condes de Vila Flor e pertenceu à mesma família durante gerações até meados de 1860. Daí passou para o conde de Sagres e em 1919 é quando o sogro do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e embaixador de Portugal em Londres, Armindo de Sttau Monteiro, compra a quinta para viver. Na década de 1940 o embaixador utiliza a casa com a mulher. Mais tarde passa para as mãos da família Espírito Santo que a recupera do incêndio. Foi habitada até 1987, a última vez pela mão de um casal belga que a queria transformar em hotel de charme, sem sucesso. Em 1993, depois de vários anos na posse da banca, a câmara municipal compra a quinta e o palácio. Há uma década que é a sede da Inestética.